sábado, 31 de julho de 2010

O fim das retenções I


Afirma a senhora Ministra da Educação, em entrevista ao semanário Expresso, que "[o método da retenção] não tem contribuído para a qualidade do sistema. (…) A alternativa é ter outras formas de apoio, que devem ser potenciadas para ajudar os que têm um ritmo diferenciado." E acrescenta que tenciona alterar as regras de avaliação durante o seu mandato, apesar de pretender um consenso e um debate alargado na comunidade educativa.

No fim da notícia refere-se que as estimativas apontam para um gasto de 600 milhões de euros por ano com as retenções no ensino em Portugal. Para bom entendedor meia palavra basta: a medida tem um objectivo de eficiência económica.

Ora vamos lá começar o debate:


Luís, Portugal. 31.07.2010 16:16
Acabaram as reprovações. Acho bem, mas...
Eu acho bem que toda a gente deve passar de ano e assim acabar com as reprovações. No final de cada ciclo seria entregue ao aluno um diploma com a média do curso. Teríamos assim alunos que acabavam, por exemplo, o 12º ano com média de 6, outros com média de 8, outros com média de 15, outros com média de 17, etc. Depois, no mercado de trabalho, seria feita a pergunta obrigatória. "Qual é a média do curso?" As conclusões para o empregador seriam óbvias! Não é isto que querem? Analfabetos de diploma na mão, mas a média não engana!
Rocha, Coimbra. 31.07.2010
RE: Acabaram as reprovações. Acho bem, mas...
Meu caro, não seja ingénuo, o passo seguinte é manipular a qualidade do sucesso.
Sousa da Ponte, UK. 01.08.2010
RE: RE: Acabaram as reprovações. Acho bem, mas...
Ingénuo é o Rocha, Coimbra. O que Luís, Portugal descreve é aproximadamente o que acontece com países onde não há chumbo (ex. UK). Os alunos não chumbam mas os conteúdos ensinados variam em função do sucesso do aluno, com turmas diferenciadas em função do nível dos alunos. (pode chamar-lhe segregação social na escola). No fim da escolaridade obrigatória os níveis vão de A*, A, B ou C (os melhores) até G, H ou I (não me lembro bem). Para os piores casos de insucesso há o N (quer dizer que os valores são tão baixos que não foi atribuída nota). Os alunos podem não chumbar, mas essas marcas marcam-nos para toda a vida. Comparado com os chumbos portugueses esse sistema sem chumbos é mais cínico e hipócrita.

Anónimo, porto. 31.07.2010 16:21
O País das idiotices
Será que de repente este País passou a ser o país dos idiotas? Será que o bom senso desapareceu? Fazer isto é muito bom para quem não gosta de trabalhar, quer sejam alunos ou professores. Se a associação de pais está de acordo é tão inconsciente como quem se lembrou de uma burrice destas. Qualquer dia nem vale a pena ir à escola, os alunos matriculam-se e sabem que podem dormir descansados pois no fim do ano aparecerá na pauta aprovado.
Anónimo, Portugal. 31.07.2010
RE: O País das idiotices
Há muitos anos que não se chumba em Portugal. E não é só do primeiro para o segundo ano. A generalidade das pessoas não sabe ao que chegou o ensino em Portugal. Sabia que em 1993 entraram, no Instituto Superior Técnico de Lisboa, 35 alunos com 0 (zero) a Matemática? E que foi o ministro Marçal Grilo, no 1º governo do eng. Guterres, que impôs o 10 como nota mínima para entrar na Universidade? Antes entrava-se no Técnico com 6. E nas ESE's ainda com menos. Como vê o problema é velho.

Luís Câmara Leme, Corroios. 31.07.2010 16:40
O eterno problema
Só posso estar de acordo com esta medida, desde que a Escola passe a dar igual tratamento a todos os alunos. Por outras palavras, o apoio deve ser dado aos alunos que mais precisam de acompanhamento diário, mas não podem esquecer os alunos que demonstram mais capacidades, de forma a potenciar-lhes essas mesmas potencialidades. Só assim haverá uma melhoria acentuada na qualidade do ensino em Portugal. A Ministra já fala em alterar a avaliação. Temo que se caminhe, invariavelmente, para o facilitismo. Seria mais uma machadada no futuro de Portugal e dos portugueses.
Francisco, Coimbra. 31.07.2010
RE: O eterno problema
Neste momento, no ensino básico, só chumba quem não faz absolutamente nada. Esta medida parte do principio de que os alunos que chumbam são esforçados e que chumbam por falta de capacidade/ajuda. Porém esta premissa é completamente errada, 99% dos alunos que chumbam não sabem o que significa estudar, estar com atenção nas aulas, etc. Caro Luís, acha que se tivermos que apoiar ainda mais alunos que não fazem rigorosamente nada e que ainda por cima prejudicam gravemente as aulas, teremos tempo para nos preocuparmos com os bons alunos? 60% do tempo lectivo dos professores é desperdiçado com alunos que não querem saber nada de nada.

Francisco Silva, Beja. 31.07.2010 18:44
Uma Aventura na Educação: Episódio 10 'Finlândia'
É verdade que os alunos que reprovam perdem a auto-estima e, em regra, as suas prestações escolares em anos posteriores voltam a decair bastante. Também é verdade que alunos que transitam de ano mal preparados acabam por fracassar pouco tempo depois e com estrondo. O problema existe.
No entanto, a solução não pode ser o facilitismo e a motivação para a sua resolução não deve ser nunca a boa prestação estatística. A senhora ministra devia sabê-lo.
Por outro lado, não nos faz adivinhar nada de bom o facto de o Ministério da Educação ter abandonado o PISA, o facto de haver uma confederação de pais que fala sempre com a voz do governo e que é sempre da cor de quem governa e que ninguém sabe como é que é eleita, o facto de haver na 24 de Julho e na 5 de Outubro toda uma 'entourage' de pedagogos (o nosso país em termos de nº de pedagogos é cá uma potência...) que ninguém responsabiliza, o facto de os partidos políticos falarem da Educação de uma forma superficial e populista.
Enfim! A Educação deveria ser um dos pilares da nossa Democracia, os democratas do pós-25/A transformaram a Educação numa aventura: Uma Aventura na Educação.

Anónimo, Portugal. 31.07.2010
RE: Uma Aventura na Educação: Episódio 10 'Finlândia’
O Sr. Silva já reparou no currículo da Sra. ministra? Desde o 25 de Abril trabalhou ou no ministério da educação ou numa escola superior de educação. O que é que se pode esperar de um ministro com esta preparação?

joão pereira, Lisboa. 31.07.2010 23:29
Política
Claro que para os pais esta é uma óptima medida. Afinal agora já não era preciso encerrar a Independente, era uma «Universidade» com todas as condições para formar «doutores» sem estudar e sem chumbos. Estes políticos do pós-25 de Abril de 74 estragaram o ensino, estragaram a classe média. Esta é a democracia do safe-se quem poder. Atenção que com esta afirmação não quero dizer que no antes do 25 de Abril era bom, pelo contrário, era uma ditadura cheia de bandidos da PIDE, eu sei o que digo, ao contrário de muitos democratas de aviário, pois fui lixado por esse banditismo, mas o ensino era bom. Hoje o ensino é o que se vê. Todos passam ninguém chumba? Óptimo, começou o circo, ou melhor dizendo, o circo continua.

Kinhomeister. 31.07.2010 22:30
Via Twitter
Não é assim
Acabar pura e simplesmente com os chumbos não é, de todo, uma solução. A solução passa por reestruturar o sistema educativo.
Acabar com as disciplinas que não interessam, tipo estudo acompanhado, que não é mais que fazer jogos na sala de aula, ou área de projecto. Os alunos deveriam ter Formação Cívica a sério, inclusive com palestras por parte das forças de segurança, para terem uma noção do que se passa lá fora. Apoiar os alunos com mais dificuldades, com tutoria, com sessões de estudo acompanhado, mas sério, na escola.
Encaminhem os alunos que não terão grande futuro académico para cursos profissionais válidos, de forma a termos profissionais competentes nas mais várias áreas. O país precisa de bons mecânicos, electricistas, etc., não só de "Doutores" e "Engenheiros".
Coloquem bons professores nas escolas. Com bons professores e boas condições de aprendizagem e de estudo para os alunos, os chumbos reduzem-se ou desaparecem sem terem que ser eliminados por imposição do Ministério e deste acidente que demonstra ser a ministra da Educação.


As metas de aprendizagem do ME


As metas de aprendizagem que os alunos do ensino básico devem atingir no final de cada ciclo serão divulgadas em Setembro, anunciou, em conferência de imprensa, a ministra da Educação, Isabel Alçada.
São "um instrumento de utilização voluntária" com o objectivo de fornecer aos professores, pais e alunos um referencial sobre as aprendizagens que são consideradas essenciais em cada nível de ensino.

As metas foram definidas por equipas de peritos contratados pelo Ministério da Educação, de cujo trabalho resultou um conjunto de nove documentos correspondendo a cada uma das disciplinas ou áreas disciplinares do ensino básico.
Estão agora a ser recolhidas as opiniões das associações de professores e sociedades científicas, um processo que deverá estar concluído até Setembro.
A Sociedade Portuguesa de Matemática já divulgou no início do mês um parecer onde se afirma que o documento respeitante a esta disciplina "tem limitações muito graves" e "não nos parecer que possa sequer constituir um elemento de partida para a elaboração das metas".

Ontem, o Ministério disponibilizou uma meta de Matemática: "usar o sistema de numeração decimal, incluindo o valor posicional de um algarismo". Fantástico! Estas sumidades acabam de enunciar uma meta que todos os docentes têm em mente quando elaboram as suas preparações de aulas.
Há programas no ensino básico, não há? Os bons professores sabem muito bem quais os conteúdos programáticos que são essenciais.

E se as metas de aprendizagem não resultarem, o que fará o ME? Duplica o número de elementos da equipa de “peritos” que ficarão mais um par de anos a elaborar mais uma dezena de documentos.
Que desperdício criar equipas com o objectivo de arranjar pluriemprego para boys e girls do partido no poder.
Há 36 anos que andamos nestas artimanhas e a situação vai manter-se até os professores repetirem o que fizeram a respeito do ECD, i.e. descerem a avenida da Liberdade exigindo o fim do facilitismo e da indisciplina.
Mas a exigência também terá de se estender aos próprios docentes obviamente. Pergunto: se houvesse exigência todos os docentes que entraram para os quadros após o 25 Abril estariam na carreira?

Comenta uma colega: "Só fazemos papéis e não temos tempo para ensinar nem preparar as aulas como deve ser". É absolutamente verdade. Mas não vejo 120 000 docentes a reivindicar que a burocracia seja substituída por avaliação de aulas por docentes universitários da área de leccionação (não por peritos do "Eduquês", obviamente).

sexta-feira, 30 de julho de 2010

quinta-feira, 29 de julho de 2010

A Nebulosa de Carina — a estrela WR 22


Nova imagem espectacular criada a partir de imagens obtidas, através de filtros vermelhos, verdes e azuis, com a câmara Wide Field Imager do telescópio MPG / ESO de 2,2 m do observatório La Silla, no Chile, e publicada hoje pelo ESO.
Mostra a brilhante e invulgar estrela WR 22 (no centro), que se encontra na parte exterior da dramática Nebulosa de Carina a partir da qual se formou, e a sua colorida vizinhança.



As estrelas maciças vivem rapidamente e morrem jovens. Alguns destes faróis estelares emitem radiação tão intensa, através de sua espessa atmosfera, no final da vida, que derramam matéria no espaço a uma taxa milhões de vezes maior que a das estrelas relativamente calmas como o Sol.
Estes objectos raros, muito quentes e maciços são conhecidos como estrelas Wolf-Rayet, a partir dos nomes dos dois astrónomos franceses que as identificaram em meados do século XIX.

Uma das estrelas mais maciças descobertas até agora chama-se WR 22, pertence a um sistema de estrelas duplas e a sua massa é, pelo menos, 70 vezes maior que a do Sol.
A estrela WR 22 está na constelação Quilha, no hemisfério celeste sul (a quilha do navio Argo de Jasão na mitologia grega). Apesar de a estrela se encontrar a mais de 5000 anos-luz da Terra é tão brilhante que pode ser vista a olho nu, sob boas condições de visibilidade.

É uma das muitas estrelas excepcionalmente brilhantes associadas à bela Nebulosa de Carina e a parte exterior desta vasta região de formação de estrelas, a sul da Via Láctea, é o fundo colorido desta imagem.
As cores subtis da rica tapeçaria de fundo resultam da interacção da intensa radiação ultravioleta emitida por estrelas quentes e maciças, incluindo a WR 22, com as imensas nuvens de gás, principalmente hidrogénio, a partir da qual se formaram.
A parte central deste enorme complexo de gás e poeira, onde se encontra a notável estrela Eta Carinae, está fora desta imagem mas pode ser vista na imagem abaixo:


Esta visão panorâmica da Nebulosa de Carina combina a nova imagem do campo em torno da estrela WR 22 (à direita) com a imagem anterior da região em torno da estrela Eta Carinae, no coração da nebulosa (à esquerda).

quarta-feira, 28 de julho de 2010

A Nebulosa de Carina — a estrela Eta Carinae


Esta imagem revela detalhes surpreendentes de uma das maiores e mais brilhantes nebulosas do céu, a Nebulosa de Carina (NGC 3372), onde ventos fortes e poderosas radiações emitidos por uma armada de estrelas maciças estão a criar o caos na enorme nuvem de gás e poeira a partir do qual nasceram as estrelas.
Foi produzida compondo imagens obtidas, através de seis filtros diferentes, pela câmara Wide Field Imager (WFI), ligada ao telescópio MPG / ESO (Max Planck Institute, ou Max Planck Gesellschaft em alemão / European Southern Observatory) do obervatório La Silla do ESO, no Chile, e publicada em Fevereiro de 2009.



A Nebulosa de Carina fica a cerca de 7500 anos-luz de distância, na constelação Quilha (latim Carina). Abrangendo cerca de 100 anos-luz, é quatro vezes maior do que a famosa Nebulosa de Orion e muito mais brilhante.
É uma região de intensa formação de estrelas com faixas escuras de poeira fria a manchar o gás brilhante da nebulosa que rodeia os numerosos agrupamentos de estrelas (em cima, à direita vê-se o Trumpler 14 e em baixo, à esquerda, o Collinder 228).
O seu brilho deve-se, principalmente, ao hidrogénio aquecido pela radiação intensa emitida pelas descomunais estrelas bebé. Quando a radiação ultravioleta interage com o hidrogénio produz-se radiação de cor vermelha e púrpura característica.
Contém mais de uma dezena de estrelas com, pelo menos, 50 a 100 vezes a massa do nosso Sol. Essas estrelas têm um tempo de vida muito curto, alguns milhões de anos, no máximo, um piscar de olhos se compararmos com os dez milhares de milhões de anos de tempo de vida do Sol.

Uma das mais impressionantes estrelas do Universo, a Eta Carinae, encontra-se nesta nebulosa (em baixo, à esquerda). É uma das estrelas mais maciças da nossa Via Láctea, acima de 100 vezes a massa do Sol e aproximadamente quatro milhões de vezes mais brilhante, sendo a estrela mais luminosa que se conhece.
Eta Carinae é altamente instável e propensa a explosões violentas, nomeadamente o falso evento super nova de 1842. Em apenas poucos anos, tornou-se a segunda estrela mais brilhante do céu nocturno e produziu quase tanta luz visível como uma explosão de super nova (a agonia usual de uma estrela maciça), mas sobreviveu.
É uma estrela binária: tem uma companheira que orbita em torno dela numa órbita elíptica, com um período de 5,5 anos. Ambas as estrelas produzem ventos fortes, que chocam, provocando fenómenos interessantes. Em meados de Janeiro de 2009, a companheira encontrava-se o mais próximo possível de Eta Carinae. Este evento, que pode fornecer uma visão única sobre a estrutura do vento das estrelas maciças, foi seguido por uma flotilha de instrumentos de vários telescópios do ESO.


Este mapa celeste mostra a localização da Nebulosa de Carina na constelação Quilha (é o quadrado verde no círculo vermelho à esquerda). Como é muito brilhante pode observar-se com pequenos telescópios e até a olho nu.

A destruição do ensino técnico profissional II


É com tristeza que se nota a ausência de cidadãos a comentar uma notícia onde mestre Américo Henriques, um especialista em relojoaria, alerta para a falta de qualidade do ensino técnico profissional, um tipo de ensino essencial, pois tem como objectivo a formação de técnicos intermédios qualificados que são indispensáveis para o crescimento da economia do país.
Mais uma vez fica claro que, se os políticos medíocres só defendem os seus interesses mesquinhos e nada se preocupam com o interesse do país, parece que a generalidade dos portugueses e o professorado, em particular, se regem pela mesma cartilha.
A única esperança é que entre a escassa meia dúzia de comentários, que uma notícia tão grave para a economia nacional suscitou, surge um de elevado nível que registamos:


Fernando Mora Ramos, Restelo/Lisboa. 28.07.2010 15:27
Mestre Américo


Felizmente nem todos neste país se passaram para o lado do conformismo e se venderam a interesses manipuladores. As declarações deste cidadão, cidadão por coragem cívica, lúcidas como são, deveriam provocar um sobressalto ético nos que nos governam e no próprio Presidente.
Quando da lógica de separação de poderes não resultam decisões justas e informadas, é porque ela não existe e, nos bastidores, poderes ocultos se sobrepõem aos democráticos. É o que estas declarações vêm de novo explicitar.
Infelizmente é uma voz a clamar no deserto, deserto que a bagunça portuguesa fertiliza. Quanto mais contradições informativas e ideológicas menos possível é escrutinar a verdade, são os tais muros, muros erguidos. E clamar no deserto acontece aos justos no meio de tanto imbróglio armado e da submissão dos poderes legais aos poderes fácticos.
Democracia? Qual? A da injustiça, a do compadrio, a da ignomínia, a dos poderosos donos dos meios mediáticos e da estratégia constante de simulação das condições de existência da própria democracia? Apesar de tudo a palavra do cidadão Américo é, no meio desta trampa geral, uma esperança e prova de que nem todos se venderam.


A destruição do ensino técnico profissional I


Américo Henriques, o casapiano que se tornou mestre de relojoaria e durante anos denunciou os abusos do ex-motorista Carlos Silvino sobre as crianças da instituição, já não trabalha na Casa Pia. Reformou-se.

"Um dos maiores baluartes da Casa Pia – que era o seu ensino técnico profissional – foi arrasado", disse, em entrevista à agência Lusa, mestre Américo Henriques, durante décadas responsável pelo ensino da relojoaria no Colégio Pina Manique, em Lisboa.
Esta especialidade foi uma das mais reconhecidas e os seus formandos constantemente solicitados por grandes empresas estrangeiras, sobretudo suíças.

A mudança chegou após o escândalo de pedofilia na Casa Pia. "Ao abdicar de uma portaria própria que regulamentava os seus cursos, e ao seguir um modelo do Ministério da Educação, a Casa Pia nivelou os seus cursos – que eram reconhecidamente melhores que a grande maioria dos cursos que se ministram neste país – por baixo", acrescentou.
Actualmente a Casa Pia segue o modelo geral (Decreto-lei 74/2004) que, para o mestre Américo, é "um plano de estudos muito incipiente, do ponto de vista da valia das competências técnicas e profissionais, que os alunos da Casa Pia podiam antes adquirir e agora não podem, até porque não têm tempo para isso".

O especialista em relojoaria explica:
"O plano de estudos de um curso técnico profissional prevê hoje, para a componente de formação técnica, 1600 horas no total, das quais 420 para formação em contexto de trabalho. (…) Isso quer dizer que os alunos de relojoaria vão trabalhar com uma formação de 1180 horas, o que é ridículo."
"Isto não é ensino, é quase uma brincadeira", afirmou, acrescentando que esta foi a principal razão para ter abandonado a instituição onde se formou e formou milhares de alunos: "Foi por isso que, depois de explicar às instâncias superiores que aquele esquema não servia as necessidades de formação de relojoaria, e não só, me aposentei, pois vi que não conseguia ajudar a dar a volta. Se ficasse, tornava-me conivente com um processo que condeno em absoluto."

Mestre Américo lembra que, antes desta reestruturação, os formandos recebiam mais do dobro do tempo: "O número de horas com que hoje atribuem o título de técnico de relojoaria é o que, há uns anos, dava um título de aprendiz de relojoeiro".
"Não se podem fazer milagres (...) a relojoaria implica um processo de aquisição de competências ao nível da micromotricidade que é lento, moroso, tem de ser progressivo e para o qual hoje não há tempo que chegue, de maneira nenhuma."

Lamenta que "as maiores vítimas" desta reestruturação no ensino técnico profissional da Casa Pia sejam os formandos: "Eles são os primeiros enganados, mas o mercado do trabalho não se consegue enganar por muito tempo."
E mestre Américo Henriques termina exprimindo os seus receios de que os alunos da Casa Pia, que "hoje já não têm de maneira nenhuma a formação técnica que antes tinham", comecem a não ser aceites no mercado de trabalho.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

O encerramento das escolas II - EB1 Várzea de Abrunhais


Diz a Resolução do Conselho de Ministros 44/2010:

"Serão encerradas aquelas escolas em que um só professor ensina, ao mesmo tempo, um número reduzido de alunos do 1.º ao 4.º ano e em que não existem as infra-estruturas adequadas, como cantina, biblioteca, ou equipamentos informáticos."

Ora a EB1 Várzea de Abrunhais tem um refeitório e, como está inserida numa freguesia rural, algumas crianças podem almoçar com as suas famílias. Não tem biblioteca, mas dispõe de um sistema de projecção constituído por quadro interactivo, videoprojector e computador e todas as crianças possuem computador com ligação à Net.

As actividades dos alunos desta escola estão documentadas na Net.
Comecemos pelos vídeos do ano lectivo 2008/2009, duas photostories, uma dos onze alunos dos 1º e 2º anos e outra dos treze alunos dos 3º e 4º anos:







Seguem-se as actividades relativas ao ano lectivo findo.
A primeira, uma visita ao campo no início do Outono é, de longe, a melhor de todas. No estado miserável em que se encontra o ensino, duvida-se que haja muitas escolas do 1º ciclo que tenham realizado uma actividade de nível similar. Segue-se uma actividade de Geometria, a única no domínio da Matemática, e depois uma peça de teatro:









Agora temos uma actividade sobre Alimentação e depois duas sobre o Ambiente com a particularidade da última introduzir a língua inglesa:









Os dois vídeos finais documentam uma visita das três melhores alunas à Microsoft, onde se vê as miúdas a brincar com um ecrã interactivo (touchscreen) e a fazerem de conta que são oradoras:







O que é que estas crianças aprenderam? Aprenderam a construir uma photostory: fazem um desenho, digitam pequenas frases, com alguns erros, no computador ou num cartaz, lêem-nas e depois tudo isto é gravado em vídeo e carregado no Youtube.
Estão muito avançadas no uso das Tecnologias da Informação e Comunicação, mesmo muito mais que as crianças de freguesias situadas nas grandes cidades.
Mas é aflitivo o vazio no domínio da Matemática: uma única (fraca) actividade de Geometria e nenhuma de Aritmética.


Se um docente adoptar sistematicamente pedagogias directivas, i. e. se for para o quadro debitar uma aula com os alunos do outro lado a ouvir, vai haver, sobretudo nesta idade, casos de abandono escolar. Mas os alunos que resistirem vão apreender a ler e a escrever correctamente, vão aprender as tabuadas das quatro operações elementares, a usá-las e a desenvolver o cálculo mental.
Se, no outro extremo, o docente enveredar completamente pelas pedagogias activas, ou seja, se distribuir os alunos por grupos dando-lhes computadores, ou jogos didácticos, para aprenderem brincando, no final do ano lectivo os alunos não adquiriram nem um décimo dos conteúdos programáticos do seu ano curricular.

Então qual é a solução?
Começar por cumprir a legislação que já exige, mesmo em regime de monodocência, o respeito por um horário com tempos lectivos para Português, Matemática, …
Em segundo lugar dosear os dois tipos de pedagogia dando 60% à primeira, ou seja, dentro de cada disciplina reservar 3 em cada 5 tempos para aula directiva, o que não é de modo algum excessivo quando se dispõe de um quadro interactivo: o docente, num minuto, pode gravar no seu computador o trabalho que os alunos façam no quadro e enviá-lo por correio electrónico para todos os alunos da turma, de modo a criar alguma interactividade.

Podia a docente escolher esta solução? Não, porque nenhum docente pode dar ao mesmo tempo, e na mesma sala, os conteúdos dos vários anos curriculares do primeiro ciclo.
Daí a exigência do número mínimo de 21 alunos que serão distribuídos por dois docentes, um ficando com alunos do 1º e 2º anos e o outro com o 3º e 4º anos.

Mas a docente executou o melhor que lhe era possível a política educativa de José Sócrates e Lurdes Rodrigues e ajudou a Microsoft a atingir os seus objectivos comerciais.
Tornou conhecida a escola de Várzea de Abrunhais, até fora de Portugal, e agora decidem fechá-la. Será que lhe vão dar um emprego na Microsoft, no ME, na FLAD ou, pelo menos, no novo centro escolar? Usaram um ser humano e agora descartam-no?

O encerramento das escolas I - EB1 Várzea de Abrunhais


Em 24 de Janeiro de 2010 anuncia-se ao país que uma escola portuguesa fora considerada pela Microsoft uma das escolas tecnologicamente mais Inovadoras do Mundo:





E no sítio da Microsoft - Destaques anteriores - pormenoriza-se:

"Programa Mundial Microsoft Escolas Inovadoras distingue EB1 Várzea de Abrunhais

Na sequência das candidaturas das Escolas EB1 Várzea de Abrunhais (Lamego) e da EB2,3 Nevogilde (Lousada) ao Programa Internacional Escolas Inovadoras, a Microsoft seleccionou a Escola EB1 Várzea de Abrunhais para fazer parte da rede Pathfinder

A Equipa de avaliadores, que incluiu membros do Conselho Consultivo do programa, Líderes Regionais Parceiros da Educação e colaboradores da Microsoft, começou por analisar 104 candidaturas de 41 países do Mundo e seleccionou 31 escolas para participar no nível Pathfinder do Programa Escolas Inovadoras.

A EB1 Várzea de Abrunhais irá, a partir de agora, fazer parte de uma comunidade de elite de escolas inovadoras de todo o Mundo, onde a Microsoft irá trabalhar em conjunto para contribuir para a transformação da visão de ensino.

Apesar da candidatura da Escola EB2,3 de Nevogilde não ter sido seleccionada, a equipa de avaliadores reconhece o seu mérito e o programa Escolas Inovadoras irá convidá-la a participar noutros desafios.
"


A docente e coordenadora da escola, Maria do Carmo Leitão colaborou, em 26 de Maio de 2009, num Workshop da 5ª Conferência Professores Inovadores promovida pela Microsoft e que decorreu no ISCTE, onde as Conclusões e Encerramento estiveram a cargo de João Trocado da Mata (licenciado em Sociologia pelo ISCTE) então coordenador do Plano Tecnológico da Educação (PTE) e Director-Geral do Gabinete de Estatísticas e Planeamento da Educação (GEPE) e actualmente Secretário de Estado da Educação.

Recentemente, em 18 de Maio de 2010, a docente participou, novamente no auditório do ISCTE, na 6ª Conferência Professores Inovadores bem documentada na Net:




Vista do auditório do ISCTE, com Carmo Leitão em primeiro plano.





Fazendo a sua exposição.

Com Alexandre Ventura, Secretário de Estado Adjunto e da Educação







Exibindo a placa de vencedora do Concurso Mundial de Escolas Inovadoras







Dois meses depois, inesperadamente, surge a notícia do encerramento da escola:





Um reparo para a atitude da aluna que se manifestou contra a ida para o centro de escolas, em contraste com a firmeza da que concorda e que realça a sua insatisfação com o tamanho da sala de trabalho. A primeira poderá ser um caso futuro de insucesso escolar pois vai emocionalmente fragilizada.
Repare-se também na maneira como a docente se exprime.
E que fique muito claro: só são encerradas as escolas cujo fecho obteve a concordância do presidente da câmara municipal.

O encerramento da escola básica do 1º ciclo e jardim-de-infância de Várzea de Abrunhais merece, portanto, uma reflexão especial.

sábado, 24 de julho de 2010

Criação dos agrupamentos verticais VI


Por detrás de muitos comentários desfavoráveis à notícia Governo encerra 701 escolas e transfere 10 mil alunos estão duas questões que não se podem escamotear.

A primeira diz respeito aos 701 professores do 1º ciclo do ensino básico, e mais alguns educadores da educação pré-escolar, que vão ser empurrados para o desemprego pela resolução 44/2010.
Com a constituição dos agrupamentos de escolas básicas passámos a contactar com estes professores e sabemos que, se alguns são muito competentes, outros há que não têm conhecimentos científicos para a docência.
Infelizmente a avaliação do desempenho foi uma farsa e não distinguiu o trigo do joio. Trata-se de um problema de mentalidade dos portugueses que, naturalmente, se transfere para os políticos que elegemos: avalia-se por compadrio, muito raramente por mérito.
Por isso acreditamos que o fecho destas escolas vai atirar muito bons profissionais para caixas de hipermercado. É um crime contra as pessoas e a economia.
Uma palavra para os incompetentes, porque foram enganados. Os políticos criaram Escolas Superiores de Educação, no ensino superior politécnico, a torto e a direito, sem qualidade, para aí se poderem empregar quando os respectivos partidos estão na oposição. E atraíram alunos para elas abrindo vagas que, dada a contínua diminuição da taxa de natalidade, excediam as necessidades do país. Foi outro crime.

A segunda questão diz respeito às direcções dos agrupamentos que foram afastadas. Ao contrário do que a resolução 44/2010 parece sugerir, não é escolhido para director da Comissão Administrativa Provisória o director da escola secundária, mas quem tiver cartão do partido socialista.
Serão trágicas as consequências que daí advirão para o ensino porque ninguém gosta de ser ultrapassado por incompetentes. A guerra surda que se avizinha no ano escolar 2010/2011 vai destronar a guerra do ano 2008/2009.



Declaração de interesses: docente há mais de três décadas, actualmente quadro de agrupamento de escolas básicas, não pertence à direcção, nem sequer ao grupo de compadrio do agrupamento, bem pelo contrário.

1984 - nova versão




Mais uma pausa nos agrupamentos verticais. Desta vez para dar lugar a um comentário humorístico que nos recorda a faceta orweliana dos políticos que elegemos e o seu apego à mediocridade



João de Lima . 24.07.2010 11:41
Via Facebook
Ainda os tera-agrupamentos

Nos tera-agrupamentos poderão existir, dadas as economias feitas com este sistema, quadros interactivos em todas as salas, cada aluno poderá ter um terminal e uma máquina que faz "pim" e que ninguém sabe para que serve.
Haverá um software especializado que detectará o enfado nas aulas; quando este exceder a metade dos alunos, ligar-se-á automaticamente ao MTV.
Os alunos não terão que escrever, só terão que carregar em botões. Periodicamente este software fará testes de múltipla escolha aos alunos e, com esta informação, irá seleccionando os alunos distribuindo-os por salas de atrasados, normais e muito bons (estes são os que acertam alguma coisa). As salas não terão estes títulos antes se chamando sala azul, verde e amarela.
Todos os acontecimentos referentes ao comportamentos dos alunos na aula e aos seus movimentos serão transmitidos por RSS para que os Pais possam saber com todo o detalhe a vida íntima dos seus filhos.
No final da escolaridade este software enviará para as universidades os normais e os muito bons, inscreverá no desemprego os atrasados e dar-lhes-á um diploma.


sexta-feira, 23 de julho de 2010

Criação de agrupamentos verticais V


Noticia o Público, em Mais de 700 escolas do primeiro ciclo já não abrem em Setembro, que o processo de agregação de unidades orgânicas teve como resultado a criação de 84 novas unidades, com uma média de 1700 estudantes cada.
Na Direcção Regional de Educação do Centro são criados 28 novos agrupamentos, 24 na de Lisboa e Vale do Tejo, 19 no Norte, 10 no Algarve e 3 no Alentejo.

"A agregação de unidades de gestão não implica o encerramento de escolas nem o encaminhamento de alunos para outros estabelecimentos de ensino. Antes pretende adequar a rede aos 12 anos de escolaridade, para que numa unidade de gestão estejam integrados todos os níveis de ensino, sem fracturas no momento em que as crianças e jovens transitam de ciclo de ensino ou de escola", justifica o ME. E acrescenta que outro objectivo desta medida é centralizar "num único pólo" a gestão "administrativa e financeira e o próprio projecto educativo".

Esquece-se o ME de acrescentar que aproveitou o ensejo para politizar completamente as escolas, tendo eliminado os directores que não pertenciam ao rebanho socialista e enfiado nas Comissões Administrativas Provisórias mais alguns boys e girls rosas.

Seguem-se dois comentários à notícia que focam problemas ligados à reestruturação em curso da rede escolar:


Joaquim Ferreira, Braga. 23.07.2010 11:44
Incrível...
Vivemos no tempo da politização das Escolas. Domesticar os alunos. Retirar as crianças do enquadramento familiar, do sítio onde criam laços é meio caminho para a anomia, para a destruição dos laços familiares e imposição do socialismo.
Só com o combate aos incêndios, a desertificação do interior já custa muito cara ao país. Mas o Governo lá sabe de quem são os helicópteros... Os amigos do partido têm que ter uma nova oportunidade...
Temos o dever de denunciar... Por isso visite o blogue "Não Calarei A Minha Voz... Até Que O Teclado Se Rompa!" e os textos que nele se inscrevem. Em "Autonomia Conquistada Vs Autonomia Enquistada" temos o processo de destruição das Escolas Portuguesas... Toda a evolução que se passou desde 2003 estava prevista.
Pouco a pouco se foram destruindo as unidades orgânicas até se chegar ao que se pretende: nomear os directores entre os caciques do partido. Já faltou mais. Os MEGA-agrupamentos que prevíamos estão agora transformados em HIPER-Agrupamentos. Os salários dos seus gestores começam a ser cobiçados. E lá se foi a gestão democrática inventada pelos Socialistas para eliminar as Delegações Escolares...



Rui Carlos, Castelo Branco. 23.07.2010 12:51
ERRADO!
Caros comentadores, experimentem saber a opinião de quem já sofreu com o fechar da escola e a concentração dos alunos todos numa escola mais distante. Não tem nada de negativo, passa-se de uma escola sem condições com 3 a 10 alunos para escolas modernas, com cantina, ATL, transporte. Isto é muito importante para a interacção e crescimento das crianças. Não fogem dos laços familiares porque os pais estão no trabalho, ganham sim mais contacto com outras crianças, ajudando ao desenvolvimento das mesmas. Não vejam só pontos negativos no país onde vivem.
Aprendam com os espanhóis. Quem já lá viveu pode dizer que são um país bem mais atrasado que o nosso, só que têm uma grande diferença: têm um ego do tamanho do mundo, acham-se os maiores e os melhores. Pesquisem na Internet pelas localidades que já tiveram esta reeestruturação na educação e vejam a opinião deles.



(Este comentário contém um lapso: as escolas encerradas podem ter 20 alunos)

Suite sinfónica Lord of the Rings - Hobbits shire



O tema Hobbits shire da suite sinfónica (e filme) Lord of the Rings estava no youtube, mas descobri-o em visita ao Zénite.

Trouxe-o para aqui para limpar do espírito a porcaria que o ME está a fazer com os agrupamentos verticais: afinal o objectivo não é melhorar a gestão dos agrupamentos de escolas básicas mas, antes, passar a direcção das escolas secundárias para o quintal do ps.



quinta-feira, 22 de julho de 2010

Criação de agrupamentos verticais IV


Lê-se na resolução 44/2010:

"(…) a presente resolução estabelece orientações para o reordenamento da rede escolar, com vista a garantir três objectivos. Em primeiro lugar, visa -se adaptar a rede escolar ao objectivo de uma escolaridade de 12 anos para todos os alunos. Em segundo lugar, pretende -se adequar a dimensão e as condições das escolas à promoção do sucesso escolar e ao combate ao abandono. E, finalmente, em terceiro lugar, promover a racionalização dos agrupamentos de escolas, de modo a favorecer o desenvolvimento de um projecto educativo comum, articulando níveis e ciclos de ensino distintos.
(…) Assim, determina -se que as escolas do 1.º ciclo do ensino básico devem funcionar com, pelo menos, 21 alunos.
(…) Deste modo, serão encerradas aquelas escolas em que um só professor ensina, ao mesmo tempo, um número reduzido de alunos do 1.º ao 4.º ano e em que não existem as infra-estruturas adequadas, como cantina, biblioteca, ou equipamentos informáticos.
"

Em princípio nada a contrapor.
E diz-se, em princípio, porque não se pode confiar em políticos e afins, gente interesseira que disfarça a sua cupidez por detrás de enunciados de bons objectivos.
E a resolução prossegue com a criação dos agrupamentos verticais de escolas:

"Estabelecer que a sede do agrupamento de escolas deve funcionar num estabelecimento público de ensino em que se leccione o ensino secundário ou, em alternativa, noutro que não leccione o ensino secundário, sempre que tal permita assegurar:
a) Que o agrupamento não exceda a dimensão adequada ao desenvolvimento do projecto educativo;
b) Uma gestão mais eficaz do agrupamento de escolas; ou
c) Uma melhor integração das escolas nas comunidades que servem ou na interligação do ensino e das actividades económicas, sociais, culturais e científicas.
"

Novamente parece que estamos perante uma medida a aplaudir porque os quadros das escolas secundárias foram preenchidos, em geral, com licenciados pelo ensino universitário público enquanto os das escolas básicas têm licenciados pelo ensino politécnico e até pessoas com diplomas sem equivalência a licenciatura.

Parece, mas não é.
Começam a chegar ao conhecimento dos docentes novas de que, afinal, o objectivo não é melhorar a gestão dos agrupamentos de escolas básicas mas, antes, passar a direcção das escolas secundárias para o quintal socialista.

Um dos casos, já confirmado por colegas, está a passar-se no concelho do Barreiro com o agrupamento vertical, decidido pela tutela, entre a escola secundária Augusto Cabrita e o agrupamento de escolas Padre Abílio Mendes (AEPAM). Acaba de ser nomeada como directora da Comissão Administrativa Provisória do agrupamento vertical a directora do AEPAM cujo único mérito conhecido é pertencer à agência local do PS.
Já foram abertas as hostilidades entre os docentes de ambas as escolas e adivinha-se o clima bélico em que irá decorrer o ano escolar 2010/2011.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Plano inclinado XXXV - Convulsões recentes nas escolas públicas nos últimos três anos. Professora Rosário Gama






A escola pública pode ser de boa qualidade se os intervenientes assim o quiserem e se a tutela deixar.

Rosário Gama, directora da Escola Secundária Infanta D. Maria (ESIDM), em Coimbra.



[A ESIDM] é uma escola em que uma pessoa entra e vê que há ali uma direcção. As coisas não estão ao acaso, os miúdos não estão a correr pelos corredores durante as horas de aulas, as pessoas respondem às perguntas. (...) e existe um nível de exigência dos professores que é muito grande. (...)
A direcção da escola é uma coisa fundamental. (...)

O professor tem de ser exigente à revelia do ministério. (...)

Todas as contribuições da Sociedade Portuguesa de Matemática são liminarmente rejeitadas [pelo ME].

Nuno Crato

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Criação de agrupamentos verticais III


Com a unificação entre os agrupamentos de escolas básicas e de escolas secundárias já aprovada pelo Governo, as comissões administrativas que vão gerir estes agrupamentos globais (chamados verticais) entram em funções no próximo dia 1 de Agosto.

Esta união de escolas procura assegurar que os alunos façam o seu percurso escolar sem sofrerem descontinuidades, pelo que não se compreende a hostilidade das associações de pais.
Certamente estão a ser manipulados por quem não só vai perder suplementos remuneratórios mas também regressar à condição de professores, i.e. as direcções dos agrupamentos de escolas básicas.

Também o Conselho das Escolas já disse discordar dos agrupamentos verticais, à semelhança da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas.
Tal discordância é que não surpreende. Como a escolaridade obrigatória se restringia a 9 anos há, obviamente, mais agrupamentos de escolas básicas do que de escolas secundárias.

Contra esta avalanche de críticas destrutivas, a saudável ironia de um colega docente do 1º ciclo:


José Ferreira, Portugal. 09.07.2010 18:44
Confap e os directores


Vai diminuir o número de agrupamentos? Cada agrupamento tem uma associação de pais? Vai diminuir a comparticipação a directores e às respectivas associações de pais? Os professores vão continuar a leccionar? Os alunos vão continuar a ir às escolas? Vai existir um único projecto educativo?
As EB2,3 vão perder o seu quintal? Os professores das EB2,3 vão vivenciar o que já vivenciaram os professores do 1º CEB e educadores?
As escolas vão ficar desumanizadas porque os directores vão deixar de dedicar tempo aos alunos? Os departamentos vão começar a tratar unicamente do que devem? Os conselhos de disciplina também? Os professores que estão nos conselhos gerais vão ficar sem poderem reunir 3 vezes por ano? Os professores de um agrupamento alteram as suas práticas pedagógicas porque conhecem os Projectos Educativos?
Há professores que têm horas para projectos que ninguém conhece? As reuniões de pais têm uma grande afluência? A maioria dos pais que pertencem a essas associações estão somente preocupados com os seus filhos e, desta forma, podem chegar mais facilmente a quem desejam? Expliquem-me, não estou a perceber nada...


quinta-feira, 8 de julho de 2010

Resultados dos exames nacionais (secundário - 1ª fase)



O Ministério da Educação divulgou hoje os resultados dos exames nacionais do ensino secundário (1ª fase).

Como em todas as notícias sobre a educação, surgem vários comentadores desdobrando-se em comentários desfavoráveis contra os professores de carreira.

São as fornadas de licenciados pelas escolas superiores de educação (ESE) que, não conseguindo vaga no ensino público, e ainda menos no privado, foram obrigados a aceitar um lugar de caixa num hipermercado. E que, tendo consciência da fraca preparação científica que muitas dessas escolas proporcionam, sabem que nunca conseguirão ser aprovados na prova de ingresso na carreira docente.
Compreende-se a frustração de quem foi severamente enganado por um lobby poderosíssimo da classe política ─ o das Ciências da Educação ─ , que abriu vagas excessivas nas ESE para criar emprego aos docentes dessas instituições do ensino politécnico.

Outros há que, depois de muito estudo, conseguiram licenciar-se em universidades públicas e viram passar-lhes à frente os licenciados das ESE devido à inflação das classificações no ensino politécnico. São os duplamente enganados.

Mas também há comentários que põem em evidência um problema grave, a existência de pessoas que conseguiram entrar na carreira docente sem terem mérito e agora continuam a progredir nessa carreira bajulando as direcções de muitos agrupamentos de escolas. O seguinte é exemplar:


António, Lisboa. 08.07.2010 19:51
Povo português

Acabei este ano o 12º ano de escolaridade. Conheço perfeitamente as minhas capacidades e já fiz vários exames na minha vida (sei que ainda são poucos, pois quero ir para a universidade), mas o que acontece é que, depois de já ter tido quase meia centena de professores, sinto que estes deveriam de receber uma melhor preparação, de modo a que nos possam orientar, de uma forma mais correcta, para os diferentes exames, porque o que eu acho é que há uma grande discrepância entre o que nos é avaliado em tempo de aulas e a avaliação feita através dos exames. Se os exames têm um grau de exigência elevado, então esse nível também deveria ser exigido nas aulas.
Para tal, eu penso que é o próprio Ministério que deveria de corrigir todos estes erros do sistema, com empenho, não agindo como o típico povo português, que só imita as coisas boas dos outros, quando isso não custa muito e quando é suficiente para se sobressair. Infelizmente, eu, com 17 anos, vejo que o meu país só tem desse tipo de pessoas no poder, pelo que não acredito que o sistema venha a mudar brevemente.
Agradeço críticas construtivas, porque destrutivas já chegam as que vejo por aí; não é assim que se evolui, amigos.



Está correcto, caro aluno: os políticos estão mais preocupados com os votos dos docentes e discentes que procuram lucrar com o facilitismo, do que em reflectir em opiniões pertinentes, como a sua, e corrigir a política educativa.

Solar Impulse III - O voo nocturno


Às 06:51 (GMT+2:00) do dia 7 de Julho, o Solar Impulse HB-SIA, movido a energia solar, descolou da base aérea de Payerne pilotado por André Borscherg.
Cerca das 16:40, o protótipo atingiu a altitude de 8,7 km. Durante esta longa ascensão, os 12 mil painéis solares que recobrem as suas asas carregaram os 400 kg de baterias de iões de lítio. O protótipo estava pronto para começar a sua jornada através da noite!
Iniciou-se então uma descida lenta até às 23:00, que o trouxe para uma altitude de 1,5 km. A partir desse momento, a energia armazenada nas baterias manteve-o no ar até hoje de manhã. Aterrou às 9:00.


Andre Borschberg conduz o Solar Impulse na primeira tentativa de voo nocturno.
Fotografia:Dominic Favre/Reuters.


"Durante todo o voo, estive sentado a observar o nível de carga da bateria a subir, a subir! Estar sentado num avião que produz mais energia do que consome é uma sensação fantástica", disse André Borschberg.
"Este é um momento simbólico: voar de noite usando apenas a energia solar é uma espantosa manifestação do potencial que as tecnologias limpas oferecem actualmente para reduzir a dependência da nossa sociedade em relação aos combustíveis fósseis!", acrescentou Bertrand Piccard, presidente do Solar Impulse.
"Foi o voo mais incrível da minha carreira. Voei 26 horas sem gastar combustível (fóssil) nem fazer poluição", afirmou Borschberg, ao aterrar.

O próximo desafio é um voo transatlântico planeado para 2013.

terça-feira, 6 de julho de 2010

ME adiou a reforma do 3º ciclo do ensino básico



Em Dezembro, a ministra anunciou "um novo currículo" para o 3.º ciclo com menos disciplinas, mas a mesma carga horária.
Quando se começou a falar da possibilidade de cortar algumas das áreas curriculares não disciplinares (Estudo Acompanhado, Área de Projecto e Educação Cívica), que não têm testes, para dar mais horas lectivas às disciplinas básicas − Português e Matemática – os docentes das outras disciplinas discordaram.
Porque passariam a ter mais turmas onde leccionariam as suas disciplinas, portanto mais testes, o grande pavor dos docentes.

Agora sabe-se que o ME recuou. Lamentavelmente as eleições para a presidência da república, que se prevê serem seguidas por legislativas antecipadas, são mais importantes que a qualidade do ensino.

Plano inclinado XXXIII - Vítor Bento debate a situação económica e política de Portugal


O problema do crescimento não está a ser endereçado. Só vejo medidas no sentido da restrição, não vejo medidas no sentido da expansão.
Vítor Bento





Aconselha-se os docentes a ouvirem com muita atenção a exposição claríssima do economista Vítor Bento. E a repararem no gráfico com a dívida portuguesa e a grega, porque Durão Barroso não vai presidir à Comissão Europeia para sempre.

Lembrem-se que o trabalho docente se situa no sector não-transaccionável (excepto livros ou pintura produzidos por professores).
No final da escolaridade obrigatória o que é que os alunos sabem? Enviar mensagens de telemóvel e navegar na Internet. Quanto à língua portuguesa lêem mal e ainda escrevem pior. Arranham o Inglês. Não são capazes de compreender um problema matemático e ainda menos de o equacionar. Têm noções rudimentares de Física, Química e de Biologia. Nada sabem de Mecânica, de Electricidade ou de Electrónica.
É com estes conhecimentos que vão produzir bens transaccionáveis?

Se nos limitarmos a cumprir cegamente a burocracia imposta pelo ME, se nos preocuparmos apenas em entrar nos grupos de compadrio criados por directores incompetentes, para além do aumento de impostos do plano de austeridade, que entrou em vigor neste mês, vamos apanhar uma tremenda redução de salários.
Lembrem-se que a classe política é aprovada pelos eleitores e detém o poder de legislar, o ónus das suas politicas não cairá sobre os seus membros, vai abater-se sobre o funcionalismo público, em geral, e sobre os professores, em particular. Quando cortam 5% no lado dos vencimentos, aumentam 10% no lado de regalias a que só eles podem aceder.

É preciso ensinar os alunos a estudar e a trabalhar, é preciso que aprendam não só os reduzidíssimos conteúdos programáticos exigidos pelo ME, mas muito mais, tudo aquilo de que necessitam no mercado do trabalho. É preciso desencadear uma onda de exigência na docência para relançar a economia do país.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A imagem em microondas do Universo


O Planck é um telescópio da Agência Espacial Europeia que permite captar as microondas do espectro electromagnético entre 30 GHz e 857 GHz, portanto emitidas por fontes térmicas entre 20ºK (-253ºC, pasme-se!) e o zero absoluto (-273ºC, a temperatura mínima do Universo).
Graças às observações deste telescópio de microondas, entre Agosto de 2009 e Junho de 2010, obteve-se esta imagem:


A faixa central que atravessa a imagem é a nossa galáxia ─ a Via Láctea. Acima e abaixo da Via Láctea vêem-se flâmulas de poeira fria. Nesta teia galáctica estão a formar-se novas estrelas e o telescópio Planck encontrou muitos locais onde estrelas individuais estão a nascer ou a começar o seu ciclo de desenvolvimento.

Menos espectacular, mas mais intrigante é a mancha de fundo na parte superior e inferior da imagem. Esta é a 'radiação cósmica de fundo’ (RCF). É a luz mais antiga do Universo, o resíduo da bola de fogo donde surgiu o nosso Universo, há 13,7 milhares de milhões de anos.
Enquanto a Via Láctea nos mostra o que o universo local parece actualmente, aquelas microondas mostram-nos o que o universo parecia próximo do instante da criação, antes de haver estrelas ou galáxias. É este o objectivo da missão Planck: descodificar o padrão da mancha de fundo de microondas para saber o que aconteceu no Universo primordial.




O padrão das microondas é a impressão cósmica a partir da qual os actuais grupos e supergrupos de galáxias foram construídos.
As cores diferentes representam diferenças mínimas de temperatura e densidade da matéria no céu. De alguma forma essas pequenas irregularidades evoluíram em regiões mais densas que se transformaram nas galáxias actuais. A RCF abarca todo o céu, mas está escondida nesta imagem pela emissão da Via Láctea, que tem de ser removida digitalmente dos dados finais, a fim de se ver o fundo de microondas na totalidade. Quando este trabalho estiver concluído, o Planck irá mostrar-nos a mais precisa imagem do fundo, em microondas, até agora obtida.

A grande questão será saber se os dados revelarão a assinatura cósmica do período primordial chamado inflação. Postula-se que esta era ocorreu logo após o Big Bang e causou a enorme expansão do Universo num pequeníssimo intervalo de tempo.




O Planck a varrer todo o céu para construir a imagem.


Criação de agrupamentos verticais II


O Conselho das Escolas foi criado pelo Decreto Regulamentar 32/2007 e é formado por 60 directores eleitos por todos os presidentes de Conselho Executivo/Directores em funções no ano escolar 2006/07.

Com a fusão entre os agrupamentos de escolas básicas e de escolas secundárias sobrevive a direcção da escola secundária, regressando o director, o vice-director e os 2 directores-adjuntos do agrupamento de escolas básicas à sua função de professores.
É obvio que tal situação não agrada às direcções dos agrupamentos em vias de desaparecer e os directores que pertencem ao Conselho das Escolas estão a manifestar o seu descontentamento.

Veja-se o elucidativo diálogo entre um professor e um elemento de uma direcção em vias de desaparecer:


José Ferreira, Portugal. 03.07.2010 23:29
Não quero perder a minha gratificação

Se eu fosse director ou membro da direcção também estaria contra. Não poderia deixar de receber aquele dinheirito que me faz tanta falta. E o poder, como posso deixar de o exercer? Como posso, de um momento para o outro passar a ser um simples professor? Não, não, não!
Lembro-me do tempo em que, e só lá vão 6 anos, as escolas primárias eram geridas por um delegado. Que grande agrupamento então existia. Mais de 4000 alunos. O agrupamento era o concelho. Os directores das escolas primárias não eram gratificados. No entanto os alunos estavam verdadeiramente bem preparados. Quem se mostra contra? Os que são gratificados e se passeiam nas escolas, alguns, como seres superiores!


Francisco Xavier, Braga. 04.07.2010
RE: Não quero perder a minha gratificação

Só pode falar assim quem da matéria não entende nada. Por que razão é que as pessoas dão a sua opinião sem da matéria entender? Triste país este em que dão opiniões sem conhecimento de causa. Não está em causa a gratificação, que em muitos casos nem paga o que o trabalho que muitos directores fazem. Está em causa sim a forma como as coisas são feitas de um momento para o outro nas costas daqueles que tudo têm dado para que haja sossego educativo. E já agora, este senhor que está preocupado com as gratificações, me diga, se for capaz, se haverá algum projecto implementado pelos ministérios da educação que tenha chegado ao fim sem qualquer interrupção. Todos eles são badalados na imprensa quando implementados e quase logo de seguida acabam, porque alguma cabeça "pensadora" do ministério pensa noutras coisas. Recuso-me a ser cobaia mais uma vez dos senhores poderosos que não se cansam de pôr a educação de rastos com ideias aparvalhadas a torto e a direito. Mais uma vez a pedagogia das nossas escolas direccionadas para os nossos alunos está em causa. Pense antes de escrever.


José Ferreira, Portugal. 04.07.2010
RE: RE: Não quero perder a minha gratificação

Francisco Xavier, sei perfeitamente do que falo. Lembra-se da existência dos Giga-Agrupamentos que eram as Delegações Escolares? Geriam as escolas do ensino primário e os jardins de infância de um concelho que na grande maioria totalizavam mais de 4000 alunos. Se calhar está na gestão há meia dúzia de anos.
Relativamente a programas inacabados já tem alguma razão. Não há nenhum programa que se aguente durante dez anos. No meu entender é o tempo necessário para validar e avaliar o seu sucesso. Quanto à pedagogia direccionada para os alunos terá que me dar exemplos. Pois só dessa forma poderei dizer alguma coisa. Esse tipo de frases toda a gente escreve.