terça-feira, 27 de abril de 2010

A S&P desce o rating do país para A-



A agência de notação financeira Standard & Poor's baixou hoje dois níveis o rating de Portugal, de A+ para A-. É a segunda pior classificação de risco da Zona Euro, só superando a da Grécia.
Segundo a agência, a revisão em baixa justifica-se porque "o potencial de crescimento económico irá provavelmente permanecer fraco, limitado pela reduzida competitividade internacional, baixos ganhos de produtividade, estagnação do investimento e queda do crédito a nível doméstico, dada o elevado nível de endividamento do sector privado".

O rating é uma classificação da capacidade de uma determinada entidade – neste caso, o Governo português - cumprir as obrigações financeiras assumidas, i.e. é uma avaliação do seu risco de falência.
Além da Standard & Poor's existem mais duas agências de rating - a Fitch e a Moody's - todas norte-americanas.

Isto significa que a taxa de juro dos empréstimos externos, contraídos pelo Governo para cobrir a dívida pública do país, vai subir ainda mais.

A S&P também desceu a classificação da dívida soberana da Grécia, neste caso em três níveis: passou para BBB+, um nível classificado como junk (lixo).

Os cinco bancos portugueses com notação financeira sofreram igualmente cortes na classificação. A Caixa Geral de Depósitos dois níveis, de A+ para A-, o Banco BPI e BES um nível, de A para A-.
O Santander desceu dois níveis, de AA- para A, continuando a apresentar um rating superior ao de Portugal por ser detido a 100% pelo banco espanhol Santander que tem classificação AA.
Difícil é a situação do BCP cujo rating desceu um nível, mas de A- para BBB+.

Quadro de Desonra



No mercado de Credit Default Swaps (CDS) transaccionam-se os seguros feitos para cobrir o risco de incumprimento dos países nos pagamentos da sua dívida pública. Logo quanto mais elevado é o CDS, maior é o risco que os investidores atribuem a esse país de entrar em falência.


Os CDS de Portugal a 5 anos, que em 22 de Abril estavam em 262,51 pontos base sobem hoje mais de 30 pontos para 307,58 pontos base, tendo o risco de incumprimento do país subido da sétima para a sexta posição, ultrapassando o do Líbano.



Note-se que o risco de falência de Portugal é muito superior ao de Espanha, Irlanda ou países da Europa de Leste.


Quadro de Honra


Com a devida vénia, transcreve-se do blogue Moçambique para todos uma peça da política portuguesa daquele tempo em que os actores conheciam o significado das palavras respeito, dignidade e compromisso:


"Memórias de um Portugal que era respeitado

Corria o ano da graça de 1962. A Embaixada de Portugal em Washington recebe pela mala diplomática um cheque de 3 milhões de dólares (em termos actuais algo parecido com € 50 milhões) com instruções para o encaminhar ao State Department para pagamento da primeira tranche do empréstimo feito pelos EUA a Portugal, ao abrigo do Plano Marshall.

O embaixador incumbiu-me — ao tempo era eu primeiro secretário da Embaixada — dessa missão.
Aberto o expediente, estabeleci contacto telefónico com a desk portuguesa, pedi para ser recebido e, solicitado, disse ao que ia. O colega americano ficou algo perturbado e, contra o costume, pediu tempo para responder. Recebeu-me nessa tarde, no final do expediente. Disse-me que certamente havia um mal entendido da parte do governo português. Nada havia ficado estabelecido quanto ao pagamento do empréstimo e não seria aquele o momento adequado para criar precedentes ou estabelecer doutrina na matéria. Aconselhou a devolver o cheque a Lisboa, sugerindo que o mesmo fosse depositado numa conta a abrir para o efeito num Banco português, até que algo fosse decidido sobre o destino a dar a tal dinheiro. De qualquer maneira, o dinheiro ficaria em Portugal. Não estava previsto o seu regresso aos EUA.

Transmiti imediatamente esta posição a Lisboa, pensando que a notícia seria bem recebida, sobretudo numa altura em que o Tesouro Português estava a braços com os custos da guerra em África. Pensei mal. A resposta veio imediata e chispava lume. Não posso garantir, a esta distância, a exactidão dos termos mas era algo do tipo: "Pague já e exija recibo". Voltei à desk e comuniquei a posição de Lisboa.

Lançada estava a confusão no Foggy Bottom: Não havia precedentes, nunca ninguém tinha pago empréstimos do Plano Marshall; muitos consideravam que empréstimo, no caso, era mera descrição; nem o State Department, nem qualquer outro órgão federal, estava autorizado a receber verbas provenientes de amortizações deste tipo. O colega americano ainda balbuciou uma sugestão de alteração da posição de Lisboa mas fiz-lhe ver que não era alternativa a considerar. A decisão do governo português era irrevogável.
Reuniram-se então os cérebros da task force que estabelecia as práticas a seguir em casos sem precedentes e concluíram que o Secretário de Estado — ao tempo Dean Rusk — teria que pedir autorização ao Congresso para receber o pagamento português. E assim foi feito. Quando o pedido chegou ao Congresso atingiu implicitamente as mesas dos correspondentes dos meios de comunicação e fez manchete nos principais jornais. "Portugal, o país mais pequeno da Europa, faz questão de pagar o empréstimo do Plano Marshall"; "Salazar não quer ficar a dever ao tio Sam" e outros títulos do mesmo teor anunciavam aos leitores americanos que na Europa havia um país — Portugal — que respeitava os seus compromissos.

Anos mais tarde conheci o Dr. Aureliano Felismino, Director-Geral "perpétuo" da Contabilidade Pública durante o salazarismo (e autor de umas famosas circulares conhecidas, ao tempo, por "Ordenações Felismínicas" as quais produziam mais efeito do que os decretos do governo). Aproveitei para lhe perguntar por que razão fizemos tanta questão de pagar o empréstimo que mais ninguém pagou. Respondeu-me empertigado: "Um país pequeno só tem uma maneira de se fazer respeitar — é nada dever a quem quer que seja".

Lembrei-me desta gente e destas máximas quando, há dias, vi na televisão o nosso Presidente da República a ser enxovalhado, pública e grosseiramente, pelo seu congénere checo a propósito de dívidas acumuladas.

Eu ainda me lembro de tais coisas, mas a grande maioria dos Portugueses, de hoje, nem esse consolo tem.

Estoril, 18 de Abril de 2010
Luís Soares de Oliveira"

segunda-feira, 26 de abril de 2010

ME corta a ponta da cauda ao dragão da burocracia



Estipulava a lei 3/2008, primeira alteração ao Estatuto do Aluno dos Ensinos Básico e Secundário (Lei 30/2002), nos termos da no seu artigo 22º:

" 2 — Sempre que um aluno, independentemente da natureza das faltas, atinja um número total de faltas correspondente a três semanas no 1.º ciclo do ensino básico, ou ao triplo de tempos lectivos semanais, por disciplina, nos 2.º e 3.º ciclos no ensino básico, no ensino secundário e no ensino recorrente, ou, tratando-se, exclusivamente, de faltas injustificadas, duas semanas no 1.º ciclo do ensino básico ou o dobro de tempos lectivos semanais, por disciplina, nos restantes ciclos e níveis de ensino, deve realizar […] uma prova de recuperação, na disciplina ou disciplinas em que ultrapassou aquele limite, competindo ao conselho pedagógico fixar os termos dessa realização.
3 — Quando o aluno não obtém aprovação na prova referida no número anterior, o conselho de turma pondera a justificação ou injustificação das faltas dadas, o período lectivo e o momento em que a realização da prova ocorreu e, sendo o caso, os resultados obtidos nas restantes disciplinas, podendo determinar:
a) O cumprimento de um plano de acompanhamento especial e a consequente realização de uma nova prova.


É a ineficácia desta prova e dos consequentes planos de acompanhamento, na prática apenas um acréscimo de burocracia, que o Ministério da Educação vem reconhecer ao fim de mais de 2 anos, segundo notícia do Público, na proposta da segunda alteração ao Estatuto do Aluno:

"[...] o regime da prova de recuperação tem comportado, para os professores, uma sobrecarga de trabalho, sem que se vislumbre um impacto desse esforço na melhoria das aprendizagens e no sucesso escolar dos alunos [...]"


Quanto mais tempo o país terá de esperar por todas as outras alterações necessárias no ensino básico e secundário?


Mind this gap - II



Em mais de uma centena de comentários à notícia do Público "Portugal tem novas armas para travar fuga de cérebros" escolheram-se alguns que podem contribuir para aprofundar a discussão à volta da investigação científica no nosso país:


Anónimo, Lisboa, Portugal. 25.04.2010 11:43
Ciência e desenvolvimento

Por várias razões, não sou exactamente um admirador incondicional de Mariano Gago. Mas também me espanta este discurso miserabilista de tantos candidatos a PhD... Caros, a Ciência não se desenvolve pela Ciência. A razão social para financiar a Investigação não é fazê-lo para esta ser um objectivo lúdico dos seus intervenientes (embora, para os bons investigadores, o seja quase isso). O objectivo último de fomentar a investigação é que possa contribuir para o reforço e progresso do tecido empresarial e da qualidade de vida de todos nós. Não há empresas para empregar Doutorados? Claro que há poucas. Estamos a concluir a primeira geração de Doutorados que encontram os locais tradicionais de emprego (Universidades e Institutos) quase cheios. As alternativas? Ir para o estrangeiro, recorrer ao sub-emprego ou... reforçar o empreendedorismo: criar novas empresas avançadas na área tecnológica que possam gerar emprego e riqueza a todos os níveis da sociedade, PhD incluídos, e sejam uma alternativa (ou variante) tecnologicamente avançada das nossas indústrias tradicionais. Sabemos que este é um sistema com perdas, mas também sabemos que, como na própria Ciência, a qualidade resulta em...


Lurdes Monteiro , Gaia. 25.04.2010 12:01
Doutores e doutores

O ministro MG não tem uma visão de como o país se pode desenvolver pela inovação. Distribui bolsas a torto e a direito, em todas as áreas científicas, sem olhar ao que interessa para o desenvolvimento do país. Quer é aparecer bem nas estatísticas. Dá muitas bolsas mas não sabe escolher as áreas que são importantes para criar empresas e empregos. Para que me serve ter 300 doutorados em antropologia se só tenho 30 em biotecnologias? Vamos lá desmontar estas estatísticas para enganar o Povo.


Anónimo, Localidade, País. 25.04.2010 12:46
Uma completa falsidade!

A quem é que querem atirar areia para os olhos? Esta notícia é completamente falsa e demagógica. A fuga de cérebros é uma realidade em Portugal, ao contrário do que diz esta notícia, que não passa exclusivamente de um disfarce da verdadeira realidade! Não basta lançar números referentes ao aumento do número de bolsas concedidas, como se isso fosse um sinal de um país onde se faz ciência de altíssima qualidade! Temos excelentes grupos de investigação, óptimos investigadores, sim senhor, mas continua a ser um "trabalho", que não é reconhecido como tal! Bolsas que não são aumentadas há mais de 10 anos, ausência de segurança social, 12 meses de bolsa por ano, entre tantas outras coisas que caracterizam uma realidade: este país não reconhece os bolseiros de investigação científica como trabalhadores activos! Olhem para as declarações de IRS dos milhares de bolseiros deste pais e vejam o numero que aparece nos seus rendimentos... 0 (zero), pois este país, que agora vem dizer que anda a travar a fuga de cérebros... considera um investigador como um eterno estudante subsidiado por uma bolsa! Sou bolseiro de investigação científica a acabar o meu doutoramento em Portugal e...


Anónimo, Boston, MA. 25.04.2010 13:10
Sem números...

Eu trabalho no estrangeiro como um postdoc e não pretendo voltar a Portugal. Concordo que a investigação em Portugal esteja melhor pois conheço quem tenha voltado. No entanto é completamente inaceitável que o ministro venha a público dizer que a fuga de cérebros não existe em Portugal, sem apresentar números... Isto revela muito pouco rigor científico de um ministro que até tem formação científica... Sem números esta notícia não faz sentido, assim como esta discussão...


Farto, de atrofiados. 25.04.2010 14:54
Fuga não é o problema

A questão da fuga de cérebros é falsa. o que é preciso é atrair cérebros. Nisso a notícia é clara: "... no primeiro parque português de biotecnologia, o Biocant (Cantanhede), há 150 investigadores e apenas cinco são estrangeiros ." Algo que se passa em todos os institutos de investigação em Portugal. Vejam agora o exemplo do Centro de Regulação Genómica em Barcelona onde num universo de 300 cientistas, mais de 210 são estrangeiros. Isto sim é saber captar "cérebros"... E uns quantos são portugueses. No meu laboratório (20 e tal pessoas), num instituto diferente, havia mais de 10 nacionalidades. Isto é que são dados que mostram trabalho feito e bem feito. Deixar fugir não é o problema, captar é que é importante.


Marco, Lisboa. 25.04.2010 15:26
Números... e a qualidade?

Mais do que a questão de quantas pessoas estão cá ou não estão, existe também a questão da qualidade do trabalho. Quantos alunos de doutoramento da FCT (por exemplo) é que estão a fazer algo de útil para o tecido empresarial Português (ou estrangeiro)? A gerar riqueza real e não uma riqueza abstracta pelo bem da ciência? Quantos dos seus supervisores procuram resolver problemas actuais e ser "de topo" face a "receberem o deles" e irem fazendo uns artigos pouco inspirados (com respectivas viagens de borla...) e em assuntos com mais de 20 anos e sem interesse? Quem é que está a tentar encontrar colaborações com empresas? Muitíssimo poucos! E que pessoa profissional é que tem interesse em trabalhar num ambiente assim? Eu, como actual estudante de doutoramento e ex-investigador num dos maiores centros de investigação privados da Europa digo com clareza: não dá gosto investigar em Portugal e vou sair quando concluir o doutoramento.


Anónimo, Coimbra. 25.04.2010 16:36
O parasitismo na ciência em Portugal

Eu acho que os nossos dirigentes andam completamente fora do mundo ou então andam a brincar e a mentir ao povo porque penso que desconhecem o terreno real sobre o qual falam. Vou dar-vos o meu exemplo. Sou médico, especialista, e o que aprendi na área da virologia foi por minha custa, iniciativa e sacrifício. O meu hospital (Conselho de Administração), interessou-se pelo meu projecto e depois de um estágio de um ano nos Estados Unidos equiparado a bolseiro e à minha custa, quando cheguei comecei a trabalhar dando apoio à transplantação hepática e à sida, enquanto mantinha as minhas actividades clínicas e a fazer a uma especialidade médica. Fiz o meu doutoramento com dinheiro de um concurso que ganhei na FTC. Publiquei artigos e quando tenho a minha equipa treinada para produzir e publicar o actual CA decide integrar o laboratório noutro serviço eliminando-me completamente em termos de carreira, tendo-me sido negado qualquer cargo além de "responsável". Alguém irá lucrar com o meu trabalho e esforço, adquirindo as coisas por via administrativa. Em Portugal quem lucra sempre são os parasitas ligados ao poder ou aos partidos.


Bernardo, Lisboa. 25.04.2010 16:50
Investigação

Investigação científica em Portugal só pontualmente é relevante e por mérito próprio de um grupo restrito de investigadores. No entanto, o padrão comum desta gente é não ir trabalhar, não contribuir para a sociedade (parasitá-la no fundo), fingir que sabe dar aulas nas universidades e publicar periodicamente aquilo a que chamam de paper. Esse paper na maior parte das vezes é aquilo a que eu chamo de toilet paper. Este aparecimento do Ministro a afirmar que Portugal é um exemplo na fuga de cérebros é uma falsidade completa e um encobrimento da realidade. Tanto é que não tem dados para o provar. A massa intelectual portuguesa não estará em Portugal para empregos deploráveis, altos impostos, justiça corrompida, educação miserável, compadrio político, etc. Qualquer pessoa com capacidade e inteligência, possui mais meios (bolsas e investigação a sério) para prosseguir uma carreira científica no exterior. Este será um dos grandes problemas de Portugal que está a tentar ser encoberto, a massa intelectual (jovem principalmente) portuguesa vai emigrar por falta de condições de vida e nenhum deles no seu perfeito juízo entrará no mundo da política para o bem do país.


Nome, RFM. 25.04.2010 17:11
Um artigo muito conveniente.

Os melhores investigadores vão para o estrangeiro. Quem fica em Portugal coloca outro tipo de prioridades (família, casa). As Universidades estão cheias de Professores que nada fazem. Os quadros universitários têm uma média de idades à volta dos 50 anos. Grande parte dos estrangeiros em Portugal são aqueles que são rejeitados nos outros institutos europeus. A FCT avalia o CV dos candidatos com base no número de artigos científicos publicados, independentemente do número de autores envolvidos ou da qualidade da revista científica. O número de bolsas atribuídas aumenta de ano para ano porque há 7 anos que o valor da bolsa não é revisto e porque diminuíram para metade o período de permanência no estrangeiro para Pós-Doutorados. No concurso do ano passado afirmavam que "bolsas de pós-doutoramento no estrangeiro apenas serão atribuídas em condições excepcionais". Andam a "cortar" a possibilidade de adquirir uma melhor formação. Perguntem ao ministro quantas pessoas, sem ser na qualidade de bolseiros, foram contratadas pelas Universidades. Quantos tinham menos de 40 anos? Este artigo não traduz a realidade.


Anónimo, Lisboa. 25.04.2010 20:49
O que é que nós podemos fazer pelo país

Nasci em 1971, numa família de classe média, sem luxos e tradição de estudos, mas nunca me faltou o essencial, a educação. Acabei o ensino secundário onde tive excelentes professores que me inspiraram para entrar na universidade. Na universidade, fiz um Erasmus, acabei o curso, e segui para doutoramento. Depois estive fora 3 anos num pós-doutoramento. Podia ter ficado fora do país, foi uma decisão difícil, mas resolvi regressar, acreditei que podia contribuir para a mudança. O regresso foi complicado e a adaptação ainda mais, outro pós-doutoramento, desta vez no país, mas a produtividade diminuiu brutalmente. Consegui um lugar de investigador e mais tarde um lugar de professor na universidade. Neste momento o meu currículo científico e profissional é bom no contexto Português, ficará atrás de muitos pares dos países mais desenvolvidos. Não faria no entanto nada de diferente, o que consegui foi por mérito e muito trabalho. As oportunidades também somos nós que as criamos se estivermos presentes, mudar o país e a mentalidade exige um esforço colectivo e individual, temos que querer e lutar para construir o país que desejamos, nenhum governo nos vai oferece-lo numa bandeja.


Anónimo, S. Mamede de Infesta. 25.04.2010 23:09
Fuga de cérebros

Isto é um assunto complexo e de estratégia nacional a longo prazo. Algumas perguntas pertinentes a adicionar ao arrazoado:
1 - Quantos portugueses licenciados deixam o país por ano? Existe capacidade do país absorver os licenciados que produz?
2 - Quantos portugueses com um doutoramento deixam o país por ano?
3 - Quantos portugueses com um doutoramento são contratados pela indústria por ano?
4 - Há procura de portugueses com doutoramento por parte da indústria? Quantas empresas organizaram feiras de emprego para doutorados nas universidades?
5 - Existe carreira de investigador (ou de desenvolvimento, ou de investigação aplicada, ou tecnológica) nas empresas? Qual o enquadramento na indústria para um jovem que regressa a Portugal com um doutoramento em Engenharia?
6 - Qual a razão entre o número de doutorados que vai para a indústria e o número de doutorados que vai para a universidade nos EUA? E em Portugal?
Neste momento, provavelmente a capacidade de Portugal produzir licenciados, mestres e doutorados é superior à procura nacional (o que não quer dizer que a percentagem destes na sociedade não seja reduzida face a outros países).


MMR, Portugal. 26.04.2010 00:20
Investiguem senhores jornalistas

1. Qual foi o montante desperdiçado por Portugal, entre 1994 e 2008, de financiamentos europeus para desenvolvimento de infra-estruturas e formação de recursos humanos.
2. Investiguem quanto tempo decorre entre a abertura, pela FCT, de concursos para financiamento de projectos e o efectivo financiamento dos projectos seleccionados.
3. Quantos doutorados e pós-doutorados estão sub-empregados ou mesmo desempregados em Portugal. Nem nos concursos para o ensino básico eles têm hipóteses. Isto seria uma medida essencial para melhorar o nível de formação deste país.
4. Desses 4500 bolseiros quantos ainda estão em Portugal, e desses quais os que sobrevivem com bolsas anuais.
Isto sim seria números da ciência em Portugal.


Anónimo, Esposende. 26.04.2010 01:50
Há melhorias, mas nem tudo está a ser bem feito

Há que louvar alguns esforços para atrair os investigadores. Mas algo que aconteceu o ano passado (e provavelmente acontecerá este ano) foi deixarem de financiar bolsas de pós-doutoramento no estrangeiro. É um tremendo erro, pois é um período fundamental para o desenvolvimento científico e passagem a investigadores independentes dos jovens doutorados. Dá ideia que nos queremos fechar, e isso não é bom. O desenvolvimento precisa de intercâmbio, preferencialmente em instituições estrangeiras de elevado renome. O facto de se fazer um pós-doutoramento no estrangeiro não significa (muito pelo contrário) que o investigador acabe por lá ficar. Em 2009 o regulamento de bolsas foi alterado em Maio e Junho! Tendo em vista o concurso de Setembro! A principal novidade foi que bolsas de pós-doutoramento no estrangeiro passariam a ser financiadas a nível excepcional (quando fosse inequívoco o interesse estratégico para o país - e aqui não tenho objecções), e pela duração máxima de 1 ano! Quem faz ciência experimental sabe que a probabilidade de se conseguir resultados de jeito num ano é quase impossível, ou seja, bolsas lá para fora acabaram na prática, e isto em tecnologia de ponta é um erro.


domingo, 25 de abril de 2010

Mind this gap - I


Triste ver o Professor Mariano Gago prestar-se à divulgação de propaganda. Infelizmente a realidade é outra, e contra estes factos não há argumentos. Aqui fica um excerto:



Desde o início da década de 90, Portugal tem "exportado" cerca de um quinto dos seus trabalhadores com graus universitários, uma taxa que nos coloca a par (em termos relativos) de países como o Afeganistão, Togo, Malawi e República Dominicana (ver tabela abaixo).

Emigration rate of university educated workers - Countries most affected
Haiti
Sierra Leone
Ghana
Mozambique
Kenya
Laos
Uganda
Angola
Somalia
El Salvador
Sri Lanka
Nicaragua
Hong Kong
Cuba
Papua New Guinea
Vietnam
Rwanda
Honduras
Guatemala
Croatia
Afghanistan
Dominican Rep.
Portugal
Togo
Malawi
Cambodia
Senegal
Cameroon
Morocco
Zambia
83.6%
52.5%
46.8%
45.1%
38.4%
37.4%
35.6%
33.0%
32.6%
31.0%
29.6%
29.6%
28.8%
28.7%
28.5%
27.1%
25.8%
24.4%
24.2%
24.1%
23.3%
21.6%
19.5%
18.7%
18.7%
18.3%
17.2%
17.0%
17.0%
16.8%
Source: Docquier and Marfouk (2006)

Por sua vez, outro estudo que analisou os níveis de escolaridade dos emigrantes para os 6 maiores países receptores do mundo (Austrália, Canadá, França, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos), mostra resultados similares (Defoort 2008). De todos os países da OCDE, Portugal tem uma das piores fugas de cérebros. Posto de um modo simples, e uma vez mais, pior que nós só a Irlanda. Nem mesmo os países do Leste Europeu têm uma fuga de cérebros tão alta como a nossa (Tabela 2).

Emigration rate of tertiary educated workers
Czech Republic
France
Germany
Greece
Hungary
Ireland
Italy
Netherlands
Poland
Portugal
Romania
Slovakia
Slovenia
Spain
United Kingdom
7.2%
1.7%
3.7%
10.9%
11.1%
28.6%
8.3%
7.6%
12.7%
18.0%
9.2%
7.7%
10.1%
3.3%
14.3%
Source: Defoort (2008)


Alguns emigrantes qualificados com graus universitários enviaram os seus testemunhos para o blogue Mind this gap (Lembrem-se deste vazio).

Chopin, Piano Sonata No. 2 in B-flat minor, Op. 35



I. Grave. Doppio movimento




II.Scherzo




III.Lento
IV.Finale. Presto




Fogo de vista



A descolonização não foi a melhor (...) e o 25 de Abril não conseguiu responder às aspirações justas e fundadas e aos interesses legítimos da maioria dos portugueses.



00:01 Vistoso fogo de artifício brota da Quinta da Atalaia. Com o Tejo em maré baixa, o catamarrã da meia noite da Soflusa, à passagem da enseada do Seixal, parecia deslizar entre esferas em expansão de estrelas verdes e rubras. Pouco depois, subiam rastos de luz do terminal fluvial, a desfazerem-se em estrelas azuis e brancas.

00:10 Sobre os vultos negros das torres das Amoreiras aparecem umas tímidas esferas de fogo.

00:20 Começa o fogo de Almada, também a subir de dois pontos, um à beira rio e outro no alto dos penhascos fronteiros a Lisboa, pareceu-me, com estrondo e miríades de estrelas. Belo fogo de artifício, talvez a beneficiar de alguma ajuda de fogo de vista de Belém.


Ninguém se lembrou de sincronizar os vários lançamentos.

Ninguém reparou na ponte meio às escuras, com a torre sul e os cabos de suspensão do tabuleiro de luzes apagadas.

Ninguém se apercebeu do soberbo panorama que se desfruta, nos lugares da frente dos catamarãs da Soflusa, do conjunto arquitectónico do Terreiro do Paço e das colinas envolventes.
Só os turistas que visitam a capital e que não encontram, nem na estação de Sul e Sueste, nem no terminal fluvial do Barreiro, uma alma capaz de alinhavar uma frase em inglês.


No céu, a Lua em avançado Quarto Crescente, a lembrar a inflação dos juros da dívida pública do país nesta semana, assistiu impávida e serena.

Amanhã celebrar-se-á missa de corpo presente na Assembleia da República.


sexta-feira, 16 de abril de 2010

Erupção vulcânica no Eyjafjallajökull - II



A erupção do vulcão do Eyjafjallajökull, localizado no extremo sul da Islândia, que teve início em 21 de Março de 2010, recrudesceu na madrugada de 14 de Abril.
Agora a erupção ocorreu através da cratera principal no centro do glaciar, provocando inundações devido à fusão do gelo.


Durante uma erupção vulcânica, grandes quantidades de cinzas e gases, principalmente dióxido de enxofre (SO2), são lançadas na troposfera média e superior em concentrações invulgarmente elevadas.

Desde que a erupção recomeçou na quarta-feira, foram expelidas cinzas até à altitude de 10 km.
Ora nesta época o Atlântico Norte está quase completamente coberto de nuvens. À mistura inicial de cinzas vulcânicas com partículas de gelo das nuvens seguiu-se a formação de uma nuvem de cinzas vulcânicas, acima do tecto de nuvens.

Nuvem de cinzas vulcânicas sobre o glaciar Eyjafjalla


Fortes ventos de noroeste empurraram esta nuvem para o norte da Europa.
O Instituto de Meteorologia Islandês, usando dados do satélite Meteosat-9 da EUMETSAT, produziu uma sequência de imagens de satélite onde se vê a nuvem de cinzas vulcânicas provenientes do Eyjafjallajökull a alcançar a costa da Noruega na quinta-feira 15 de Abril, continuando a mover-se para sudeste na direcção do Mar do Norte.
Inicialmente a nuvem apresenta cor preta, devido às partículas de gelo que disfarçam as cinzas mostradas a amarelo-laranja. Mas à medida que a nuvem avança para leste adquire um tom avermelhado, indicando já claramente a presença de cinzas vulcânicas.

Como as cinzas vulcânicas expelidas para a atmostera podem danificar as turbinas dos aviões, as rotas aéreas têm de evitar estas áreas, o que está a ter um impacto dramático no tráfego aéreo europeu e transatlântico.

A nuvem de cinzas vulcânicas, que já se estende desde o Reino Unido até à Finlândia, está a avançar, à velocidade de 25 km/h, para a Rússia e Europa Central, sendo monitorizada continuamente pelo satélite geoestacionário Meteosat-9 da EUMETSAT:




2010.04.15 19:30 a 2010.04.16 06:45 UTC


quarta-feira, 7 de abril de 2010

Solar Impulse II - O projecto



O protótipo Solar Impulse foi desenvolvido por cientistas e engenheiros da École Polytechnique Fédérale de Lausanne.

Dados técnicos
Tripulação: 1
Envergadura: 63,40 m
Comprimento: 21,85 m
Altura: 6,40 m
Área das asas: 200 m2
Células fotovoltaicas: 11 628 (10 748 nas asas + 880 no estabilizador horizontal)
Peso: 1600 kg
Baterias de lítio: 400 kg (capacidade: 200 Wh/kg, i.e. 80 KWh)
Potência máxima: 4 x 7,6 kW motores eléctricos
Velocidade de descolagem: 35 km/h
Velocidade de cruzeiro: 70 km/h
Altitude máxima: 8,5 km

Com uma envergadura similar à de um Boeing 747 e o peso de um automóvel, terá quatro casulos sob as asas, cada um com um motor eléctrico e um conjunto de baterias de lítio.
As células fotovoltaicas na superfície superior das asas e da cauda geram energia eléctrica durante o dia, que impulsiona o avião e recarrega as baterias para o voo nocturno.
A questão da energia determina todo o projecto, desde as dimensões da estrutura até às restrições de peso máximo.

Ao meio-dia, cada m2 de superfície terrestre recebe 1 quilowatt de potência solar; mas durante o dia (24 h) a média é apenas 250W/m2. Com 200 m2 de células fotovoltaicas e 12% de eficiência na cadeia de propulsão, os motores do avião recebem, em média, 6kW que é, aproximadamente, a potência de que dispunham os irmãos Wright no voo de 1903.

Todavia a principal limitação do projecto são as baterias. Excessivamente pesadas, exigem uma redução drástica do peso do resto do avião. Com uma densidade de energia de 200Wh/kg, o voo nocturno exige 400 kg de baterias, ou seja, mais de 1/4 da massa total do avião.
Só um avanço tecnológico que aumente a capacidade da bateria permitirá um segundo piloto, diminuir a envergadura da asa ou aumentar a velocidade de voo.




Uma animação com três dimensões para sonhar!

Solar Impulse I - Voar com o Sol



Em 3 de Dezembro de 2009 o protótipo de um avião propulsionado pela energia solar, o Solar Impulse, descolou pela primeira vez, tendo percorrido 350 m à distãncia de 1 m do solo.
Este pequeno voo, em que o aparelho utilizou a energia da sua bateria, destinava-se a obter informação sobre o seu comportamento (reacção aos comandos, aceleração, distância de travagem, ...).





Para os pioneiros Bertrand Piccard e André Borschberg e a equipa do Solar Impulse o sucesso desta experiência foi a realização do sonho de construir um avião propulsionado por energias renováveis e a recompensa por 6 anos de trabalho muito intenso.

Deu-se então início à fase seguinte: a montagem do painel fotovoltaico nas asas para os testes de voo solar.
Hoje, no aeroporto de Payerne, na Suiça, fez-se história:





O Solar Impulse, movido pelos seus quatro motores eléctricos alimentados pela energia captada pelos painéis solares das suas asas, elevou-se no ar pelas 10:30 (GMT+2:00) e voou durante 1 hora e 27 minutos, tendo atingido 1,6 km de altitude e a velocidade de 55 km/h.

O próximo objectivo será a realização, em 2012, de um voo de circum-navegação.