segunda-feira, 26 de julho de 2010

O encerramento das escolas II - EB1 Várzea de Abrunhais


Diz a Resolução do Conselho de Ministros 44/2010:

"Serão encerradas aquelas escolas em que um só professor ensina, ao mesmo tempo, um número reduzido de alunos do 1.º ao 4.º ano e em que não existem as infra-estruturas adequadas, como cantina, biblioteca, ou equipamentos informáticos."

Ora a EB1 Várzea de Abrunhais tem um refeitório e, como está inserida numa freguesia rural, algumas crianças podem almoçar com as suas famílias. Não tem biblioteca, mas dispõe de um sistema de projecção constituído por quadro interactivo, videoprojector e computador e todas as crianças possuem computador com ligação à Net.

As actividades dos alunos desta escola estão documentadas na Net.
Comecemos pelos vídeos do ano lectivo 2008/2009, duas photostories, uma dos onze alunos dos 1º e 2º anos e outra dos treze alunos dos 3º e 4º anos:







Seguem-se as actividades relativas ao ano lectivo findo.
A primeira, uma visita ao campo no início do Outono é, de longe, a melhor de todas. No estado miserável em que se encontra o ensino, duvida-se que haja muitas escolas do 1º ciclo que tenham realizado uma actividade de nível similar. Segue-se uma actividade de Geometria, a única no domínio da Matemática, e depois uma peça de teatro:









Agora temos uma actividade sobre Alimentação e depois duas sobre o Ambiente com a particularidade da última introduzir a língua inglesa:









Os dois vídeos finais documentam uma visita das três melhores alunas à Microsoft, onde se vê as miúdas a brincar com um ecrã interactivo (touchscreen) e a fazerem de conta que são oradoras:







O que é que estas crianças aprenderam? Aprenderam a construir uma photostory: fazem um desenho, digitam pequenas frases, com alguns erros, no computador ou num cartaz, lêem-nas e depois tudo isto é gravado em vídeo e carregado no Youtube.
Estão muito avançadas no uso das Tecnologias da Informação e Comunicação, mesmo muito mais que as crianças de freguesias situadas nas grandes cidades.
Mas é aflitivo o vazio no domínio da Matemática: uma única (fraca) actividade de Geometria e nenhuma de Aritmética.


Se um docente adoptar sistematicamente pedagogias directivas, i. e. se for para o quadro debitar uma aula com os alunos do outro lado a ouvir, vai haver, sobretudo nesta idade, casos de abandono escolar. Mas os alunos que resistirem vão apreender a ler e a escrever correctamente, vão aprender as tabuadas das quatro operações elementares, a usá-las e a desenvolver o cálculo mental.
Se, no outro extremo, o docente enveredar completamente pelas pedagogias activas, ou seja, se distribuir os alunos por grupos dando-lhes computadores, ou jogos didácticos, para aprenderem brincando, no final do ano lectivo os alunos não adquiriram nem um décimo dos conteúdos programáticos do seu ano curricular.

Então qual é a solução?
Começar por cumprir a legislação que já exige, mesmo em regime de monodocência, o respeito por um horário com tempos lectivos para Português, Matemática, …
Em segundo lugar dosear os dois tipos de pedagogia dando 60% à primeira, ou seja, dentro de cada disciplina reservar 3 em cada 5 tempos para aula directiva, o que não é de modo algum excessivo quando se dispõe de um quadro interactivo: o docente, num minuto, pode gravar no seu computador o trabalho que os alunos façam no quadro e enviá-lo por correio electrónico para todos os alunos da turma, de modo a criar alguma interactividade.

Podia a docente escolher esta solução? Não, porque nenhum docente pode dar ao mesmo tempo, e na mesma sala, os conteúdos dos vários anos curriculares do primeiro ciclo.
Daí a exigência do número mínimo de 21 alunos que serão distribuídos por dois docentes, um ficando com alunos do 1º e 2º anos e o outro com o 3º e 4º anos.

Mas a docente executou o melhor que lhe era possível a política educativa de José Sócrates e Lurdes Rodrigues e ajudou a Microsoft a atingir os seus objectivos comerciais.
Tornou conhecida a escola de Várzea de Abrunhais, até fora de Portugal, e agora decidem fechá-la. Será que lhe vão dar um emprego na Microsoft, no ME, na FLAD ou, pelo menos, no novo centro escolar? Usaram um ser humano e agora descartam-no?

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