segunda-feira, 26 de abril de 2010

Mind this gap - II



Em mais de uma centena de comentários à notícia do Público "Portugal tem novas armas para travar fuga de cérebros" escolheram-se alguns que podem contribuir para aprofundar a discussão à volta da investigação científica no nosso país:


Anónimo, Lisboa, Portugal. 25.04.2010 11:43
Ciência e desenvolvimento

Por várias razões, não sou exactamente um admirador incondicional de Mariano Gago. Mas também me espanta este discurso miserabilista de tantos candidatos a PhD... Caros, a Ciência não se desenvolve pela Ciência. A razão social para financiar a Investigação não é fazê-lo para esta ser um objectivo lúdico dos seus intervenientes (embora, para os bons investigadores, o seja quase isso). O objectivo último de fomentar a investigação é que possa contribuir para o reforço e progresso do tecido empresarial e da qualidade de vida de todos nós. Não há empresas para empregar Doutorados? Claro que há poucas. Estamos a concluir a primeira geração de Doutorados que encontram os locais tradicionais de emprego (Universidades e Institutos) quase cheios. As alternativas? Ir para o estrangeiro, recorrer ao sub-emprego ou... reforçar o empreendedorismo: criar novas empresas avançadas na área tecnológica que possam gerar emprego e riqueza a todos os níveis da sociedade, PhD incluídos, e sejam uma alternativa (ou variante) tecnologicamente avançada das nossas indústrias tradicionais. Sabemos que este é um sistema com perdas, mas também sabemos que, como na própria Ciência, a qualidade resulta em...


Lurdes Monteiro , Gaia. 25.04.2010 12:01
Doutores e doutores

O ministro MG não tem uma visão de como o país se pode desenvolver pela inovação. Distribui bolsas a torto e a direito, em todas as áreas científicas, sem olhar ao que interessa para o desenvolvimento do país. Quer é aparecer bem nas estatísticas. Dá muitas bolsas mas não sabe escolher as áreas que são importantes para criar empresas e empregos. Para que me serve ter 300 doutorados em antropologia se só tenho 30 em biotecnologias? Vamos lá desmontar estas estatísticas para enganar o Povo.


Anónimo, Localidade, País. 25.04.2010 12:46
Uma completa falsidade!

A quem é que querem atirar areia para os olhos? Esta notícia é completamente falsa e demagógica. A fuga de cérebros é uma realidade em Portugal, ao contrário do que diz esta notícia, que não passa exclusivamente de um disfarce da verdadeira realidade! Não basta lançar números referentes ao aumento do número de bolsas concedidas, como se isso fosse um sinal de um país onde se faz ciência de altíssima qualidade! Temos excelentes grupos de investigação, óptimos investigadores, sim senhor, mas continua a ser um "trabalho", que não é reconhecido como tal! Bolsas que não são aumentadas há mais de 10 anos, ausência de segurança social, 12 meses de bolsa por ano, entre tantas outras coisas que caracterizam uma realidade: este país não reconhece os bolseiros de investigação científica como trabalhadores activos! Olhem para as declarações de IRS dos milhares de bolseiros deste pais e vejam o numero que aparece nos seus rendimentos... 0 (zero), pois este país, que agora vem dizer que anda a travar a fuga de cérebros... considera um investigador como um eterno estudante subsidiado por uma bolsa! Sou bolseiro de investigação científica a acabar o meu doutoramento em Portugal e...


Anónimo, Boston, MA. 25.04.2010 13:10
Sem números...

Eu trabalho no estrangeiro como um postdoc e não pretendo voltar a Portugal. Concordo que a investigação em Portugal esteja melhor pois conheço quem tenha voltado. No entanto é completamente inaceitável que o ministro venha a público dizer que a fuga de cérebros não existe em Portugal, sem apresentar números... Isto revela muito pouco rigor científico de um ministro que até tem formação científica... Sem números esta notícia não faz sentido, assim como esta discussão...


Farto, de atrofiados. 25.04.2010 14:54
Fuga não é o problema

A questão da fuga de cérebros é falsa. o que é preciso é atrair cérebros. Nisso a notícia é clara: "... no primeiro parque português de biotecnologia, o Biocant (Cantanhede), há 150 investigadores e apenas cinco são estrangeiros ." Algo que se passa em todos os institutos de investigação em Portugal. Vejam agora o exemplo do Centro de Regulação Genómica em Barcelona onde num universo de 300 cientistas, mais de 210 são estrangeiros. Isto sim é saber captar "cérebros"... E uns quantos são portugueses. No meu laboratório (20 e tal pessoas), num instituto diferente, havia mais de 10 nacionalidades. Isto é que são dados que mostram trabalho feito e bem feito. Deixar fugir não é o problema, captar é que é importante.


Marco, Lisboa. 25.04.2010 15:26
Números... e a qualidade?

Mais do que a questão de quantas pessoas estão cá ou não estão, existe também a questão da qualidade do trabalho. Quantos alunos de doutoramento da FCT (por exemplo) é que estão a fazer algo de útil para o tecido empresarial Português (ou estrangeiro)? A gerar riqueza real e não uma riqueza abstracta pelo bem da ciência? Quantos dos seus supervisores procuram resolver problemas actuais e ser "de topo" face a "receberem o deles" e irem fazendo uns artigos pouco inspirados (com respectivas viagens de borla...) e em assuntos com mais de 20 anos e sem interesse? Quem é que está a tentar encontrar colaborações com empresas? Muitíssimo poucos! E que pessoa profissional é que tem interesse em trabalhar num ambiente assim? Eu, como actual estudante de doutoramento e ex-investigador num dos maiores centros de investigação privados da Europa digo com clareza: não dá gosto investigar em Portugal e vou sair quando concluir o doutoramento.


Anónimo, Coimbra. 25.04.2010 16:36
O parasitismo na ciência em Portugal

Eu acho que os nossos dirigentes andam completamente fora do mundo ou então andam a brincar e a mentir ao povo porque penso que desconhecem o terreno real sobre o qual falam. Vou dar-vos o meu exemplo. Sou médico, especialista, e o que aprendi na área da virologia foi por minha custa, iniciativa e sacrifício. O meu hospital (Conselho de Administração), interessou-se pelo meu projecto e depois de um estágio de um ano nos Estados Unidos equiparado a bolseiro e à minha custa, quando cheguei comecei a trabalhar dando apoio à transplantação hepática e à sida, enquanto mantinha as minhas actividades clínicas e a fazer a uma especialidade médica. Fiz o meu doutoramento com dinheiro de um concurso que ganhei na FTC. Publiquei artigos e quando tenho a minha equipa treinada para produzir e publicar o actual CA decide integrar o laboratório noutro serviço eliminando-me completamente em termos de carreira, tendo-me sido negado qualquer cargo além de "responsável". Alguém irá lucrar com o meu trabalho e esforço, adquirindo as coisas por via administrativa. Em Portugal quem lucra sempre são os parasitas ligados ao poder ou aos partidos.


Bernardo, Lisboa. 25.04.2010 16:50
Investigação

Investigação científica em Portugal só pontualmente é relevante e por mérito próprio de um grupo restrito de investigadores. No entanto, o padrão comum desta gente é não ir trabalhar, não contribuir para a sociedade (parasitá-la no fundo), fingir que sabe dar aulas nas universidades e publicar periodicamente aquilo a que chamam de paper. Esse paper na maior parte das vezes é aquilo a que eu chamo de toilet paper. Este aparecimento do Ministro a afirmar que Portugal é um exemplo na fuga de cérebros é uma falsidade completa e um encobrimento da realidade. Tanto é que não tem dados para o provar. A massa intelectual portuguesa não estará em Portugal para empregos deploráveis, altos impostos, justiça corrompida, educação miserável, compadrio político, etc. Qualquer pessoa com capacidade e inteligência, possui mais meios (bolsas e investigação a sério) para prosseguir uma carreira científica no exterior. Este será um dos grandes problemas de Portugal que está a tentar ser encoberto, a massa intelectual (jovem principalmente) portuguesa vai emigrar por falta de condições de vida e nenhum deles no seu perfeito juízo entrará no mundo da política para o bem do país.


Nome, RFM. 25.04.2010 17:11
Um artigo muito conveniente.

Os melhores investigadores vão para o estrangeiro. Quem fica em Portugal coloca outro tipo de prioridades (família, casa). As Universidades estão cheias de Professores que nada fazem. Os quadros universitários têm uma média de idades à volta dos 50 anos. Grande parte dos estrangeiros em Portugal são aqueles que são rejeitados nos outros institutos europeus. A FCT avalia o CV dos candidatos com base no número de artigos científicos publicados, independentemente do número de autores envolvidos ou da qualidade da revista científica. O número de bolsas atribuídas aumenta de ano para ano porque há 7 anos que o valor da bolsa não é revisto e porque diminuíram para metade o período de permanência no estrangeiro para Pós-Doutorados. No concurso do ano passado afirmavam que "bolsas de pós-doutoramento no estrangeiro apenas serão atribuídas em condições excepcionais". Andam a "cortar" a possibilidade de adquirir uma melhor formação. Perguntem ao ministro quantas pessoas, sem ser na qualidade de bolseiros, foram contratadas pelas Universidades. Quantos tinham menos de 40 anos? Este artigo não traduz a realidade.


Anónimo, Lisboa. 25.04.2010 20:49
O que é que nós podemos fazer pelo país

Nasci em 1971, numa família de classe média, sem luxos e tradição de estudos, mas nunca me faltou o essencial, a educação. Acabei o ensino secundário onde tive excelentes professores que me inspiraram para entrar na universidade. Na universidade, fiz um Erasmus, acabei o curso, e segui para doutoramento. Depois estive fora 3 anos num pós-doutoramento. Podia ter ficado fora do país, foi uma decisão difícil, mas resolvi regressar, acreditei que podia contribuir para a mudança. O regresso foi complicado e a adaptação ainda mais, outro pós-doutoramento, desta vez no país, mas a produtividade diminuiu brutalmente. Consegui um lugar de investigador e mais tarde um lugar de professor na universidade. Neste momento o meu currículo científico e profissional é bom no contexto Português, ficará atrás de muitos pares dos países mais desenvolvidos. Não faria no entanto nada de diferente, o que consegui foi por mérito e muito trabalho. As oportunidades também somos nós que as criamos se estivermos presentes, mudar o país e a mentalidade exige um esforço colectivo e individual, temos que querer e lutar para construir o país que desejamos, nenhum governo nos vai oferece-lo numa bandeja.


Anónimo, S. Mamede de Infesta. 25.04.2010 23:09
Fuga de cérebros

Isto é um assunto complexo e de estratégia nacional a longo prazo. Algumas perguntas pertinentes a adicionar ao arrazoado:
1 - Quantos portugueses licenciados deixam o país por ano? Existe capacidade do país absorver os licenciados que produz?
2 - Quantos portugueses com um doutoramento deixam o país por ano?
3 - Quantos portugueses com um doutoramento são contratados pela indústria por ano?
4 - Há procura de portugueses com doutoramento por parte da indústria? Quantas empresas organizaram feiras de emprego para doutorados nas universidades?
5 - Existe carreira de investigador (ou de desenvolvimento, ou de investigação aplicada, ou tecnológica) nas empresas? Qual o enquadramento na indústria para um jovem que regressa a Portugal com um doutoramento em Engenharia?
6 - Qual a razão entre o número de doutorados que vai para a indústria e o número de doutorados que vai para a universidade nos EUA? E em Portugal?
Neste momento, provavelmente a capacidade de Portugal produzir licenciados, mestres e doutorados é superior à procura nacional (o que não quer dizer que a percentagem destes na sociedade não seja reduzida face a outros países).


MMR, Portugal. 26.04.2010 00:20
Investiguem senhores jornalistas

1. Qual foi o montante desperdiçado por Portugal, entre 1994 e 2008, de financiamentos europeus para desenvolvimento de infra-estruturas e formação de recursos humanos.
2. Investiguem quanto tempo decorre entre a abertura, pela FCT, de concursos para financiamento de projectos e o efectivo financiamento dos projectos seleccionados.
3. Quantos doutorados e pós-doutorados estão sub-empregados ou mesmo desempregados em Portugal. Nem nos concursos para o ensino básico eles têm hipóteses. Isto seria uma medida essencial para melhorar o nível de formação deste país.
4. Desses 4500 bolseiros quantos ainda estão em Portugal, e desses quais os que sobrevivem com bolsas anuais.
Isto sim seria números da ciência em Portugal.


Anónimo, Esposende. 26.04.2010 01:50
Há melhorias, mas nem tudo está a ser bem feito

Há que louvar alguns esforços para atrair os investigadores. Mas algo que aconteceu o ano passado (e provavelmente acontecerá este ano) foi deixarem de financiar bolsas de pós-doutoramento no estrangeiro. É um tremendo erro, pois é um período fundamental para o desenvolvimento científico e passagem a investigadores independentes dos jovens doutorados. Dá ideia que nos queremos fechar, e isso não é bom. O desenvolvimento precisa de intercâmbio, preferencialmente em instituições estrangeiras de elevado renome. O facto de se fazer um pós-doutoramento no estrangeiro não significa (muito pelo contrário) que o investigador acabe por lá ficar. Em 2009 o regulamento de bolsas foi alterado em Maio e Junho! Tendo em vista o concurso de Setembro! A principal novidade foi que bolsas de pós-doutoramento no estrangeiro passariam a ser financiadas a nível excepcional (quando fosse inequívoco o interesse estratégico para o país - e aqui não tenho objecções), e pela duração máxima de 1 ano! Quem faz ciência experimental sabe que a probabilidade de se conseguir resultados de jeito num ano é quase impossível, ou seja, bolsas lá para fora acabaram na prática, e isto em tecnologia de ponta é um erro.


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