terça-feira, 22 de junho de 2010

Estudantes têm cada vez mais dificuldades de base em Matemática


Afirma o Público, numa notícia com um erro de Português no título, que saber a tabuada de cor, resolver uma equação, fazer contas com parêntesis, somar fracções ou multiplicar potências são algumas das dificuldades que os estudantes têm em Matemática quando chegam à universidade. Nada que os docentes do básico e secundário desconheçam.

Acrescenta ainda que o problema já não é só de conhecimento. Traduz-se no comportamento. É importante manter um ambiente de trabalho. Numa aula os alunos não devem colocar os pés na cadeira da frente, nem manter os bonés na cabeça. Devem evitar sair durante a aula e é costume colocar o dedo no ar quando querem falar. Não é permitido o uso de telemóveis.
Por isso os semestres nas faculdades passaram a começar com uma explicação das regras básicas de funcionamento de uma aula, que é necessário relembrar ao longo do ano. "Tenho conseguido ser a autoridade dentro da sala mas perco tempo a explicar normas simples e coisas que nem sabem que não devem fazer", conta Ana Rute Domingos, professora do departamento de Matemática da Faculdade de Ciências da Universidade Lisboa.

Paulo de Carvalho, que lecciona Teoria da Informação e Computação Gráfica na licenciatura em Engenharia Informática na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, corrobora esta opinião: "Classifico-os como uma geração wikipedia: satisfazem-se muito facilmente com conhecimentos superficiais." E o docente, de 42 anos, a dar aulas há 19 anos, acrescenta: "Há ausência de consolidação de conceitos e os alunos estão viciados no uso da calculadora."

No Instituto Superior Técnico, da Universidade Técnica de Lisboa, Luísa Ribeiro, docente do departamento de Matemática que tem leccionado cadeiras como Cálculo Diferencial e Integral em vários cursos de engenharia, contou uma história elucidativa. Fizeram há uns anos uma prova de diagnóstico para perceberem as dificuldades dos alunos. Uma das perguntas, que servia para "aquecer", era: Quanto é um meio mais um meio? A resposta era de escolha múltipla. Cerca de 27 por cento falhou. Em jeito de ironia Luísa Ribeiro, de 53 anos, assume que chegam "infantilizados", o que não estranha tendo em conta que "até a idade pediátrica foi alargada até aos 18 anos". "Em algum lado têm de começar a ser responsáveis. Têm uma preparação de uma pessoa de início de secundário ou pior. São ensinados a não pensar e isso em Matemática é desastroso. Foram treinados como um cãozinho para um exame", diz Luísa Ribeiro.

Para estes docentes um dos "culpados" é o (ab)uso da calculadora. Absolutamento de acordo.
"Explico-lhes que não é nenhum oráculo e que a Matemática é simples mas exige trabalho. É preciso treinar o raciocínio abstracto e a verdade é que já nem sabem somar fracções, multiplicar potências...", prossegue Luísa Ribeiro, que critica o facto de "tudo se fazer para ter estatísticas de sucesso sem nunca definir o que é sucesso".

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