terça-feira, 4 de maio de 2010

Avaliação ou farsa?


Noticia hoje o Público que a ministra da Educação, informou a Comissão Parlamentar da Educação, Ciência e Cultura, que foram avaliados 103.628 professores e, destes, foram classificados 14.448 com "Muito Bom" e 2957 com “Excelente”.
"Seria manifestamente injusto que os Excelente e Muito Bom neste momento vissem não ser considerada a avaliação do seu desempenho", afirma Isabel Alçada. "A avaliação não é um simulacro que não serve para nada".



É verdade que a avaliação não pode ser um simulacro que não serve para nada. Mas a Senhora Ministra sabe ou, pelo menos, tem a obrigação de saber que na maioria das escolas a avaliação foi uma farsa.

Primeiro porque, com a faculdade de recurso hierárquico para a respectiva Direcção Regional de Educação (DRE) consignada na legislação da avaliação do desempenho, as DRE’s receberam milhares de recursos.
Ora que directiva deu a Senhora Ministra a cada DRE? Reenviar qualquer tipo de recurso à escola para reapreciação.
Obviamente se nas escolas existir um grupo de compadrio formado pelo director, com os subdirectores, coordenadores de departamentos e representantes de núcleos por ele nomeados, ninguém se vai dar ao trabalho de reapreciar a questão. Até porque sabem que as DRE’s não procedem a quaisquer averiguações, indeferindo o recurso com aquilo que a escola disser.
E não venha dizer que são situações pontuais. Veja-se a indiferença dos órgãos de gestão perante os casos de bullying que acabaram por provocar os suicídios recentes de um aluno na EB2,3 Luciano Cordeiro (Mirandela) ou de um professor na EB2,3 de Fitares (Sintra). Atente-se no contencioso dos processos de eleição dos conselhos executivos/directores do Agrupamento de Escolas Inês de Castro, em Coimbra, Agrupamento de Santo Onofre, nas Caldas da Rainha, Escola Secundária da Régua e Escola D. Dinis, de Leiria, em 2009.

Em segundo lugar porque, sendo contemporânea do alargamento da escolaridade obrigatória para 6 anos (1964), sabe que na época nem havia escolas, nem professores suficientes. Montaram-se pavilhões pré-fabricados e criaram-se licenciaturas em ensino para formar rapidamente professores. Tinham cinco anos, como as outras, mas só havia exames nos dois primeiros anos, seguiam-se mais dois de conversa fiada e o último era um estágio pedagógico numa escola.
Depois aconteceu o 25 de Abril e das universidades saíram licenciados com três semestres de passagens administrativas (sem exames). Surgiram as Ciências da Educação a defender que os alunos podiam adquirir competências sem que os professores transmitissem conhecimentos, apenas brincando. Os defensores de pedagogias estritamente activas multiplicaram-se como cogumelos nas universidades e nos institutos politécnicos, entraram na Assembleia da República e instalaram-se no ME.
Construíram-se muitas escolas, bem equipadas, mas admitiram-se professores cientificamente mal preparados, muito permissivos com a indisciplina, sem rigor na avaliação dos alunos, que aderiram de alma e coração às teorias dos técnicos das Ciências da Educação, actualmente conhecidos por técnicos do Eduquês. Teorias essas que contaminam a política educativa, a legislação relativa ao ensino e os programas escolares, com o resultado que está à vista: os alunos estão a terminar o 9º ano sem serem capazes de interpretar um pequeno texto, escrever meia dúzia de linhas sem erros ortográficos e gramaticais, ou resolver um problema simples de Física ou de Matemática.

Alguma vez se separou o trigo do joio? Nunca.
Guterres permitiu-lhes aceder ao topo da carreira em 26 anos e Lurdes Rodrigues promoveu-os a professores titulares, através de um concurso administrativo, permitindo-lhes consolidar os lobbies que já tinham criado nas escolas. Alguns tiveram de pedir ajuda a colegas para abrir a aplicação informática do concurso, não obstante foram nomeados coordenadores de departamentos e núcleos pelos directores e o modelo de avaliação elevou-os à categoria de avaliadores de todos os outros docentes.
Haviam transformado a avaliação dos alunos numa farsa para melhorar estatísticas. Estão a converter a avaliação dos docentes numa tragédia, pois se até aqui só tinham influência na distribuição de horários e turmas, agora podem, e estão, a prejudicar gravemente a carreira dos colegas.
Bastava o ME criar uma base de dados com as habilitações académicas dos 125 mil docentes para concluir que só uma avaliação externa às aulas, feita por professores do ensino superior da área de leccionação, pode garantir que um docente será avaliado por mérito. E criar uma escola pública onde haja, de novo, rigor e exigência.

Senhora Ministra, ao introduzir a classificação da avaliação do desempenho do biénio escolar 2007/09 na graduação profissional, continua a expulsar os bons profissionais da escola pública, a destruir a qualidade do ensino e a impedir a qualificação dos jovens, prejudicando o desenvolvimento económico do país e condenando as futuras gerações a uma vida pior que a dos seus pais.


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