You cannot escape the responsibility of tomorrow by evading it today.
Abraham Lincoln
O drama de uma criança de 12 anos que frequentava a EB2,3 Luciano Cordeiro, em Mirandela, que alegadamente se terá atirado para as águas do rio Tua, depois de ter afirmado a um familiar que não suportava as agressões de que era vítima por parte de outros alunos, tem várias causas.
Causas políticas, como sejam a criação de uma legião de subsídio-dependentes a quem não é exigido qualquer trabalho em prol da comunidade, apenas que se inscrevam nos cursos Novas Oportunidades, a inclusão forçada de adolescentes que trazem a lei da selva para dentro dos muros da escola e o facilitismo no ensino.
O acréscimo de famílias desorganizadas e a perda de valores como o respeito e o mérito, ao ponto de professores serem menosprezados por algumas chefias se se empenharem no trabalho, indo contra a corrente da acomodação, serão algumas das causas sociais.
Quando tinha, como docente, um problema numa turma costumava ouvir as opiniões dos alunos e orientar a discussão de modo a promover testemunhos e argumentos que revelassem algum conhecimento sobre o assunto e respeito por um código de ética. Daí se transcreverem alguns dos comentários à notícia:
Pai revoltado, com o imobilismo de alguns bananas. 04.03.2010 16:43
O meu testemunho
Por detrás desta tragédia estará, certamente, um percurso de agressões que, ao não ser interrompido na altura própria, terá dado no que deu. Acredito que algumas vezes estas coisas acontecem com o conhecimento e imobilismo das Direcções das escolas.
Um filho meu sofreu de bullying no ano passado, na escola dele. Contactei várias vezes a sua Directora de Turma que, acreditem, achava que a solução estaria a jusante e não a montante. Ou seja, para ela, a solução era o meu filho não responder aos actos animalescos dos 2 ou 3 colegas que o insultavam constantemente e com ameaças constantes de agressão física, fazendo-o ter medo de ir para as aulas. Em relação aos agressores nada fazia.
Um dia, estando o meu filho numa aula, mandou-me uma mensagem a dizer “Estou ameaçado de pancada à saída da aula”. Respondi-lhe “Se ele começar, desfaz o gajo”, respondeu-me “Mas são 4”.
Posto isto, telefonei ao Conselho Executivo, que ainda me “puxou as orelhas”, pois eu nunca deveria ter aconselhado o meu filho a responder fisicamente a uma agressão física! Ainda tiveram o desplante de me dizerem que o meu filho não estava a integrar-se bem na nova turma.
mc , Algures. 04.03.2010 17:03
Triste fim
Pobre menino de 12 anos que triste fim. A vítima nunca é levada a sério, nem acompanhada pelos serviços de psicologia. Se tem acompanhamento é porque os pais estão muito atentos e conseguem-no através dos centros de saúde ou particular, porque o serviço de psicologia das escolas está disponível para acompanhar os agressores, necessitam de perceber as suas motivações.
Então quais são? Não é difícil de descobrir, alunos de 14 e 15 anos só pretendem demonstrar relativamente aos mais pequenos que são mais fortes, esses tipos nunca se metem com alunos da mesma idade.
Relativamente à escola (Direcção e Director de Turma) é de lamentar, deveriam averiguar antes, durante e depois, mas só resta o silêncio. Que escola é esta que protege os agressores e nada faz pelas vitimas?
À família, um abraço e que nunca se deixem silenciar, que lutem até às ultimas consequências.
Vp , Lz. 04.03.2010 17:55
A covardia dos "fortes"
A covardia dos "fortes", e não me refiro só aos adolescentes que agrediram, mas também aos adultos que se escondem atrás da mentira em que se tornou as suas vidas, como esse Sr. Representante dos pais. Gostaria de escutar as suas palavras se a criança que se suicidou fosse um dos seus filhos.
Toda a escola tem responsabilidades, assumam-nas de uma vez por todas e pelo menos trabalhem para que no futuro não aconteça mais lágrimas e dor. Pobres pais, pobres famílias, pobre ensino ao que chegastes!
Anónimo , Localidade, País. 04.03.2010 18:18
Bullying
Bullying é o termo utilizado para este tipo de comportamentos altamente destrutivo em termos emocionais e psicológicos, perpetrados geralmente contra crianças que são bons alunos e populares entre os colegas. O comportamento consiste em fazer guerra psicológica ao alvo minando-lhe a auto estima através de humilhações, abusos e até agressões constantes. Nos EUA, o bullying é atribuído como causa dos fenómenos de tiroteio nas escolas, em que os alvos estando de tal forma destruídos emocional e psicologicamente recorrem à violência extrema ou ao suicídio.
O mesmo se passa nos locais de trabalho, o workplace bullying que é extremamente frequente no Reino Unido e nos EUA, que consiste em desacreditar e descredibilizar um alvo, recorrendo a humilhações, repreensões e abuso psicológico constante. Tal como nas crianças o workplace bullying acontece a indivíduos competentes que estão particularmente dependentes do emprego. Tem o mesmo poder destrutivo.
Catani , Portugal, la piovra. 04.03.2010 19:17
Srs. Directores da Escola
Srs. Directores da Escola, Srs. Professores, Srs. Funcionários, Srs. do hospital que assistiram o Leandro. Srs. da Associação de pais, Srs. do ME:
Se eu não tivesse feito tudo o que estava ao meu alcance para ajudar o pequeno Leandro. Se eu, por ter erguido uma barreira, não tivesse possibilitado um pedido de ajuda. Se me chegasse um relatório a dizer que na Escola não existiam casos de bullying, e eu não tivesse entrado em alerta porque em todo o lado há casos de bullying. Se um aluno meu tivesse sido hospitalizado, a mãe tivesse já vindo à Escola implorar ajuda, e enquanto se procura o corpito do filho eu viesse dizer aos jornais que na minha escola não há registos de casos;
Então meus senhores eu não conseguiria viver, com a imagem da criança a fugir dos agressores, vendo toda a gente a virar a cara ao lado, sonhando com uma reforma dourada.
De noite iria acordar com o pesadelo da minha culpa por omissão, no homicídio por negligência grosseira, vejo-a a despir-se, a entrar na água gelada e sobretudo a despedir-se de todos nós enviando uma última mensagem, que cobardemente eu fingi durante anos não perceber, e mesmo hoje mais não faço do que sacudir a água do capote.
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