quinta-feira, 19 de agosto de 2010

As opções dependem da mentalidade dos povos





Durante o período de actividades lectivas, tenho de ir todos os dias à biblioteca da escola e aproveito para ver o que estão a fazer os alunos que aí se encontram.
Quando não há lá nenhuma aula, estão tantos alunos quantos os computadores disponíveis. E a fazer o quê? A jogar. Podem ser simuladores de desportos radicais, combates de naves espaciais, combates de artes marciais ou de guerreiros, ... Mas estão a jogar! Inquiri a funcionária: garantiu-me que é assim todo o dia.
Agora com os Magalhães os miúdos começam a viciar-se no jogo a partir do 1º ano.

Não é a primeira vez na nossa história que nos defrontamos com este fenómeno social. Recordemos que Stanley Ho estudou no Queen's College, Hong Kong e atingiu apenas a Class D porque tinha resultados académicos não satisfatórios. Depois imigrou para Macau onde criou uma rede de casinos, sendo dono de um dos maiores casinos asiáticos, o Hotel e Casino Lisboa de Macau. Alguns políticos portugueses já viram na apetência lusa para o jogo um meio de obter divisas para o país (Santana Lopes pretendia construir um casino no Parque Mayer, a expensas daquela jóia que é o Jardim Botânico da Universidade de Lisboa).

Fui dos que ficaram horrorizados com tal opção. Preferia ver os portugueses a trabalharem no desenvolvimento de produtos (bens alimentares, máquinas, medicamentos, …) que melhorassem a vida das pessoas, não nesta espécie de droga. Mas ei-la que regressa, agora a um nível mais sofisticado: jovens com competências informáticas capazes de produzirem serviços que podem ser comercializados em todo o mundo e puxar pela economia, como a empresa Seed Studios que cria jogos para a consola PlayStation 3, da Sony, com fundos do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) 2007-2013.

Há quem procure curar doenças, há quem crie paliativos para os que estão a morrer… As opções dependem da mentalidade dos povos.





Under Siege, o videojogo da Seed Studios para a PlayStation 3 da Sony.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A noite das Perseidas


Desde há dois mil anos, pelo menos, que as Perseidas suscitam a curiosidade humana.
Todos os anos, em Agosto, a Terra passa através de uma nuvem de detritos perdidos pelo cometa Swift-Tuttle cuja órbita em torno do Sol tem o período de 133 anos.
Esses pedaços de gelo e poeira – a maioria com mais de 1000 anos – inflamam-se na atmosfera da Terra criando uma das melhores chuvas anuais de meteoros. As Perseidas podem ser vistas em quase todo o céu, embora as melhores oportunidades de visualização ocorram no hemisfério norte, e são assim chamadas porque os meteoros parecem irradiar a partir de um ponto na constelação de Perseus.





Na noite de 03 de Agosto, pelas 21:56, um meteoro das Perseidas ─ com cerca de 2,5 cm de diâmetro e deslocando-se a uma velocidade de 216 km/h ─ entrou na atmosfera 113 km acima da cidade de Paint Rock, Alabama. A essa enorme velocidade, o meteoro descreveu uma trajectória com cerca de 105 km de comprimento, incendiando-se, finalmente, 90 km acima de Macay Lake, a nordeste da cidade de Warrior. O meteoro era seis vezes mais brilhante que o planeta Vénus e seria classificado como bola de fogo pelos cientistas.
O radiante das Perseidas estava numa declinação baixa quando o meteoro apareceu ─ apenas 9,5º. Portanto, este meteoro poderia ser considerado um ”raspador terrestre" por causa da sua trajectória longa e de pequeno declive, com um ângulo de entrada na atmosfera de apenas 12º.
Foi considerado um início auspicioso para a chuva das Perseidas de 2010 que atingirá o máximo esta noite de 12 para 13 de Agosto, entre a meia-noite e a madrugada (tempo local).


Vista das Perseidas na noite de 11 de Agosto de 2010, obtida por composição de 39 eventos sobre a estação Chickamauga, da NASA, na Geórgia.



O astrónomo Bill Cooke, do Marshall Space Flight Center, da NASA, responde às questões mais frequentes:


Onde se pode ver as Perseidas?
O fenómeno será visível nos Estados Unidos, na Europa e na maior parte do planeta, excepto na zona do mapa sombreada a vermelho. Claro que é preciso estar longe das luzes da cidade e que o céu esteja limpo.
Quando se pode ver?
A partir das 10 horas, hora local, e até às 3:00 ou 4 00 da madrugada. O número de meteoros vai aumentar durante a noite, atingindo o valor de 80-100 por hora. Os nossos olhos necessitam de 45 minutos para se adaptarem à escuridão.
Como se pode ver?
Deitado de costas sobre um saco de dormir ou uma cadeira de praia e olhando para cima, abrangendo uma área do céu tão extensa quanto possível. Não convém olhar para a constelação de Perseus, onde está localizado o radiante da chuva de meteoros, senão ver-se-ão poucos meteoros. Isso acontece porque a trajectória é tanto mais longa quanto mais longe do radiante o meteoro aparecer. Portanto para ver meteoros brilhantes, é preciso olhar a certa distância de Perseus e, para os observadores no hemisfério norte, para o nordeste. Olhar para cima, para o Zénite, é uma boa escolha e permite abranger uma grande área de céu.
Não usar binóculos ou um telescópio, porque reduzem o campo de visão.


Live TV by Ustream
Um feed vídeo/áudio, ao vivo, das Perseidas. A câmara encontra-se no Marshall Space Flight Center, da NASA, em Huntsville, Alabama, e é activada pela luz: durante o dia está desligada e só acende ao entardecer. Mas continua a ouvir-se o áudio dos blips, pings e assobios de meteoros que passam no céu.

domingo, 8 de agosto de 2010

Longa é a noite dos que esperam a morte


Noite é o testemunho de um historiador e professor universitário inglês a quem foi diagnosticado esclerose lateral amiotrófica, em Março de 2008.
Como se trata da doença que afecta o físico teórico Stephen Hawking, surgiu a curiosidade de ler o seu depoimento:


"Sofro de uma neuropatia motora, no meu caso uma variante de esclerose lateral amiotrófica (ELA): a doença de Lou Gehrig. As neuropatias motoras estão longe de ser raras: a doença de Parkinson, a esclerose múltipla e uma variedade de doenças menores incluem-se todas nessa categoria. O que distingue a ELA — a menos comum nesta família de doenças neuromusculares — é, primeiro, o facto de não haver perda de sensações (o que tem vantagens e inconvenientes) e, segundo, não haver dor. Ao contrário do que sucede em quase todas as outras doenças graves ou mortais, o doente permanece, deste modo, capaz de observar livremente e com um desconforto mínimo o desastroso progresso da sua própria deterioração.

No nível de declínio em que me encontro, estou, assim, efectivamente tetraplégico. Com um esforço extraordinário, consigo mover um pouco a mão direita e consigo levar o braço esquerdo cerca de 15 centímetros pela frente do peito. As minhas pernas, embora permaneçam firmes, se eu estiver em pé, o tempo suficiente para permitir que um enfermeiro me transfira de uma cadeira para outra, não aguentam o meu peso e apenas uma delas ainda mantém algum movimento autónomo.

Deste modo, quando as minhas pernas ou os meus braços estão colocados numa determinada posição, permanecem assim até que alguém os mova por mim. O mesmo acontece com o meu tronco, tendo como resultado dores nas costas, devido à inércia e à pressão, que causam uma inflamação crónica. Como não disponho do uso dos braços, não posso coçar uma comichão, ajustar os óculos, retirar alguma partícula de comida que fique nos dentes ou qualquer outra das coisas que — como podem confirmar se pensarem por um momento — todos fazemos dezenas de vezes ao dia. O mínimo que posso dizer é que estou total e completamente dependente da bondade de estranhos (e de qualquer outra pessoa).

Durante o dia, posso, pelo menos, pedir que me cocem, que ajeitem alguma coisa, que me dêem de beber ou que me mudem simplesmente a posição dos membros dado que a imobilidade forçada durante horas sem fim não só é fisicamente desconfortável, como psicologicamente fica à beira do intolerável. Não é como se perdêssemos o desejo de nos esticarmos, de nos inclinarmos, de nos levantarmos ou deitarmos ou de correr ou mesmo fazer exercício. Mas, quando nos invade uma forte vontade de o fazer, não há nada — nada — que possamos fazer, excepto procurar algum ténue substituto ou, então, encontrar um meio de suprimir esse pensamento e a memória muscular que o acompanha.

Mas, então, chega a noite.
"


O que relata parece a sinopse de um filme de terror. Mas, admiravelmente, consegue descobrir uma saída:


"A minha solução tem sido repassar a minha vida, os meus pensamentos, fantasias, memórias, lapsos de memória e coisas do género, até me deparar com acontecimentos, pessoas ou narrativas que possa utilizar para distrair o meu pensamento do corpo em que está encerrado. Estes exercícios mentais têm de ser suficientemente interessantes para prender a minha atenção e me fazerem aguentar uma comichão exasperante dentro do ouvido ou no fundo das costas; mas também têm de ser suficientemente aborrecidos e previsíveis para servir de prelúdio eficaz e de ajuda para dormir.

Levou-me algum tempo a identificar este processo como alternativa exequível para a insónia e o desconforto físico, e não é de modo nenhum infalível. Mas fico, por vezes, admirado, quando reflicto sobre o assunto, ao ver como pareço pronto a ultrapassar, noite após noite, semana após semana, mês após mês, o que antes era uma provação diária quase insuportável. Acordo exactamente na mesma posição, estado de espírito e sensação de desespero suspenso de quando fui para a cama - o que nas presentes circunstâncias deve ser tido como um feito considerável.
"

Tony Judt, excerto de Noite.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Humor negro


1º lugar ex æquo:

João de Lima. 31.07.2010 14:10
Via Facebook
Viva Isabel
Isabel Alçada é um génio! A solução estava ao virar da esquina. Os alunos não sabem mas, por decreto, não haverá reprovações.
A Ministra da Saúde ouvindo isto, não ficará atrás e decreta: as pessoas estão doentes mas ninguém morre. Os hospitais ficarão vazios e o País poupará uma fortuna.
O Ministro dos Assuntos Sociais não se intimida e, de sopetão, legisla: o cidadão não tem dinheiro, está empenhado até aos ossos, está desempregado mas, por decreto, ninguém é pobre. Fechar-se-ão os IEFP, a taxa de desemprego ficará em 0% e, tudo isto, sem gastar um cêntimo.
Grã-cruz da Ordem do Infante para Isabel Alçada, já! Uma nação reconhecida, homenageia um génio que, por um simples decreto, nos retirou da miséria atávica e nos devolveu a prosperidade.


João de Lima. 01.08.2010 20:14
Via Facebook
Fantástico! Tia Isabel!
A Tia Isabel é fantástica! Mesmo no Algarve, imagine, teve uma ideia fantástica! Deixa de haver chumbos, quer a gente estude quer não! Não acha o máximo? Quem quiser (não vejo de todo o interesse) estuda, quem não quiser, não estuda. No fim, estudando ou não, vamos para a empresa do Pai e assim sempre podemos ter festas sem esta estopada dos exames. Estou siderado! Não é?

João de Lima. 01.08.2010 20:20
Via Facebook
Bueda fixe
Bueda fixe, mano! A cota agora não deixa ninguém chumbar. Baril. Temos que aproveitar esta onda. Para mim na boa, não fazemos puto, andamos por lá, umas ganzas. Não stressem manos. Escola é fixe. Viva a cota!

domingo, 1 de agosto de 2010

A senhora Ministra da Educação está reprovada




Aos comentários arquivados nos artigos "O fim das retenções I" e "O fim das retenções II" gostaria de acrescentar o seguinte:

As crianças e os adolescentes manifestam uma enorme diversidade de características vocacionais e de aptidões que exigem respostas educativas diferenciadas em duas vias de ensino.

Os alunos que reprovam por não terem capacidades para seguir um currículo exigente ou pura e simplesmente por não quererem estudar, nem eles nem a sociedade retira qualquer benefício de repetirem o ano. Devem, antes, enveredar por um ensino profissionalizante, sem reprovações, que os prepare para serem técnicos intermédios, ressalvando sempre o princípio da reversibilidade a um ensino mais rigoroso se mostrarem em exames nacionais que, entretanto, adquiriram conhecimentos e competências. Não há nisto qualquer hipocrisia.
Mas os outros, os que tiveram um problema grave de saúde, foram afectados por questões familiares ou simplesmente preguiçaram durante parte do ano lectivo, e não conseguiram recuperar, será preferível que sejam retidos e repitam o mesmo currículo.
É uma variante do que se propôs há algum tempo porque se chegou à conclusão que uma modificação do rumo logo à primeira reprovação pode ser contraproducente. Vimos mudanças de comportamentos profundas em crianças e adolescentes só porque os docentes e os pais se tornaram um pouco mais exigentes nestes dois últimos anos lectivos. Há, pois, que responsabilizá-los e conceder-lhes o benefício da dúvida antes de os desviar para o ensino profissionalizante que é uma mudança radical de direcção.

No entanto, não tenhamos dúvidas de que vai haver manipulação do sucesso. Aliás isso já acontece: em Português e Matemática-A a diferença entre a média das classificações de frequência (atribuídas pelos professores nas reuniões de avaliação finais) e a registada nos exames foi igual ou superior a três pontos.
E a situação tende a agravar-se porque muitos directores, demasiados mesmo, vão, através dos coordenadores de departamento por eles nomeados, obrigar os docentes a dar elevadas classificações de frequência.
De que modo exercem os coordenadores a sua influência? Através do modelo de avaliação do desempenho: são os avaliadores, ou nomeiam os avaliadores de todos os professores. Com uma avaliação interna, não serão os professores incompetentes os eliminados, mas os raríssimos docentes que não alinharem na subserviência.

Uma chamada de atenção especial para o 2º diálogo de "O fim das retenções I" pois permite-nos recordar algo que está esquecido: o facilitismo, com a concomitante indisciplina, é um cancro em progressão desde o processo revolucionário de 1974 que encerrou as escolas e instituiu as passagens administrativas por dois anos lectivos, sendo responsável pelo afastamento de docentes, nomeadamente, do professor Rómulo de Carvalho.
Todos os sucessivos governos deixaram agravar a doença, não foram apenas os socialistas.
As pessoas só agora se aperceberam que o ensino está gravemente doente porque se acabaram os subsídios da UE, a economia entrou numa crise gravíssima e o país tem escassez de técnicos e políticos qualificados.
E se atacamos mais a política educativa dos últimos governos é porque com José Sócrates os "pedagogos" do "eduquês" conseguiram trepar até ao último piso do edifício da avenida 5 de Outubro. Aliás ele próprio já é uma metástase.

Melhoraram-se as estatísticas, não se tentou curar o cancro do facilitismo e da indisciplina. Pelo contrário, activou-se o agravamento da doença com os modelos de gestão e de avaliação (interna) dos professores e a politização das escolas. O país já está a pagar pelo erro e, com quadros incompetentes e semi-analfabetos, mais pagará no futuro.
Com esta proposta inoportuna, a senhora Ministra da Educação vem mostrar, mais uma vez, que não conhece nem a especificidade do professorado, nem a mentalidade da população estudantil e dos seus progenitores, logo está reprovada.

O fim das retenções II - a reacção dos partidos políticos


A Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE) mostrou-se preocupada com a intenção de acabar com as retenções dos alunos, embora neste momento o que inquieta grande parte dos encarregados de educação é estarem "sem saber em que escola os seus filhos vão estudar em Setembro".
Arquivámos mais alguns comentários instrutivos:


Coisadas, Lisboa, Portugal. 31.07.2010 13:24
Força nisso
Na minha empresa, de dimensão média, não trabalha um único licenciado, porque logo nos primeiros 15 minutos de entrevista espalham-se ao comprido na capacidade de expressão oral. Até hoje tive tanto azar ou tanta sorte, que ainda não encontrei nenhuma excepção.
Em compensação tenho excelentes técnicos informáticos sem grau universitário, que escrevem relatórios com qualidade e sem erros, e conseguem (admiração) ter uma conversa com princípio, meio e fim. Mas é tudo pessoal com mais de 40 anos, vá-se lá saber porquê... Se calhar muitos não entraram na faculdade porque antigamente chumbava-se, mas o que se aprendia, aprendia-se bem. Claro que o desemprego entre licenciados só pode mesmo é aumentar, e tem de se agradecer a ministras como esta esse facto.


F.C, Montemor-o-Novo. 31.07.2010 13:38
Exigência, exigência, exigência
Exigência, exigência, exigência e não facilitismo! Exames a todas as disciplinas no final de cada ciclo!
A retenção/reprovação beneficia alguns alunos, outros não! O aluno, quando retido, deve ter um plano próprio que contemple materiais de trabalho adaptados às suas dificuldades, ser integrado em turmas reduzidas e ser avaliado continuamente pelos professores/director de turma/encarregado de educação, ou seja deve beneficiar de um maior acompanhamento e, naturalmente, trabalhar mais.
Importar modelos do Norte da Europa, onde há uma cultura de trabalho enraizada na sociedade e onde, à noite, há o hábito de ler em família, é uma espécie de pedagogia do adesivo. Exija-se disciplina nas escolas! Exija-se trabalho aos alunos e envolvimento aos encarregados de educação! Exija-se, exija-se, exija-se! Facilitismo, não! Nunca vi alguém vencer na vida (com honestidade) sem esforço, sem sacrifício, sem trabalho!


Anónimo, Lisboa. 31.07.2010 16:50
Mais uma vitória do "eduquês"
As "alegadas" ciências da educação, introduzidas no país há vinte e poucos anos por uma série de "artistas" ambiciosos que não tinham capacidade para fazerem doutoramentos em universidades portuguesas, vieram destruir lentamente o ensino de rigor em Portugal. O sistema de ensino, dominado completamente por estes artistas e já pelos seus discípulos que se encontram no poder, não terá saída e irá agravar-se ainda durante vários anos até que novas gerações despertem para a realidade.


A Fenprof e os partidos políticos também estão a opor-se ao fim das retenções.
O CDS liderado por Paulo Portas pensa que "Portugal precisa de valorizar a exigência e a cultura de mérito na escola é essencial para vencer num mercado de trabalho competitivo".
Afirma o PCP que "aumenta-se o número de certificações, mas diminui-se simultaneamente a qualificação dos alunos".
Para o PSD, a medida "prejudica os alunos em especial num contexto de crise muito séria que Portugal atravessa e em que os alunos têm de ter mais do que nunca competências". E acrescenta que o anúncio não surpreende pois segue "o padrão deste Governo" em que "os ministros mudam, mas mantém-se o sinal de facilitismo".
Nesta notícia, entre mais de uma centena de comentários, recolheram-se os seguintes:


Gomes Ferreira, Queluz, Portugal. 31.07.2010 15:32
O ensino está transformado num charco
O ensino em Portugal está transformado num charco de facilitismo. Será que essa situação interessa apenas ao ministério, ou interessa também a muitos professores que não passam de medíocres sem outras saídas profissionais? Não serão todos, mas pelos resultados que se vêm serão a maioria deles.
Será que querem disfarçar a sua proverbial incapacidade para o ensino com a passagem de ano para todos os alunos, indistintamente de terem ou não aprendido as matérias leccionadas? Ao aceitar uma medida destas que interesses se estarão a servir? O dos alunos não será certamente. Existe qualquer coisa muito estranha nisto tudo, porque essa gente está convencida de estar a agir bem ao apoiar as teorias de esgoto do "eduquês". Lavaram-lhes o cérebro ou será que já não o tinham quando foram para o ensino?


Vera, Lisboa, Portugal. 31.07.2010 17:22
Estado criminoso
O Estado Português está refém de políticas de inspiração comunista, das quais o "eduquês" é apenas uma manifestação com influência visível. Existe um plano bem elaborado no sentido de se destruir toda a cultura de mérito e de esforço a partir da mais tenra infância, a fim de serem subvertidos todos os valores tradicionais acarinhados antigamente pelo nosso povo.
Esta nova instituição do "eduquês" sacrifica a educação das nossas crianças com o objectivo de criar um rebanho igualitário e sem ambições, mas tudo a coberto de boas intenções, com os chavões da igualdade e da justiça social à cabeça da propaganda. É um verdadeiro movimento de neo-comunismo que se anda a compor em certos sectores da sociedade portuguesa.
É a revolta dos medíocres que conseguiram chegar ao poder. Está mais do que visto que têm conseguido levar a ideia deles avante e que os culpados somos nós todos, pais, educadores, que nos calámos e compactuámos com a destruição do sistema de ensino e sua substituição pela cultura da mediocracia. É a chamada vingança dos comunistas. Vejam o currículo da ministra e de outros do género e ficará tudo bem claro.


V, Lisboa, Portugal. 31.07.2010 20:11
É para esconder a realidade
Para esconder que conseguiram construir finalmente uma sociedade nivelada por baixo, onde toda a gente vê lixo em 500 canais de televisão, onde toda a gente faz "post" de fotos da sua vida privada para o Facebook, onde arranjar emprego para a vida se tornou impossível, onde se chama errado ao que é certo, e certo ao que é errado.
É para esconder o facto de que nessa sociedade não interessa que as pessoas pensem e sintam e se esforcem, e sofram com os seus próprios falhanços, que seria a coisa mais natural do mundo. É premiar a ausência de valor, de escrúpulos, de vergonha, até! É hipotecar o futuro de jovens licenciados que não estão dotados de instrumentos mínimos para aumentar as suas capacidades cognitivas para fazer face a um mundo em mudança acelerada.
É o desagregar da velha herança greco-romana que assentava em valores sólidos, para os substituir pelo "fast-food" intelectual. É crime contra os jovens portugueses e as suas famílias.


Vasco, Lisboa, Portugal. 31.07.2010 22:37
Existem duas formas de ver o mundo
Duas formas de estar na vida: A primeira é a do deixa andar, do facilitismo, do atirar as responsabilidades para cima dos ombros dos outros. A segunda é a do esforço, do desempenho, da aposta nas nossas capacidades, do aceitar o julgamento dos outros quando fracassamos seja no que for e depois tentar melhorar e evitar repetir os erros.
Essas suas formas de estar na vida normalmente acabam por se reflectir nas opções políticas. Ou se é tendencialmente de direita ou se é tendencialmente de esquerda. Para bom entendedor meia palavra basta e estas decisões da ministra não são por isso surpreendentes pois a esquerda sempre andou de braço dado com o facilitismo. Só que em vez de ajudar os mais fracos, acaba por os prejudicar!


politico, Alentejo. 31.07.2010 23:05
Acabar com as reprovações não é facilitismo
As vítimas do sistema actual são as crianças que por motivos vários não têm acesso aos mesmos recursos que outras têm. Quando falo em recursos refiro-me a equipamentos escolares, a apoios familiares, a ambientes sociais. Essas crianças são as candidatas à reprovação. O papel da escola nestes casos é, principalmente, o apoio pedagógico, apoio alimentar, e até apoio às famílias. Se esse apoio for bem orientado e bem gerido a reprovação é, de facto, combatida.
Nos últimos anos tem havido, por parte do Ministério da Educação algumas medidas de melhoria do apoio a crianças com ambientes sócio/familiares problemáticos, mas devemos fazer mais e melhor. É desta forma que se combate a reprovação endémica, que tanto penaliza as crianças desprotegidas, como acaba por prejudicar toda a sociedade. Quando se diz que se quer acabar com as reprovações é disto que estamos a falar. Acabar com as reprovações não é facilitismo, como diz o PSD, pelo contrário é rigor e trabalho de recuperação e apoio intensivo a essas crianças vítimas dos ambientes adversos em que vivem.

VRF, Lisboa, Portugal. 31.07.2010
RE: Acabar com as reprovações não é facilitismo
Você está a confundir duas coisas muito diferentes. Uma coisa é o apoio social aos mais desfavorecidos, que penso que qualquer pessoa bem formada apoiará. Outra coisa é afirmar que passando os cábulas está a contribuir para diminuir o problema dos mais desfavorecidos, coisa que não faz sentido nenhum.
Um aluno por mais desfavorecido que seja tem sempre de ser responsabilizado pelos seus actos. Se não estuda, tem de interiorizar que não passa de ano e deverá assumir isso como uma vergonha.
Bem, negar isso é negar todos os fundamentos que permitem o funcionamento de uma sociedade civilizada e a partir daí africanizar completamente o ensino em Portugal.
Você fala com os actuais alunos do 12º ano? Olhe que até envergonha! Imagine quando tudo passar! Será o bom e o bonito: todos protegidos socialmente mas socialmente incapazes. É esse o futuro que quer para o seu país? Tem filhos? Olhe que eu sempre ouvi dizer que por detrás da cruz se esconde o diabo, ou seja, que de boas intenções está o inferno cheio. Não vê para onde caminhamos?

politico, Alentejo. 31.07.2010
RE: RE: Acabar com as reprovações não é facilitismo
Nações mais desenvolvidas do que a nossa praticamente baniram as reprovações do ensino básico. Isso não significa facilitismo nem recuo civilizacional, pelo contrário, significa trabalho e empenho por parte das instituições e um efectivo apoio às famílias desses alunos. Nalguns casos esses apoios prolongam-se pelas férias, dando a esses alunos possibilidades para recuperar. Pensa que os povos nórdicos, e não só, vão ceder ao facilitismo? Pelo contrário, acabar com os chumbos significa trabalho acrescido.
VRF, Lisboa, Portugal. 31.07.2010
RE: RE: Acabar com as reprovações não é facilitismo
Ó meu Deus, mas nesse caso é dar o apoio que for preciso! Devia até ser obrigatório! Mas não os passem de ano, percebe? Acaba-se com a hipótese de reter um mau aluno e permite-se que ele conclua o ensino obrigatório sem ter aprendido o mínimo exigível.
Não podemos comparar-nos com a Finlândia nem com países do norte da Europa, com uma cultura de exigência fortemente enraizada. Acha que vivemos num país onde lhe dizem para ir levantar o cartão X às 14:47 e você é mesmo atendido às 14:47?
Apoiem mas não passem sem que ele seja aprovado em exame. Não existe nenhuma métrica de avaliação de alunos que justifique a passagem de ano dos calaceiros. Isso é rebentar com todo o objectivo do sistema de ensino. Afinal como se separam os bons dos maus? Acha que não existem bons e maus? O prémio deve ser o mesmo para todos
?

Miguel Dias, Coimbra. 31.07.2010 23:09
Lata ou chumbo?
Efectivamente a minha experiência de professor diz-me que para a esmagadora maioria dos alunos o "chumbo" não se traduz em melhorias de aprendizagem nos anos seguintes. É uma constatação que parece chocar o senso comum das pessoas, mas a realidade é mesmo esta (é óbvio que há excepções). Os piores alunos que tenho ano após ano são sistematicamente os alunos repetentes...
No entanto, instituir uma espécie de sistema em que os alunos sabem antecipadamente que não reprovam seria completamente contraproducente ─ é a mensagem errada para os alunos e nova desautorização dos professores.
Quanto às alternativas da ministra ─ aulas de apoio, estudo acompanhado ─ não foi este o governo que retirou a milhares de alunos o estatuto de alunos com necessidades educativas especiais e logo todos os apoios que usufruíam? É preciso ter lata... (ou será chumbo?)


Anónimo, Portugal. 01.08.2010 03:28
Chumbos
O sistema onde não há chumbos é mais injusto que o nosso antigo, onde os alunos reprovavam e eram obrigados a repetir o ano.
Nesses países, quando um aluno não atinge os objectivos mínimos, para poder progredir para o nível seguinte, não é retido, mas muda de direcção. Isto é, é convidado a seguir um curso para burros. E se nesse curso voltar a não ter aproveitamento, segue para um curso para alunos ainda mais burros. E assim por diante. Nunca chumbou mas ficou com o destino traçado.
Onde está a injustiça do sistema? No facto de ser irreversível. Um aluno pode ter um ano mau com problemas de saúde, pode não ter a maturidade de acordo com a idade, pode ter um ano em que simplesmente não lhe apeteceu estudar. E o sistema não permite voltar atrás. Depois de se entrar no carril dos burros, é-se burro até ao fim.
Veja-se o que acontece com os portugueses na Suíça. Com o sistema das reprovações qualquer um pode recuperar. Desde que queira, e desde que trabalhe a sério. Um ou dois anos em oitenta é muito pouco.
No nosso sistema actual toda a gente passa sem saber nada. A maioria dos alunos a partir do quarto ano já não tem recuperação possível e lá segue alegremente até ao 12º ano.