The Royal Society criou a galeria Turning the Pages onde apresenta facsimiles digitais de alta qualidade de manuscritos.
O carácter inovador está na aplicação informática Turning the Pages 2.0 que dá ao leitor o deleite de folhear as páginas desses manuscritos.
Escolhendo a primeira biografia de Isaac Newton, Memoirs of Sir Isaac Newton’s life, por William Stukeley, e virando as páginas com o rato, pode ler-se, na página 15, a versão original da história da queda da maçã que o genial físico-matemático quis ligar à descoberta da gravitação universal.
Woolsthorpe Manor, local do nascimento de Sir Isaac Newton e onde terá observado muitas quedas de maçãs
Trata-se de um manuscrito inglês do séc. XVIII, com uma caligrafia magnífica e uma escrita envolvente, que se lê com um prazer inolvidável:
After dinner, the weather being warm, we went into the garden and drank thea under the shade of some appletrees; only he, and myself. Amidst other discourse, he told me, he was just in the same situation, as when formerly, the notion of gravitation came into his mind.
"Why should that apple always descend perpendicularly to the ground", thought he to himself; occasioned by the fall of an apple, as he sat in a contemplative mood.
"Why should it not go sideways, or upwards? But constantly to the earth’s center? Assuredly, the reason is, that the earth draws it. There must be a drawing power in matter. And the sum of the drawing power in the matter of the earth must be in the earth’s center, not in any side of the earth. Therefore dos this apple fall perpendicularly or toward the center. If matter thus draws matter, it must be in proportion of its quantity. Therefore the apple draws the earth, as well as the earth draws the apple."
Ao contrário do que sucede com as Lendas e Narrativas, de Alexandre Herculano, um texto escrito no séc. XIX cuja leitura é mais difícil devido aos tratos de polé sofridos pela ortografia da língua portuguesa. Eis um excerto da graciosa lenda A Dama Pé-de-Cabra:
D. Diogo Lopes era um infatigavel monteiro: neves da serra no inverno, soes dos estevaes no verão, noutes e madrugadas, disso se ria elle.
Pela manhan cedo de um dia sereno, estava D. Diogo em sua armada, em monte selvoso e agreste, esperando um porco montês, que, batido pelos caçadores, devia saír naquella assomada.
Eis senão quando começa a ouvir cantar ao longe: era um lindo, lindo cantar.
Alevantou os olhos para uma penha que ficava fronteira: sobre ella estava assentada uma formosa dama: era a dama quem cantava.
O porco fica desta vez livre e quite; porque D. Diogo Lopes não corre, voa para o penhasco.
«Quem sois vós, senhora tão gentil; quem sois, que logo me captivastes?»
(...)
Quando pela manhan cedo o conde Argimiro, do seu balcão principal, ordenava que levassem o corpo da condessa a um mosteiro de donas, que elle fundara para ahi ter seu moimento, elle e os de sua casa, e dizia aos homens de armas que arrastassem o cadaver de Astrigildo e o despenhassem de um grande barrocal abaixo, viu um onagro silvestre deitado a um canto do pateo.
«Um onagro assim manso é cousa que nunca vi — disse elle ao víllico, que estava alli ao pé. — Como veio aqui este onagro?»
O víllico ía a responder, quando se ouviu uma voz: dir-se-hia que era o ar que falava.
«Foi nelle que veio Astrigildo: será elle que o levará. Por ti ficaram orphãos os filhinhos do onagro, mas por via do onagro ficaste, oh conde, deshonrado. Foste cru com as pobres feras: Deus acaba de vingá-las.»
«Misericordia!» — bradou Argimiro, porque naquelle momento se lembrou da maldicta caçada.
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