domingo, 8 de novembro de 2009

Uma pedrada no charco



Henrique Medina Carreira, 78 anos, com licenciaturas em Ciências Pedagógicas, em Direito e um largo percurso em Engenharia Mecânica e Economia, deu mais uma das suas polémicas entrevistas, desta vez ao semanário Expresso.
Com a devida vénia, transcreve-se a parte relativa à Educação:




Tem um espírito de missão no seu discurso?
Estudei muitos anos em Portugal. Fiz muitos cursos. Tenho perante a sociedade portuguesa o dever de tentar ajudar a pensar o país. Mas tenho medo dos missionários. Género Sócrates e companhia. Tentar abrir os olhos à população é uma tarefa que cabe a quem o Estado e a sociedade portuguesa permitiram estudar. E têm o dever de falar.

Fez três cursos. Gosta muito de estudar?
Este longo percurso foi acidentado, por razões que não eram obrigatórias. Comecei por tirar o Curso Complementar da Indústria, que eram cinco anos. Depois estive na Guiné um ano e tal a trabalhar. Quando vim, queria passar da Engenharia para as coisas sociais. Já olhava então para a sociedade portuguesa com muita preocupação. Queria ir para Economia, mas nessa altura não se transitava directamente. Havia um curso chamado Ciências Pedagógicas que permitia esse salto. Era uma espécie de Novas Oportunidades, mas em bom. Estive em Coimbra um ano como aluno voluntário. Depois pensava que transitava para o curso que quisesse, mas o Ministério da Educação disse que não. Obrigaram-me a fazer o liceu todo. Já estava casado, mas fiz o liceu em três anos. Trabalhei na indústria do aço, no Barreiro. Terminado esse percurso, entrei em Direito. Mas como a Economia era a minha velha ambição, ainda fui para Económicas.

Terminou o curso de Direito com 31 anos. Foi para Economia logo de seguida?
Não. Primeiro tive de ir ganhar a vida como advogado. Fiz o curso de Direito como empregado de escritório. Quando já tinha alguma tranquilidade, fui para Economia. Foram muitos anos, mas alguns deles foram impostos pelas circunstâncias.

Isso não o revoltou?
Revoltado estou agora com o que se passa. As nossas escolas são fábricas de analfabetos. No meu tempo, os alunos com a quarta classe davam menos erros do que alguns ministros agora. A escola, hoje, é mais uma das falsificações do regime. O ensino é uma farsa para apresentar estatísticas. As pessoas da classe média e alta têm capacidades para se defender. Põem os miúdos em explicadores, escolhem os colégios. Os filhos das classes baixas não sabem coisíssima nenhuma. Isto só promove a desigualdade e não incentiva a mobilidade social.

Disse um dia que gostaria de ser ministro da Educação durante dois anos. O que é que mudava?
O problema da Educação é simples. Primeiro tem de haver ordem nas escolas, programas feitos com gente com cabeça e não por semianalfabetos. Os professores têm de ser avaliados para se saber se sabem do que ensinam. Salazar liquidou duas gerações e a democracia está a liquidar quatro.

Acha que a Revolução de Abril, neste aspecto, fracassou?
Os analfabetos que dirigiram a Educação depois da revolução é que foram os culpados.

(...)

Como é que se podem estabilizar as despesas sociais? Decretando o fim da educação gratuita?
É por isso que devemos ter um ministro do Estado Social. É preciso haver uma meditação política. Para mim não se coloca a questão da gratuitidade da educação, deve haver é exigência e rigor. Mas temos de saber quais são os limites que podemos gastar.

É contra a escola inclusiva. Quer explicar?
A escola inclusiva é uma vigarice. Põem lá a tropa toda. Como todos somos diferentes, há uns que querem estudar e outros não. Há uns que são capazes e outros não. Quem não aprende não faz sentido lá estar.

Era preferível que Portugal tivesse a mesma percentagem de analfabetos que tinha durante o Estado Novo?
A falha do Salazar não foi na qualidade, foi na quantidade. Agora a falha é na qualidade. Deve tentar-se o máximo de quantidade preservando a qualidade. Gostaria de ser ministro da Educação para fazer vingar a ideia de que, sem exigência, não damos a volta à Educação. Não é mantê-los lá fechados a dar coices que se nivelam. Só se nivelam exigindo o máximo. Mas há um ponto em que há uma estratificação. Isto de todos serem iguais é uma trafulhice.

Em matéria de disciplina na escola, o que é que faria?
Nem que tivesse de pôr um polícia em cada sala de aulas, teria de haver respeito pelos professores. Os que não querem fazer nada que saiam.

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