Aos comentários arquivados nos artigos "O fim das retenções I" e "O fim das retenções II" gostaria de acrescentar o seguinte:
As crianças e os adolescentes manifestam uma enorme diversidade de características vocacionais e de aptidões que exigem respostas educativas diferenciadas em duas vias de ensino.
Os alunos que reprovam por não terem capacidades para seguir um currículo exigente ou pura e simplesmente por não quererem estudar, nem eles nem a sociedade retira qualquer benefício de repetirem o ano. Devem, antes, enveredar por um ensino profissionalizante, sem reprovações, que os prepare para serem técnicos intermédios, ressalvando sempre o princípio da reversibilidade a um ensino mais rigoroso se mostrarem em exames nacionais que, entretanto, adquiriram conhecimentos e competências. Não há nisto qualquer hipocrisia.
Mas os outros, os que tiveram um problema grave de saúde, foram afectados por questões familiares ou simplesmente preguiçaram durante parte do ano lectivo, e não conseguiram recuperar, será preferível que sejam retidos e repitam o mesmo currículo.
É uma variante do que se propôs há algum tempo porque se chegou à conclusão que uma modificação do rumo logo à primeira reprovação pode ser contraproducente. Vimos mudanças de comportamentos profundas em crianças e adolescentes só porque os docentes e os pais se tornaram um pouco mais exigentes nestes dois últimos anos lectivos. Há, pois, que responsabilizá-los e conceder-lhes o benefício da dúvida antes de os desviar para o ensino profissionalizante que é uma mudança radical de direcção.
No entanto, não tenhamos dúvidas de que vai haver manipulação do sucesso. Aliás isso já acontece: em Português e Matemática-A a diferença entre a média das classificações de frequência (atribuídas pelos professores nas reuniões de avaliação finais) e a registada nos exames foi igual ou superior a três pontos.
E a situação tende a agravar-se porque muitos directores, demasiados mesmo, vão, através dos coordenadores de departamento por eles nomeados, obrigar os docentes a dar elevadas classificações de frequência.
De que modo exercem os coordenadores a sua influência? Através do modelo de avaliação do desempenho: são os avaliadores, ou nomeiam os avaliadores de todos os professores. Com uma avaliação interna, não serão os professores incompetentes os eliminados, mas os raríssimos docentes que não alinharem na subserviência.
Uma chamada de atenção especial para o 2º diálogo de "O fim das retenções I" pois permite-nos recordar algo que está esquecido: o facilitismo, com a concomitante indisciplina, é um cancro em progressão desde o processo revolucionário de 1974 que encerrou as escolas e instituiu as passagens administrativas por dois anos lectivos, sendo responsável pelo afastamento de docentes, nomeadamente, do professor Rómulo de Carvalho.
Todos os sucessivos governos deixaram agravar a doença, não foram apenas os socialistas.
As pessoas só agora se aperceberam que o ensino está gravemente doente porque se acabaram os subsídios da UE, a economia entrou numa crise gravíssima e o país tem escassez de técnicos e políticos qualificados.
E se atacamos mais a política educativa dos últimos governos é porque com José Sócrates os "pedagogos" do "eduquês" conseguiram trepar até ao último piso do edifício da avenida 5 de Outubro. Aliás ele próprio já é uma metástase.
Melhoraram-se as estatísticas, não se tentou curar o cancro do facilitismo e da indisciplina. Pelo contrário, activou-se o agravamento da doença com os modelos de gestão e de avaliação (interna) dos professores e a politização das escolas. O país já está a pagar pelo erro e, com quadros incompetentes e semi-analfabetos, mais pagará no futuro.
Com esta proposta inoportuna, a senhora Ministra da Educação vem mostrar, mais uma vez, que não conhece nem a especificidade do professorado, nem a mentalidade da população estudantil e dos seus progenitores, logo está reprovada.
Refere no final que "Melhoraram-se as estatísticas, não se tentou curar o cancro do facilitismo e da indisciplina. Pelo contrário, activou-se o agravamento da doença com os modelos de gestão e de avaliação (interna) dos professores e a politização das escolas. O país já está a pagar pelo erro e, com quadros incompetentes e semi-analfabetos, mais pagará no futuro." Sem dúvida. Observação pertinente.
ResponderEliminarEstamos perfeitamente de acordo com a análise que faz. Mas a conclusão que nos apresenta é mais do que evidente uma triste realidade. Por isso, também para nós, a Ministra está "chumbada"!
Diz e bem "De que modo exercem os coordenadores a sua influência? Através do modelo de avaliação do desempenho: são os avaliadores, ou nomeiam os avaliadores de todos os professores. Com uma avaliação interna, não serão os professores incompetentes os eliminados, mas os raríssimos docentes que não alinharem na subserviência."
ResponderEliminarEste é o rosto e espelho da AUTONOMIA IMPOSTA TOP-DOWN (de que Michael Apple falou na Universidade de Minho em finais da década de 90) vem directamente do Ministério da Educação. Mais de uma Autonomia ela é a "Autonomia de fazer o que vos mando". Os directores das escolas passam a ser como correias de transmissão. Manipulados (como marionetas) a partir do Ministério. É um autêntico polvo com os seus tentáculos. A politização das Escolas está a atingir o seu ponto máximo. Escrevsmos há quase uma década:
Autonomia Conquistada Vs Autonomia Enquistada. . Nele já prevíamos o que se passa neste momento. Aliás, todo o percurso do que se foi passando com a Autonomia. Os professores adormeceram... Agora, talvez seja tarde. Temos a Educação a Caminho do Abismo - I .
A Nomeação dos Directores de entre os amigos do partido! O lugar de Director começará a ser cobiçado. E não faltará forma de levar para o discurso argumentos que suportem a tese de que os Directores dos Agrupamentos devem ser nomeados pelo partido que ganha as eleições... E lá se vai a Autonomia... Bem. Já se foi. Mas será ainda pior... Um Dia a Escola Vem Abaixo!