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domingo, 30 de outubro de 2011

Mudar o ensino - II


O governo de José Sócrates perdeu as eleições em 5 de Junho mas nestes quatro meses, apesar do empenho do ministro Nuno Crato, o ensino pouco mudou.

O Ministério da Educação fez uma rápida reorganização curricular em que
  • eliminou a Área de projecto, uma área curricular não disciplinar que mantinha dois professores na sala de aula para vigiar uma turma de alunos que se dedicava a fazer trabalhos sobre temas gerais — alimentação, droga, futebol, moda, ... — pelo método de navegação na Internet seguida de ‘copiar&colar’ e impressão a cores na fotocopiadora da Biblioteca/Centro de recursos;
  • diminuiu o número de tempos lectivos reservados às outras áreas não disciplinares;
  • aumentou o número de tempos lectivos em Português e Matemática;
  • substituiu as provas de aferição do 6º ano por provas de exames nacionais.
A carga horária semanal do 2º ciclo não sofreu a mínima alteração para os alunos, apenas há uma transferência de tempo das áreas curriculares não disciplinares para duas áreas disciplinares — Português e Matemática. Do lado dos docentes houve uma perda de 5 tempos lectivos de 45 minutos, distribuídos pelos 5º e 6º anos.
No 3º ciclo desapareceram 2 tempos lectivos de 45 minutos, um no 7º e outro no 8º ano, tanto nos horários dos alunos como dos docentes.

Se reduziu em alguns milhares o número de contratos docentes, foi porque
  • acabou com a redução de horário dos avaliadores internos no modelo de avaliação docente;
  • acabou com a redução de horário dos professores que prestavam serviço nas cinco Direcções Regionais de Educação no âmbito da avaliação docente;
  • não autorizou a criação de novas turmas no Novas Oportunidades (NO), um curso que diplomava mas não qualificava os alunos adultos.

Não deve surpreender, portanto, que o ministro Nuno Crato tencione fazer agora uma reorganização curricular mais profunda que leve a uma diminuição dos tempos lectivos dos alunos.
A separação de Educação Visual e Tecnológica (EVT) em duas componentes — Educação Visual e Educação Tecnológica — é bem-vinda porque não é mais difícil leccionar EVT que qualquer outra disciplina, não se justificando a existência do par pedagógico.
Os alunos só têm Introdução às Tecnologias de Informação e Comunicação no 9º ano. Começam, porém, a usar o computador como brinquedo durante a infância, demonstrando uma invejável velocidade de digitação quando chegam ao 5º ano. Nessa altura, o uso dos processadores de texto é estimulado pelos professores de Línguas e Humanidades e a folha de cálculo pelos docentes de Matemática. Se ITIC desaparecer, nem se vai notar.

Entretanto os directores das escolas continuam a defender a ideologia socialista, a impor a elaboração de documentos burocráticos que afasta os professores da preparação das aulas e a atrofiar os alunos entretendo-os com actividades de animação cultural, em geral exteriores à escola e com custos financeiros significativos para as famílias, que se mantêm no modelo de avaliação docente apesar do ministro Nuno Crato querer os professores concentrados nas aprendizagens dos alunos.


Mas na última reunião do departamento de Matemática e Ciências Experimentais vimos os docentes do quadro que se encontram nos primeiros escalões criticar o facto do coordenador do departamento e dos docentes de escalões mais elevados só se terem debruçado sobre as metas da ex-ministra Isabel Alçada, as actividades do projecto de escola e a criação de novas turmas do curso NO, em vez de se preocuparem com o ensino dos alunos.

Foram eles que propuseram a organização do espaço esola, com a criação de um ambiente de trabalho dentro do edifício da escola, sem correrias nos corredores e ruído durante o período das aulas, em oposição ao ambiente de brincadeira, natural e bem-vindo durante os intervalos, nos pátios de recreio.

Foram eles que salientaram a importância das aprendizagens em Português na interpretação dos textos usados em todas as disciplinas e da Matemática no desenvolvimento da capacidade de abstracção.

Foram eles que alertaram para o facto de a economia só principiar a crescer quando as escolas começarem a lançar no mercado do trabalho alunos que desenvolveram hábitos de trabalho e que conseguem ler, escrever e interpretar textos, possuem conhecimentos de História e Geografia, sabem matematizar problemas da vida quotidiana e assimilaram noções elementares de Biologia, Química e Física.

Como se pode resolver este antagonismo?
Criando provas de avaliação de conhecimentos científicos e pedagógicos não só no acesso à carreira docente, mas também no acesso às carreiras de director de agrupamento de escolas, de inspector com funções administrativas e de avaliador externo.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Reflexão sobre os resultados dos exames nacionais


Sendo reconhecido que são preocupantes os resultados dos exames nacionais 2011 do ensino básico, torna-se necessário descobrir as causas.
Relativamente ao exame de Matemática, cujo enunciado se encontra no website do GAVE, pode-se confirmar que as questões incidem sobre os conteúdos programáticos essenciais dos 7º, 8º e 9º anos, estão formuladas com correcção científica e clareza e os critérios de classificação não levantam dúvidas aos docentes que receberam uma boa formação científica em Matemática.
Portanto é preciso procurar as causas do insucesso na sociedade civil e, em particular, nas escolas.

1. A função dos professores não é substituir os pais

Num livrinho da escola primária vi uma imagem dos apóstolos com línguas de fogo a descerem do céu sobre as suas cabeças e uma inscrição: "O Espírito Santo desceu sobre os apóstolos e encheu-os de sabedoria."
Deslumbrei-me.
Perguntei à minha mãe, católica fervorosa que no dia do aniversário media a minha altura com velas para oferecer à Nossa Senhora, onde se adquiria as línguas de fogo da sapiência. Passou-me as mãos pelos cabelos.
O meu pai, ateu empedernido que saia de casa para o trabalho às sete da manhã e regressava às oito da noite mas ainda arranjava uma hora depois do jantar para ver os meus trabalhos da escola, respondeu: "Começa a ler em voz alta o texto do trabalho de casa e deixa-te de palavreado."

Lembrei-me deste episódio ao ler no artigo "Há uma obsessão pelos resultados nos exames e depois não se faz nada com eles para melhorar as aprendizagens" esta troca de comentários entre um professor e um encarregado de educação:

"Genericamente, os alunos que têm bons resultados são filhos de pais que se preocupam e exigem. Os que têm piores resultados têm pais que se demitem, entregam os filhos à escola e não querem saber."
E o que diz a Confap disto? "Dizer que as crianças têm de ir estudar para casa é uma irresponsabilidade, até porque a maior parte dos pais não tem o 9.º ano e, portanto, não os consegue acompanhar", descarta Albino Almeida, para quem "as escolas deviam começar por se organizar para, tal como na Finlândia, garantirem acompanhamento nas férias aos alunos que vão procurar, na segunda oportunidade, superar os maus resultados".
"Poder, podiam", contrapõe o presidente da ANDE, não fosse dar-se o risco de essas aulas ficarem vazias. "No período que mediou entre o fim das aulas e o início dos exames, houve todos os dias reforço a Português e a Matemática e os alunos simplesmente não apareciam."

Nem um milagre consegue substituir o estudo e a vontade de adquirir o conhecimento e é na família que isto se aprende.

2. A função dos professores é ensinar

Os professores têm, ou pelo menos devem ter, uma especialização de nível superior sobre os assuntos que ensinam. Embora os manuais tenham sido submetidos a avaliação nos últimos anos e haja uma melhoria na qualidade, são um apoio para o aluno, os professores não podem colar-se ao manual sob pena de sofrerem uma regressão cultural.

Há um par de meses, em conversa com o coordenador do departamento de Matemática e Ciências Experimentais, o colega confidenciou-me que o trabalho burocrático é tanto que todos os docentes só pensavam nas matérias que ensinam quando estão dentro da sala de aula.
Tentei que se apercebesse da gravidade da situação e fizesse algo de útil mas estava preso dentro de um sistema educativo que ele próprio ajudou a criar ao defender a política educativa socialista.
Resumidamente, o que se passa é que os docentes se transformaram
  • em mangas de alpaca desperdiçando o seu tempo a preencher tabelas de avaliação, como esta:


  • em animadores culturais desenvolvendo miríades de actividades, dentro e fora da escola, cujo ponto alto é a elaboração de um repolhudo relatório. Veja-se este exemplo de um dos quatro departamentos de uma escola e relativo a dois períodos do corrente ano escolar:




O que é aqui essencial? As olimpíadas, a visita ao planetário Gulbenkian, os testes do GAVE, o coastwatch e pouco mais. O resto é para docentes e discentes se dispersarem.
Estas tabelas e relatórios não têm outro préstimo, senão irem encher um dos inúmeros arquivadores que depois irão deliciar os inspectores que anualmente vêm avaliar a escola.
É certo que os resultados dos alunos nos exames nacionais são um dos parâmetros de avaliação, mas apenas um, entre muitos não essenciais que ocuparam o foco das atenções.

No escasso tempo restante é que os professores vão para a sala de aula debitar o manual e depois, nas reuniões dos conselhos de turma para avaliação dos alunos, decide-se o sucesso com base em critérios de avaliação que privilegiam a parte afectiva em detrimento dos aspectos cognitivos.

Mesmo no que respeita a observação de aulas pelos avaliadores — nomeados indirectamente pelo director através dos coordenadores de departamento e que, em geral, têm uma fraca formação científica na disciplina leccionada pelo avaliado — o importante não é, obviamente, o conteúdo da aula ou a maneira como o assunto é exposto.
O que importa são os impressos que avaliador e avaliado têm de preencher por cada aula observada.
O que importa é o powerpoint de planificação da aula com uma dúzia de diapositivos com conversa fiada sobre estratégias, reflexões e objectivos copiados do programa da disciplina, na ordem em que lá estão, mesma que não seja a mais adequada à exposição do assunto da aula.
O esboço da aula, que o professor que não debita manual faz durante a preparação da aula, com as noções que vai transmitir, os exemplos que vai dar e os exercícios de aplicação que vai propor aos alunos, e que exige a consulta de muitos livros e uma prolongada reflexão fora do espaço escola, não aparece em lado nenhum porque não é considerado importante.

Raros foram os docentes que se afastaram deste processo, cientes de que o País iria à falência com esta política educativa, e investiram em trabalho sobre os conteúdos programáticos do 5º ao 12º ano. Puseram em risco a sua avaliação e até a permanência na carreira se o partido socialista se tivesse mantido no poder até 2013.
O que os surpreende é que, apesar das escolas, nos últimos anos, se terem concentrado em actividades de entretimento e tarefas burocráticas com prejuízo grave do Ensino, os resultados obtidos pelos alunos nos exames nacionais ainda sejam tão bons.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Os resultados dos exames nacionais de 2011 - Ensino Secundário


Na sua análise, o Ministério da Educação apenas reflecte sobre os resultados dos exames realizados pelos alunos internos, ou seja, os que frequentam as aulas o ano lectivo inteiro e obtêm aproveitamento para ir a exame.

Ora há um significativo número de alunos que anulam a matrícula por terem baixo aproveitamento, ou frequentam cursos profissionais, ou estudam por sua conta e risco. Todos estes alunos são externos ao sistema de ensino e autopropõem-se a exame.
Encontrámos um interessante estudo da distribuição das classificações de exame por disciplina onde se pode comparar os resultados dos examinandos internos e externos. Conclui-se que em línguas, ao nível do aprofundamento, estes examinandos autopropostos apresentam muito melhores resultados que os examinandos internos mas em Matemática e Ciências Experimentais passa-se justamente o oposto.
Uma cabal demonstração de que o ensino da Matemática e das disciplinas do domínio das Ciências Experimentais exige o trabalho de professores e equipamento só acessível em escolas e, portanto, o empenhamento dos governos para se obter bons resultados.

Regressemos à análise do Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE). Na prova de Matemática A, realizada no 12.º ano, a média dos alunos internos desceu, em relação a 2010, de 12,2 para 10,6. No exame de Português a descida ficou pelos 14 pontos, mas para uma média negativa: 9,6.

O director do GAVE, Hélder de Sousa, supõe que a variação registada na disciplina de Português "possa reflectir uma alteração da tipologia de itens introduzida no Grupo II da prova, relativo ao Funcionamento da Língua, que traduz um acréscimo de exigência neste domínio particular da aprendizagem da língua materna".
A presidente da Associação de Professores de Português (APP), Edviges Ferreira, que foi correctora de provas, explica que neste grupo, a partir de um texto de José Saramago, pedia-se aos alunos que identificassem classes de palavras, funções sintácticas e classificassem orações. Nos exames dos anos anteriores não foram abordados estes conteúdos. E conclui: "Pelos vistos, os alunos estavam um bocado esquecidos. Já não sabiam identificar um complemento directo ou um sujeito."

Quanto aos resultados do exame de Matemática A, Miguel Abreu, presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, afirmou: "Ninguém gosta de ver aumentar o número de notas negativas, mas pior seria continuar a ter dados enganadores. A descida era previsível tendo em conta que houve um aumento no grau de exigência da prova. Os resultados traduzem de maneira muito mais fiável o nível de conhecimentos dos alunos."
A presidente da Associação de Professores de Matemática, Elsa Barbosa, realçou que a média dos alunos internos é a que espelha o trabalho que é desenvolvido nas aulas e esta foi positiva. Considera que a descida relativamente ao ano passado "não é significativa" porque pode reflectir uma novidade introduzida no exame deste ano: "Existe um item que foi elaborado com o objectivo de conseguir estratificar melhor os alunos, de modo a permitir distinguir os alunos de excelência."
Efectivamente o grupo II-1 com duas questões sobre os números complexos tinha um nível de exigência superior e só alunos excelentes teriam competência para abordar a segunda questão. Mas o objectivo dos exames é justamente fazer uma distribuição dos alunos por grau de desenvolvimento de competências.
Uma nota final. Os exames têm apenas um peso de 30% na classificação final dos alunos mas, mesmo assim, 20% dos alunos ficaram reprovados nesta disciplina, a maior das percentagens de reprovações. É óbvio que os docentes de Matemática têm de rever os seus critérios de avaliação e ser mais rigorosos nas área de aquisição de conhecimentos.

O quadro seguinte (clique para aumentar) foi elaborado a partir do Relatório dos exames nacionais de 2010, publicado há uma semana pelo GAVE, e dos resultados dos exames do Ensino Secundário de 2011 hoje publicados pelo DN.
Remetemos os encarregados de educação que desejam conhecer os resultados dos seus educandos para o website do respectivo agrupamento de escolas ou escola não agrupada.




O leitor que deseje conhecer os enunciados e os critérios de classificação dos exames dos ensinos básico e secundário de 2011, pode consultar esta página.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Os resultados dos exames nacionais de 2011 - Ensino Básico


Conhecidos os resultados dos exames nacionais do 3º ciclo do Ensino Básico, o director do Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE), Helder de Sousa considerou que estes “reflectem o ajustamento do nível de exigência, concretizado numa acrescida complexidade de alguns dos itens e na continuação da procura de um maior rigor na definição e também na aplicação dos critérios de classificação”.

Miguel Abreu, presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática manifestou-se preocupado, mais do que com a descida da média geral, com o facto de 18% dos alunos (16.324) terem sido classificados no nível 1 (em cinco), não tendo conseguido obter mais do que 19 pontos (escala 0 a 100) na prova, duplicando a percentagem do ano passado, porque “o grau de dificuldade foi semelhante ao do exame de 2010 e não justifica de todo esta diferença que é muito preocupante. (...) Cerca de um terço dos alunos que fizeram o exame chegaram ao final do ensino básico muito mal preparados”.

O quadro seguinte (clique para aumentar) foi elaborado a partir do Relatório dos exames nacionais de 2010, publicado há uma semana pelo GAVE, e dos resultados dos exames do 3º ciclo do Ensino Básico de 2011 hoje publicados pelo Público.
Os resultados de cada aluno(a) serão publicados no website da respectiva escola.



O leitor que deseje conhecer os enunciados e os critérios de classificação dos exames dos ensinos básico e secundário realizados nas 1.ª e 2.ª chamadas/fases de 2011, pode consultar esta página.