quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Tempestade na ilha da Madeira IV




Lê-se e não se acredita.

É certo que pagaram as suas férias e têm o direito de usufruí-las. Mas será que nunca perderam um familiar ou um amigo?
É que não conseguem compreender o sofrimento dos madeirenses, nem mostrar um pingo de humanidade. Serão robots?

Nem sequer se apercebem que podiam estar na baixa do Funchal no momento da enxurrada e ter o mesmo destino da cidadã britânica que foi arrastada pela lama e pereceu.

Tempestade na ilha da Madeira III



Esta tragédia foi anunciada em Abril de 2008 no documentário Biosfera da RTP2:






Agradece-se a informação dada pelos comentadores falaraverdade , Funchal, Portugal. 25.02.2010 10:48 e josé, funchal. 25.02.2010 15:10.


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Tempestade na ilha da Madeira II



Desflorestação e construção em linhas de água acarretam graves prejuízos materiais e perdas de vidas humanas, como os madeirenses acabam de aprender em sofrimento.
Para que uma tal tragédia não se repita, merece alguma reflexão duas opiniões transcritas do Público.

A primeira, do geógrafo e antigo vereador do ambiente da Câmara Municipal do Funchal, Raimundo Quintal, considera que esta tragédia era "expectável". E acrescenta:

" Não é altura de procurar razões ou responsáveis. O que aconteceu, aconteceu e não há dúvidas de que era expectável, embora com uma cumplicidade alargada, pois choveu imenso, do mar à serra.
(...) [O] que vi hoje e sábado, infelizmente, leva-me a temer que o número de mortos vai subir muito e o apelo que faço é que todos sejamos capazes de ter ânimo para recuperar esta nossa linda cidade e ilha, que têm uma paisagem soberba mas em que, por vezes, a Natureza se enraivece.
"

O geógrafo e especialista em questões ambientais, que na década de 90 iniciou um plano de reflorestação das serras funchalenses, com a criação do Parque Ecológico do Funchal, concluiu:

" Espero que todos saibamos aprender com os erros cometidos. "


A segunda é um comentário de quem conhece profundamente as linhas de água no concelho do Funchal:


EGP, FX. 21.02.2010 22:12

Grandes Males, pequenos remédios (1)

Muito do que aconteceu tinha sido anunciado! Deixemos isso para depois... Por agora, pensemos o que fazer... Para remediar um pouco do que foi feito...

A ideia principal tem de ser a libertação das linhas de água: ribeiras e ribeiros! Não escondam as ribeiras nem os ribeiros...

Foz da Ribeira de S. João: A ribeira tem de ficar descoberta! Rebentemos com tudo o que cobre a ribeira e estude-se a melhor maneira de substituir a Rotunda do Infante.
Foz das Ribeiras de Santa Luzia e de João Gomes: Destrua-se as pontes da Praça da Autonomia e a própria Praça...
Na foz das três Ribeiras referidas, construam-se pontes mais elevadas (em arco) devidamente enquadradas na paisagem (difícil, mas...).... A Avenida do Mar tem de permitir o escoamento da água das Ribeiras...

EGP, FX. 21.02.2010 22:20

Grandes Males, pequenos remédios (2)

Outra questão tem a ver com os pequenos ribeiros... São tão pequenos, os ribeiros... Resolveram escondê-los... Vejam o que aconteceu...

O Ribeirinho da Pena, O Ribeiro da Rua do Comboio, da Rua do Pombal/Til, da Nora... Respeitemos os pequenos ribeiros, quando não chove... A ver se eles nos respeitam em dias de chuva intensa!

Tem de haver uma discussão muito séria sobre o que aconteceu, o que foi feito de mal na ocupação do solo e, muito importante, que soluções para os problemas... Vai tornar a chover muito, garanto!



domingo, 21 de fevereiro de 2010

Tempestade na ilha da Madeira I


O regresso brutal à realidade neste país.






O encontro de uma massa de ar muito frio, oriunda da Terra Nova, com uma massa de ar quente, a sul, criou uma superfície frontal no oceano Atlântico, entre Cuba e Marrocos, com nuvens que atingiram 12 a 14 km de altura. O sul da ilha da Madeira ficou no caminho desta frente nebulosa:





O Instituto de Meteorologia já previa para o Funchal um valor de precipitação elevado. Pelas 19.25 de sexta-feira foi emitido o aviso amarelo de precipitação que corresponde à queda de 10 a 20 milímetro de chuva por hora. Dados oriundos do satélite permitiram antever um agravamento da situação e pelas 8.52 de sábado, dia do temporal, o aviso mudou para laranja (queda de chuva entre 21 e 40 mm/h), passando apenas às 10.00 para vermelho (queda de chuva acima de 40 mm/h).
Foi entre as 9 e as 10h que a estação Funchal-Observatório registou o valor máximo de precipitação por hora: 52 mm/h. O valor acumulado entre as 6 e as 11h foi 108 mm.
Na estação Pico do Areeiro registou-se o valor máximo de 58 mm/h, obtido entre as 10 e as 11 h, e o valor acumulado entre as 6 e as 11h foi 165 mm.







Milhões de litros de água desceram pelas escarpas a grande velocidade e foram parar a ribeiras apertadas entre muros e que, para agudizar a tragédia, atravessam entubadas a baixa do Funchal.
A ignorância científica e técnica dos decisores no ordenamento do território aliou-se, assim, à violência da tempestade para avolumar a catástrofe face às cheias de 1993 (8 mortos e uma centena de desalojados).

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Evasão II - Uma missão espacial para alunos 10-13 anos


A NASA dá-te a possibilidade de projectares a tua missão espacial.

Começa por desenhar a tua imagem de cientista (ou engenheiro), depois constroi o teu laboratório e a tua nave espacial.
Escolhe o destino e lança o foguetão.
Finalmente, quando a nave estiver numa órbita à volta do planeta que escolheste, dá-lhe instruções para recolher os dados. Repara que a informação é enviada para o teu laboratório como uma sucessão de 0's e 1's.

Bom trabalho!


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Evasão I - Tranquilidade





Parte da Estação Espacial Internacional foi captada numa fotografia pela sua tripulação. Como pano de fundo, o planeta Terra a flutuar no espaço.

Fotografia:NASA/Reuters



Uma fotografia do Público que convida à evasão.

A quem interessa a privatização das escolas públicas? II



Em resposta à notícia publicada hoje no Público, sobre a privatização das escolas do ensino secundário, transcreve-se um excelente comentário que acusa certos políticos de andarem a dormitar e propõe a criação de círculos uninominais:


Anónimo, Portugal. 17.02.2010 09:38
O Bloco chega tarde, muito tarde!

O Bloco chega tarde, muito tarde. Se tivesse participado no Congresso NextRev (A Próxima Revolução), na Gulbenkian, em 2008, teria percebido que a privatização vinha a caminho e em força.

Pergunto-me onde é que os partidos às vezes andam e o que andam a fazer. Então ninguém ainda perguntou na Assembleia da República por que razão há somente uma única empresa com o bolo da renovação das escolas na mão? Por acaso sabem onde estão implantadas as escolas? Calculam que o metro quadrado dos locais de implantação é elevadíssimo?
Onde é que andam os partidos? Basta entrar na internet e ler: «A parque escolar, EPE, criada pelo Decreto – Lei n.º 41/2007, de 21 de Fevereiro, é uma pessoa colectiva de direito público de natureza empresarial». Já lá vão três anos e o bloco só agora vai interpelar?
A revolução começou em 2007, prosseguiu em 2008 e, só para alguns distraídos, estamos em 2010. E só agora é que o Bloco acorda e vai interpelar a Ministra da Educação, já a procissão vai no adro e sem retorno à capela? Bem… vou aceitar em absoluta resignação que mais vale tarde do que nunca!

Quando é que será que eu vou poder falar directamente com o representante do meu distrito na Assembleia da República e perguntar-lhe o que é que anda a fazer em determinadas matérias? Chegou a hora de uma democracia verdadeiramente representativa!


terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

A quem interessa a privatização das escolas públicas?



A empresa pública Parque Escolar foi criada pelo DL 41/2007 para realizar um programa de obras nas escolas públicas, justificado com a necessidade de adaptar as instalações escolares ao uso das novas tecnologias e às novas normas de climatização e ruído.

" Todas as escolas que estiveram, estão ou virão a estar em obras, no âmbito do programa de modernização dos seus edifícios tutelado pela Parque Escolar, vão deixar de integrar o património do Estado para passar a ser propriedade daquela entidade pública empresarial ", indicou ao PÚBLICO o seu presidente, João Sintra Nunes.

Mais acrescenta que 332 das 445 escolas públicas de Portugal continental que têm ensino secundário receberão obras de beneficiação, donde se conclue que a transferência de propriedade para a Parque Escolar afectará 3/4 das escolas com secundário e será feita " à medida que as escolas vão sendo modernizadas ".

Neste momento a empresa já é a proprietária de sete escolas, entre as quais os antigos liceus Pedro Nunes e Passos Manuel, em Lisboa, e Rodrigues de Freitas, no Porto. Fica, assim, na posse de terrenos e imóveis que ocupam milhares de metros quadrados em zonas centrais das cidades.

Teoricamente a transferência de propriedade do Estado para as empresas públicas tem como objectivo diminuir as despesas no Orçamento do Estado, pois será a Parque Escolar que terá de gerir os imóveis.
A questão é que o património da empresa pode ser utilizado como aval para contrair empréstimos: já existe um empréstimo de 300 milhões de euros, estando previstos outros dois num montante de 850 milhões.


Além disso as empresas públicas têm de obedecer a muito menos requesitos do que o Estado quando se trata de alienar património. E nos últimos anos várias empresas públicas foram privatizadas para pagar o défice do Estado.

Portanto não adianta escamotear que, no futuro, os antigos liceus poderão converter-se em colégios privados e exigirem mensalidades fora do alcance da maioria das famílias, que verão os seus filhos afastados dessas boas escolas e empurrados para outras de fraca qualidade nos subúrbios das cidades.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Plano inclinado XIII - Economia e finanças nacionais e internacionais





Einstein's unfinished symphony II


O anterior vídeo proporcionava o prazer de ver o documentário da BBC completo e num único fôlego. Mas a empresa accionou os seus direitos autorais. Paciência. Fica o que resta.













sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Einstein's unfinished symphony



A documentary on the ideas and life of the late Albert Einstein.

discoveryourworld



He had the good fortune to live in a time when people took off their hats when a man died.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Libertar o futuro



... e devolver a esperança.






"(...) Tem de arrojar-se com uma revolução na Educação que, em vez de estar centrada no combate corporativo aos professores, rejeite por todos os meios o facilitismo e a estatística, promovendo os grandes valores da escola - a transmissão do conhecimento, a exigência, a autoridade dos professores e a autonomia da gestão. (...)"


Parece haver sinceridade nestas palavras e também a determinação e a vontade necessárias para enfrentar os problemas com que se debate a escola pública.
Transformada em armazém de crianças e adolescentes, com os docentes a servirem de animadores culturais e passadores de diplomas, será preciso muita coragem para retomar o objectivo da escola que é a transmissão do conhecimento entre as sucessivas gerações e a formação dos adultos que não se qualificaram em devido tempo.

Mas depois de tantos anos de marketing político prefere-se esperar pela prática: é que autonomia, com entrega do ensino não superior ao poder local, é a solução miraculosa que os políticos inventaram, nas torres de marfim onde vivem, para se livrarem das confusões e complicações da escola pública.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Plano inclinado XII - Orçamento para o Ensino Superior






"É a educação que pressiona o desenvolvimento económico". E não o inverso.

É a conclusão a que chegaram os autores de recente relatório da OCDE, The High Cost of Low Educational Performance, dois economistas que estudaram a relação entre educação e desenvolvimento económico, baseando-se em dados disponibilizados nos últimos 40 anos pelos países que integram esta organização.
Concluíram também:

" (...) o que interessa é a qualidade do que se ensina e do que se aprende, não é a duração da escolaridade".

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Nanotecnologia



Os nanofios de que se fala no anterior artigo são fios com diâmetro da ordem de 1 nanómetro, i.e. 1 milionésimo do milímetro. A tecnologia que produz estes fios chama-se, por isso, nanotecnologia e tem o objectivo de construir objectos ou mecanismos com dimensões da ordem do nanómetro e cujas peças são moléculas.

Em 2011 começará a funcionar em Braga um centro de investigação, o International Iberian Nanotechnology Laboratory (INL) que pretende desenvolver novos nanoprodutos.




•O campus do futuro INL vai ocupar uma área com cerca de 47 000 m2
•Junto do rio Este
•Perto da Universidade do Minho

Os primeiros projectos dirigir-se-ão para as seguintes áreas prioritárias de investigação:

-Nanomedicina.
-Segurança e monitorização do ambiente e controlo de qualidade dos alimentos.
-Nanodispositivos electrónicos.
-Nanomáquinas e nanomanipulação.






Nanodispositivo para libertar in situ (glóbulo vermelho do sangue) o medicamento.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Displax Multitouch Technology



A tecnologia multitoque Displax transforma qualquer material não-condutor numa superfície interactiva pelo toque.

Consiste numa rede de nanofios embutida numa película de polímero transparente e mais fina que uma folha de papel. Pode aplicar-se sobre uma enorme variedade de superfícies planas ou curvas de vidro, plástico ou madeira.

Permite detectar 16 dedos simultaneamente em ecrãs até 50 polegadas. Quando se toca com um dedo no ecrã, ou se sopra sobre a superfície, cria-se uma pequena perturbação eléctrica que é detectada permitindo ao microprocessador do controlador identificar o movimento ou a direcção do fluxo de ar.




Com dimensões entre 35 cm e 3 m de diâmetro, a espessura de 100 mícron e peso até 300 g vai converter vitrinas em superfícies sensíveis ao toque, permitindo a criação de painéis de informação ou o desenvolvimento de interfaces inovadoras para a indústria de telecomunicações, farmacêutica e também na banca e museus.

Esta tecnologia foi desenvolvida pela empresa portuguesa Edigma, com sede em Braga, e apresentada esta semana na feira Integrated Systems Europe dedicada a profissionais das áreas dos audiovisuais e integradores de sistemas electrónicos.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Fab Labs



Uma ideia magnífica: instalar uma rede de Fab Labs em Portugal.

Apreciem a feitura desta cadeira:




terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Por quem defende a qualidade do ensino



Transcreve-se o artigo de opinião (censurado) de quem é perseguido por defender o futuro do país e a qualidade do seu ensino:

O Fim da Linha

Mário Crespo

Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento. O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal. Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o. Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)". É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos. Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados. Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre. Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009. O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu. O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”. O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”. Foi-se o “problema” que era o Director do Público. Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu. Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.


Nota: Artigo originalmente redigido para ser publicado hoje (1/2/2010) na imprensa.

domingo, 31 de janeiro de 2010

O "Admirável Mundo Novo" de António Barreto



À proposta de António Barreto de entrega do ensino básico e secundário ao poder local, a resposta culta e lúcida de um encarregado de educação profundamente conhecedor da realidade social portuguesa:


A Educação em Portugal: O "Admirável Mundo Novo" de António Barreto

Salvador Costa


Numa recente entrevista António Barreto defendeu que a Educação em Portugal devia ser transferida para as escolas e as autarquias e o Ministério da Educação ter uma intervenção "residual": definir o currículo nacional e a fiscalização. E terminou a frase com: "ponto final".
Ou seja, António Barreto defende um modelo de escola-comunidade sem atender à realidade social do país:

1- Um dos aspectos fundamentais da qualidade do ensino público é o aprofundamento da autonomia da gestão e administração das escolas, assente em lideranças profissionalizadas e em contratos de autonomia celebrados com o Ministério da Educação.

2- A certificação de competências e o recrutamento de docentes centradas no Ministério da Educação e nas escolas (modelo actualmente vigente) de modo a assegurar o máximo de imparcialidade, qualidade e transparência nos critérios de selecção do corpo docente.

3- O reforço das competências e o alargamento da participação das associações de pais e encarregados de educação como parceiros educativos principais da gestão escolar.

4- Atendendo às fragilidades estruturais que caracterizam o poder local a nível da falta de eficácia da decisão administrativa e da corrupção (no seu sentido mais lato), proceder-se a uma profunda reforma da Administração Pública Local que assegure a eficácia da decisão administrativa, o rigor e qualidade da gestão dos serviços públicos, o reforço dos mecanismos de prevenção e penalização da corrupção e do enriquecimento ilícito.

5- Passar um "cheque em branco" para as autarquias em matéria tão nobre e importante para o país como é a Educação, é introduzir na gestão do sistema de ensino público factores de ineficácia e de eventual deturpação dos seus valores essenciais por motivos de ordem político-partidária, compadrio, tráfico de influências e outros desvios à racionalidade do sistema e à ética da actuação dos seus protagonistas.

6- Em termos organizacionais, António Barreto defende a transferência das competências da Educação de uma empresa estatal (Ministério da Educação) com uma estrutura hierárquica e de liderança consolidadas, um forte apoio logístico em termos de estabilidade financeira (orçamento do Estado), recursos humanos, tecnológicos e científicos, com uma responsabilidade social perfeitamente identificada em termos de missão e valores (Lei de Bases do Sistema Educativo); para "pequenas e médias empresas" (autarquias locais), com elevados níveis de endividamento, sem recursos humanos qualificados (salvo raras excepções), sem um compromisso ético assumido em termos de missão e valores, dependentes de programas político-partidários e de interesses das clientelas das lideranças locais. Sem um controlo eficaz e atempado da qualidade da gestão e da legalidade das decisões tomadas na área da Educação.

7- As fragilidades do modelo defendido por António Barreto face ao país real, passo a enumerar com conhecimento pessoal e documentado a título de cidadão e encarregado de educação.
Dr. António Barreto, neste Portugal democrático, de que V. Exa. é um dos principais estudiosos sociais, nesta data em que se comemora a Implantação da República em Portugal, a aplicação do seu modelo de escola-comunidade trouxe as seguintes inovações ao sistema de ensino público:

Há alunos que pagam o preço legal da refeição escolar, outros pagam um preço inferior, outros estão isentos do pagamento de qualquer valor, tudo depende da vontade, sensibilidade e oportunismo político dos autarcas. Há alunos a quem lhes é servido uma única salsicha acompanhada de arroz, ou somente metade de uma peça de fruta porque o autarca em questão poupa na alimentação das crianças para fazer obras ou eventualmente para benefício pessoal. Funcionárias de cantinas escolares com contratos precários e salários em atraso. Subsídios de material escolar que só são entregues em meados do segundo período escolar, enquanto há autarquias que pagam a totalidade dos manuais escolares dos alunos, independentemente do rendimento do seu agregado familiar.
Escolas que funcionam em situações precárias ou mesmo sem as devidas condições de segurança porque as funcionárias contratadas pela autarquia ou são em número insuficiente para o número de alunos ou com reduzido horário de trabalho (quatro horas por dia). Há alunos do primeiro ciclo que não têm Inglês porque a professora contratada está de baixa por motivo de licença de maternidade e a autarquia não recruta uma professora de substituição. Há alunos que passam frio durante dias seguidos porque há um litígio pessoal ou político entre o presidente da junta de freguesia que gere as instalações da escola e o presidente da câmara ou o vereador da educação.
Há professores que são contratados para as actividades extra-curriculares em que são apontadas razões de favorecimento por motivos pessoais ou políticos em relação a candidatos mais qualificados e experientes.
Há associações de pais e encarregados de educação que sofrem pressões e boicote para impedir a sua legítima representação nos órgãos locais que tratam assuntos da área da educação (CPCJ, CME) em que a súmula dos elementos que os constituem, tirando os legítimos parceiros sociais afectos ao Poder Central, são os comissários políticos, os amigos e a clientela da liderança autárquica.

É este o Admirável Mundo Novo do modelo da escola-comunidade que defende António Barreto.

8- Sem que os pais e encarregados de educação tenham a liberdade de escolha da escola em que pretendem inscrever os educandos, ficando assim reféns de um bom ou mau mandato autárquico a nível da gestão das questões da Educação.

9- Criando por todos os factos acima enunciados, manifestas condições de desigualdade e ineficácia no sistema de ensino público, pela sua eventual subordinação aos interesses das lideranças político partidárias locais e respectivas clientelas.

10- Esperemos que outros, tenham o bom senso de efectuar um profundo e detalhado estudo da realidade política e social da Administração Pública Local de modo a assegurar o futuro do país por um sistema de ensino público de qualidade. E não tentar adoptar um modelo teórico de sistema de ensino que na prática, no estado de desenvolvimento colectivo do país, pode redundar num tremendo disparate.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Isaac Newton III - É uma honra para a espécie humana que um tal homem tenha existido





Sepultado na abadia de Westminster, pode ler-se no seu epitáfio (séc. XVIII),

Mortals rejoice that there has existed such and so great an ornament of the human race!

que actualmente se traduz por:

É uma honra para a espécie humana que um tal homem tenha existido.





Isaac Newton II - A gravitação universal




William Stukeley permite-nos apreciar o diáfano pensamento de Newton:

"After dinner, the weather being warm, we went into the garden and drank thea under the shade of some appletrees; only he, and myself. Amidst other discourse, he told me, he was just in the same situation, as when formerly, the notion of gravitation came into his mind. Why should that apple always descend perpendicularly to the ground, thought he to himself; occasioned by the fall of an apple, as he sat in a contemplative mood. Why should it not go sideways, or upwards? But constantly to the earth’s center? Assuredly the reason is, that the earth draws it. There must be a drawing power in matter. And the sum of the drawing power in the matter of the earth must be in the earth’s center, not in any side of the earth. Therefore does this apple fall perpendicularly or toward the center. If matter thus draws matter, it must be in proportion of its quantity. Therefore the apple draws the earth, as well as the earth draws the apple .

Thus by degrees, he began to apply this property of gravitation to the motion of the earth, and of the heavenly bodys: to consider their distances, their magnitudes, their periodical revolutions: to find out this property, conjointly with a progressive motion impressed on them in the beginning, perfectly solved their circular curves ... "



A queda de uma maçã dá início a uma linha de pensamento, que terminou com a publicação dos Principia Mathematica em 1687.




quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Isaac Newton I - Como ler a primeira biografia sem sair de casa


The Royal Society criou a galeria Turning the Pages onde apresenta facsimiles digitais de alta qualidade de manuscritos.
O carácter inovador está na aplicação informática Turning the Pages 2.0 que dá ao leitor o deleite de folhear as páginas desses manuscritos.

Escolhendo a primeira biografia de Isaac Newton, Memoirs of Sir Isaac Newton’s life, por William Stukeley, e virando as páginas com o rato, pode ler-se, na página 15, a versão original da história da queda da maçã que o genial físico-matemático quis ligar à descoberta da gravitação universal.


Woolsthorpe Manor, local do nascimento de Sir Isaac Newton e onde terá observado muitas quedas de maçãs


Trata-se de um manuscrito inglês do séc. XVIII, com uma caligrafia magnífica e uma escrita envolvente, que se lê com um prazer inolvidável:

After dinner, the weather being warm, we went into the garden and drank thea under the shade of some appletrees; only he, and myself. Amidst other discourse, he told me, he was just in the same situation, as when formerly, the notion of gravitation came into his mind.

"Why should that apple always descend perpendicularly to the ground", thought he to himself; occasioned by the fall of an apple, as he sat in a contemplative mood.

"Why should it not go sideways, or upwards? But constantly to the earth’s center? Assuredly, the reason is, that the earth draws it. There must be a drawing power in matter. And the sum of the drawing power in the matter of the earth must be in the earth’s center, not in any side of the earth. Therefore dos this apple fall perpendicularly or toward the center. If matter thus draws matter, it must be in proportion of its quantity. Therefore the apple draws the earth, as well as the earth draws the apple."

Ao contrário do que sucede com as Lendas e Narrativas, de Alexandre Herculano, um texto escrito no séc. XIX cuja leitura é mais difícil devido aos tratos de polé sofridos pela ortografia da língua portuguesa. Eis um excerto da graciosa lenda A Dama Pé-de-Cabra:

D. Diogo Lopes era um infatigavel monteiro: neves da serra no inverno, soes dos estevaes no verão, noutes e madrugadas, disso se ria elle.

Pela manhan cedo de um dia sereno, estava D. Diogo em sua armada, em monte selvoso e agreste, esperando um porco montês, que, batido pelos caçadores, devia saír naquella assomada.

Eis senão quando começa a ouvir cantar ao longe: era um lindo, lindo cantar.

Alevantou os olhos para uma penha que ficava fronteira: sobre ella estava assentada uma formosa dama: era a dama quem cantava.

O porco fica desta vez livre e quite; porque D. Diogo Lopes não corre, voa para o penhasco.

«Quem sois vós, senhora tão gentil; quem sois, que logo me captivastes?»

(...)

Quando pela manhan cedo o conde Argimiro, do seu balcão principal, ordenava que levassem o corpo da condessa a um mosteiro de donas, que elle fundara para ahi ter seu moimento, elle e os de sua casa, e dizia aos homens de armas que arrastassem o cadaver de Astrigildo e o despenhassem de um grande barrocal abaixo, viu um onagro silvestre deitado a um canto do pateo.

«Um onagro assim manso é cousa que nunca vi — disse elle ao víllico, que estava alli ao pé. — Como veio aqui este onagro?»

O víllico ía a responder, quando se ouviu uma voz: dir-se-hia que era o ar que falava.

«Foi nelle que veio Astrigildo: será elle que o levará. Por ti ficaram orphãos os filhinhos do onagro, mas por via do onagro ficaste, oh conde, deshonrado. Foste cru com as pobres feras: Deus acaba de vingá-las.»

«Misericordia!» — bradou Argimiro, porque naquelle momento se lembrou da maldicta caçada.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O sismo no Haiti II - Coragem e abnegação


A coragem dos sobreviventes e a abnegação dos socorristas:












O sismo no Haiti I - O fenómeno tectónico



No hipocentro do sismo de 12 de Janeiro, no Haiti, ocorreu um deslocamento horizontal com a amplitude máxima de 4 m entre as placas tectónicas das Caraíbas e da América do Norte, ao longo da falha Enriquillo-Plantain Garden. Não houve um maremoto pelo facto do movimento ter sido predominantemente horizontal.

O sismo do Haiti teve magnitude 7. Foi devastador porque a libertação de energia ocorreu apenas a 13 km da superfície.
Nesta região não ocorria um terramoto há cerca de 150 anos.







O palácio presidencial
Uma montagem mostra o palácio presidencial do Haiti, depois e antes do sismo. O primeiro-ministro do país afirmou que poderão ter morrido mais de cem mil pessoas.

Fotografia:Eduardo Munoz/Reuters


A barragem do Alqueva atingiu a cota máxima



No passado dia 12 de Janeiro a barragem do Alqueva atingiu a cota máxima de 152 m e começou a fazer descargas.





Está a passar 400 m3/s de água pelas turbinas para produção de energia eléctrica e 600 m3/s pelas comportas de descarga.


sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Eclipse do Sol em África e Ásia







O eclipse solar começou às 5:00 (hora de Portugal continental).
O cone de sombra passou pela República do Congo, Uganda, Quénia, atravessou o oceano Índico e chegou à Ásia.
Segundo a Agência Espacial norte-americana (NASA) foi o mais longo do milénio, tendo atingido a duração máxima na Ásia: 11 minutos.





A olhar para o céu

Uma mulher usa uns óculos especiais para ver o eclipe solar na cidade de Rameswaram, no Sul da Índia.

Fotografia:Rupak De Chowdhuri/Reuters


sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Acordo no Ministério da Educação -- II






O acordo foi enviado pelo ME para as escolas hoje de manhã.


Acordo no Ministério da Educação





Oito associações sindicais, incluindo a Federação Nacional dos Professores (Fenprof), que representa quase 70 por cento da classe, e a Federação Nacional dos Sindicatos da Educação (FNE), chegaram a acordo esta madrugada com o ministério de Isabel Alçada.

Ler aqui.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O arrefecimento global



O jornal Público está a publicar uma sucessão de fotografias que recolhemos:



Um manto branco gelado
Um manto de gelo cobre o percurso entre o lago e o palácio de Charlottenburgo, em Berlim, fazendo com que o maior palácio da capital alemã pareça acessório na paisagem. A neve não pára de cair na capital alemã nos últimos dias.

Fotografia: Fabrizio Bensch/Reuters





36 graus abaixo de zero
Com uma temperatura ambiente de 36 graus negativos, um vigilante caminha ao longo das margens do rio Ienisei, perto da cidade russa de Krasnoiarsk, na Sibéria.

Fotografia:Ilya Naymushin/Reuters





Forte nevão
Dezenas de polícias preparam-se, com pás nas mãos, para retirar a neve que bloqueou um comboio em Shangdu, na Mongólia Interior, região autónoma da República Popular da China. As autoridades locais destacaram dez mil pessoas para as zonas onde caiu o nevão para ajudar a limpar as estradas e linhas de caminho de ferro.

Fotografia:China Daily/Reuters





Nuvem-rolo no Uruguai
A fotógrafa uruguaia Daniela Eberl capturou a rara imagem de uma nuvem em forma de rolo, sobre a praia de Las Olas, em Punta del Este, no Uruguai. Estas nuvens estão normalmente associadas a uma frente fria e podem estender-se por muitos quilómetros.

Fotografia:Daniela Eberl/Creative Commons





Stonehenge coberto de branco
O cromeleque de Stonehenge, no sul de Inglaterra, não escapou ao manto branco que as baixas temperaturas fizeram cair sobre o território britânico. As temperaturas chegaram aos 13 graus negativos. Há 30 anos que não fazia tanto frio.

Fotografia: Kieran Doherty/Reuters





Reino Unido escondido pela neve

Fotografia:NEODAAS/University of Dundee



A revisão do ECD e o modelo de avaliação


A quase totalidade dos directores eleitos ao abrigo da actual legislação (DL 75/2008) adquiriram conhecimentos de administração escolar nos conselhos executivos, não têm formação teórica em gestão, nem pretendem adquiri-la, pois sabem que o ME criará umas acções de pseudo formação e virá propalar para a comunicação social que quase todos são muito bons ou excelentes.

Prevê-se, por isso, que muitos tenham dificuldades em gerir recursos humanos o que, obviamente, se reflectirá nos coordenadores dos departamentos por eles nomeados, que por sua vez nomearão os relatores. Estes farão a observação de aulas dos docentes que o requererem pois é, e muito bem, condição sine qua non para aceder às classificações de Muito Bom e Excelente.
Imaginemos alunos a avaliarem os seus colegas de turma e teremos uma ideia do que se vai passar. Vai continuar o fartar vilanagem deste último biénio escolar 2007/2009 em que os muitos bons e excelentes foram atribuídos quase em exclusividade aos avaliadores.

O resultado será o aparecimento nos blogues dos professores de Quadros de honra e Quadros negros de escolas que pesarão fortemente na selecção de escolas por parte dos docentes aquando dos concursos quadrienais de colocação de docentes, tanto mais que se arriscam a perder dois ciclos consecutivos de avaliação. Isto originará uma migração dos que realmente são melhores professores para os agrupamentos/escolas não agrupadas onde a avaliação seja feita por mérito.

Como, necessariamente, terá reflexo nos resultados dos alunos nos exames nacionais, essas escolas subirão no ranking e os encarregados de educação que se preocupam com a formação dos seus filhos passarão a matriculá-los nessas escolas. Será uma dupla vantagem para os docentes, porque além de usufruírem de uma avaliação por mérito, também poderão trabalhar com alunos e encarregados de educação empenhados no sucesso escolar, o que não é, de modo algum, apanágio dos portugueses.

Com o decorrer do tempo o conjunto das escolas partir-se-á em duas classes com grande diferenciação de resultados dos alunos. E também na qualidade do corpo docente: numa concentrar-se-ão os professores com inclinação para ensinar e na outra os vocacionados para a animação cultural.
Haverá escolas publicas que entrarão em competição com os melhores colégios privados, tal como sucedia antes do 25 Abril com os liceus Pedro Nunes, Camões, D. Filipa de Lencastre, Rainha Dona Leonor, … , cujos alunos quando chegavam à universidade competiam denodadamente com os provenientes do Colégio Militar e do Instituto de Odivelas.

Mas o que sucederá até ao concurso de 2013? Haverá uma guerra feroz entre os docentes nos índices 245, 299 e 340, com os avaliadores (coordenadores e relatores) de índice 245 a procurarem eliminar os docentes melhor posicionados do que eles, por isso discorda-se em absoluto da figura do júri de recurso interno que será completamente ineficaz.
Deveria ser substituído — se os sindicatos consentissem — por um júri de recurso externo escolhido no ensino politécnico público se o docente tivesse feito a sua formação no ensino politécnico e nas universidades publicas se o grau académico do docente fosse obtido no ensino universitário.

De notar que o Estatuto da Carreira do Pessoal Docente do Ensino Superior Politécnico consigna no Artigo 22.º d) que os júris de certos concursos “ … devem ser compostos maioritariamente por individualidades externas à instituição de ensino …”.
Analogamente
na carreira universitária o novo estatuto introduz a obrigatoriedade de concursos internacionais para professores, com júris maioritariamente externos à instituição.

Bem faria a senhora ministra Isabel Alçada em reflectir sobre os motivos que terão levado o Professor Mariano Gago a introduzir tal preceito …

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Anatomia de um sismo



Ocorreu hoje de madrugada um sismo com epicentro no oceano Atlântico, a 190 km a W-SW de Faro, com magnitude 5.5, pormenorizadamente descrito no sítio da USGS.

Pode ver neste vídeo os registos dos sismógrafos das estações meridionais do Instituto de Meteorologia.

Esta imagem mostra como viajaram pelo nosso planeta as ondas primárias do sismo (O leitor pode pensar nas ondas que se propagam à superfície da água quando deixa cair uma pedra num lago):


terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Plano inclinado VI - Ensino Particular VS Ensino Público


Nunca a pedagogia consegue que um professor ensine aquilo que não sabe.
Cristina Robalo Cordeiro (2007)





segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Espectador, no Circo

Um grito da alma lido no Público:

Espectador, no Circo. 14.12.2009 17:00
O palhaço...
O palhaço compra empresas de alta tecnologia em Puerto Rico por milhões, vende-as em Marrocos por uma caixa de robalos e fica com o troco. E diz que não fez nada. O palhaço compra acções não cotadas e num ano consegue que rendam 147,5 por cento. E acha bem. O palhaço escuta as conversas dos outros e diz que está a ser escutado. O palhaço é um mentiroso. O palhaço quer sempre maiorias. Absolutas. O palhaço é absoluto. O palhaço é quem nos faz abster. Ou votar em branco. Ou escrever no boletim de voto que não gostamos de palhaços. O palhaço coloca notícias nos jornais. O palhaço torna-nos descrentes. Um palhaço é igual a outro palhaço. E a outro. E são iguais entre si. O palhaço mete medo. Porque está em todo o lado. E ataca sempre que pode. E ataca sempre que o mandam. Sempre às escondidas. Seja a dar pontapés nas costas de agricultores de milho transgénico seja a desviar as atenções para os ruídos de fundo. Seja a instaurar processos. Seja a arquivar processos. Porque o palhaço é só ruído de fundo. Pagam-lhe para ser isso com fundos públicos. E ele vende-se por isso. Por qualquer preço. O palhaço é cobarde. É um cobarde impiedoso. É sempre desalmado quando espuma ofensas ou quando tapa a cara e ataca agricultores. Depois diz que não fez nada. Ou pede desculpa. O palhaço não tem vergonha. O palhaço está em comissões que tiram conclusões. Depois diz que não concluiu. E esconde-se atrás dos outros vociferando insultos. O palhaço porta-se como um labrego no Parlamento, como um boçal nos conselhos de administração e é grosseiro nas entrevistas. O palhaço está nas escolas a ensinar palhaçadas. E nos tribunais. Também. O palhaço não tem género. Por isso, para ele, o género não conta. Tem o género que o mandam ter. Ou que lhe convém. Por isso pode casar com qualquer género. E fingir que tem género. Ou que não o tem. O palhaço faz mal orçamentos. E depois rectifica-os. E diz que não dá dinheiro para desvarios. E depois dá. Porque o mandaram dar. E o palhaço cumpre. E o palhaço nacionaliza bancos e fica com o dinheiro dos depositantes. Mas deixa depositantes na rua. Sem dinheiro. A fazerem figura de palhaços pobres. O palhaço rouba. Dinheiro público. E quando se vê que roubou, quer que se diga que não roubou. Quer que se finja que não se viu nada. Depois diz que quem viu o insulta. Porque viu o que não devia ver. O palhaço é ruído de fundo que há-de acabar como todo o mal. Mas antes ainda vai viabilizar orçamentos e centros comerciais em cima de reservas da natureza, ocupar bancos e construir comboios que ninguém quer. Vai destruir estádios que construiu e que afinal ninguém queria. E vai fazer muito barulho com as suas pandeiretas digitais saracoteando-se em palhaçadas por comissões parlamentares, comarcas, ordens, jornais, gabinetes e presidências, conselhos e igrejas, escolas e asilos, roubando e violando porque acha que o pode fazer. Porque acha que é regimental e normal agredir violar e roubar. E com isto o palhaço tem vindo a crescer e a ocupar espaço e a perder cada vez mais vergonha. O palhaço é inimputável. Porque não lhe tem acontecido nada desde que conseguiu uma passagem administrativa ou aprendeu o inglês dos técnicos e se tornou político. Este é o país do palhaço. Nós é que estamos a mais. E continuaremos a mais enquanto o deixarmos cá estar. A escolha é simples. Ou nós, ou o palhaço.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Plano inclinado III - Política económica nacional





"Ou nós mudamos isto a bem, ou os financiadores externos vão-nos mudar a mal."
Medina Carreira


terça-feira, 17 de novembro de 2009

Plano inclinado II - O país não se apercebe da gravidade da situação em que se encontra






Eis o diagnóstico de Medina Carreira:

A nossa entrada na UE exigia uma serie de correcções na nossa vida política e social porque “ficámos abertos ao comércio internacional, penetrando aqui as mercadorias que compramos livremente e vendendo as nossas lá fora livremente. (…) O problema nasce há 20 anos”.
Houve êxitos pontuais de crescimento económico quando a conjuntura internacional foi favorável, “quando o petróleo cai para menos de metade em 1985-90 ou quando os juros caem verticalmente em 1995-2000”.
Mas “a nossa capacidade para nos integrarmos no comércio internacional (…) é em queda permanente.”

Tem este programa um objectivo pedagógico: permitir que os portugueses percebam que “não é uma questão de hoje, vem minando o país há 20 anos. Os partidos, nunca quiseram, ou nunca foram capazes de fazer, todos os que entraram no governo, sem distinção, aquilo que era necessário. E continuamos a não fazer. (…) O escudo permitia camuflar a nossa incapacidade competitiva. No dia em que perdemos a nossa moeda ficámos expostos às regras do comércio internacional. Portanto a nossa decadência acentuou-se.(…) Entre 1996 e Junho de 2009 o nosso produto cresceu 2 vezes, em moeda corrente, a nossa dívida externa cresceu 20 vezes. (…) Isto não tem solução porque não podemos impedir que entrem as coisas que compramos, que são quase todas, e não podemos vender se não formos capazes de competir com os outros que produzem as mesmas coisas.”

O que é que os portugueses podem fazer? Consciencializarem-se e exigirem aos partidos políticos, que podem ser PS e PSD, mas com outra gente, “ (…) capazes de perceber e concretizar as políticas que nos restituam competitividade”.


E agora ouçamos Nuno Crato:

(…) a estratégia de Lisboa, no tempo de Guterres, foi uma catástrofe. Íamo-nos transformar num país tecnologicamente avançado, a Europa ia ultrapassar os EUA. (…) Marketing (…) Era a economia do conhecimento."
Quem fez economia do conhecimento? "Foi quem não falou: foi a Índia e a China. Em vez de planos grandiosos (…) começaram a trabalhar para educar as pessoas, sobretudo do ponto de vista técnico. Criaram gerações e gerações muito bem preparadas. (…) Criaram escolas de excelência. A Índia faz programas de computadores que vendem nos EUA e fazem receitas com isso. Apostaram na técnica em vez de falar dela e da sociedade do conhecimento.”

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Expectativa III


Confiados, os dois maiores sindicatos de professores -- Fenprof e FNE -- mantêm sólidas as suas convicções.
Grande contenção da parte da senhora ministra Isabel Alçada. E grande contensão será precisa para surgirem resultados.





Os professores devem ser avaliados por mérito, como estipula o Estatuto da Carreira Docente, não podem ser avaliados por colegas que, embora pertencendo ao mesmo grupo de recrutamento, têm formação científica noutra área.

Deve ser estimulada a criação de ligações entre os agrupamentos de escolas/escolas secundárias e as universidades públicas.
E. g. os docentes podem ser incentivados a frequentar acções de formação nos centros de formação dessas universidades (o do IST tem fila de espera).
Ou a frequentar, em cada módulo de avaliação, no tempo reservado à componente não lectiva, disciplinas (uma, pelo menos) de um mestrado na área que leccionam (e não em Psicologia, Ciências da Educação, Sociologia ou em qualquer ramo de Ciências Sociais, a área com a maior taxa de licenciados desempregados), numa das universidades públicas.

E as suas aulas podem ser observadas e avaliadas por esses professores universitários, i.e. preconiza-se uma avaliação externa, não burocrática e feita por avaliadores que não competem com eles na carreira.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Plano inclinado I - O Portugal real - que não é necessariamente o Portugal de que se fala


Obrigatório ver todos os sábados!





Por absoluta concordância relevam-se as afirmações finais de Nuno Crato:


" A questão fundamental em relação à educação é centrar tudo na aprendizagem dos alunos. Não andar a discutir avaliação de professores, questões secundárias, (…) o Magalhães. Não dar o aspecto central à distribuição de computadores. (…)

Pensar o seguinte:
Porquê as nossas crianças não aprendem? Porquê Portugal está em termos de resultados do PISA, em termos de resultados do TIMSS, na cauda da Europa e está mal no Mundo inteiro e outros países estão bem?

Porque não damos atenção ao aspecto central da educação dos alunos. Para isso é preciso uma série de coisas. É preciso mudar programas, é preciso disciplina nas aulas, é preciso formação de professores, é preciso uma avaliação clara dos alunos. Nada disso existe bem feito.
(…) A questão central na educação: são os conteúdos do ensino.
"


Oxalá os nossos políticos, os professores e os encarregados de educação sejam capazes de ouvir e reflectir sobre estas sensatas palavras.

domingo, 8 de novembro de 2009

Uma pedrada no charco



Henrique Medina Carreira, 78 anos, com licenciaturas em Ciências Pedagógicas, em Direito e um largo percurso em Engenharia Mecânica e Economia, deu mais uma das suas polémicas entrevistas, desta vez ao semanário Expresso.
Com a devida vénia, transcreve-se a parte relativa à Educação:




Tem um espírito de missão no seu discurso?
Estudei muitos anos em Portugal. Fiz muitos cursos. Tenho perante a sociedade portuguesa o dever de tentar ajudar a pensar o país. Mas tenho medo dos missionários. Género Sócrates e companhia. Tentar abrir os olhos à população é uma tarefa que cabe a quem o Estado e a sociedade portuguesa permitiram estudar. E têm o dever de falar.

Fez três cursos. Gosta muito de estudar?
Este longo percurso foi acidentado, por razões que não eram obrigatórias. Comecei por tirar o Curso Complementar da Indústria, que eram cinco anos. Depois estive na Guiné um ano e tal a trabalhar. Quando vim, queria passar da Engenharia para as coisas sociais. Já olhava então para a sociedade portuguesa com muita preocupação. Queria ir para Economia, mas nessa altura não se transitava directamente. Havia um curso chamado Ciências Pedagógicas que permitia esse salto. Era uma espécie de Novas Oportunidades, mas em bom. Estive em Coimbra um ano como aluno voluntário. Depois pensava que transitava para o curso que quisesse, mas o Ministério da Educação disse que não. Obrigaram-me a fazer o liceu todo. Já estava casado, mas fiz o liceu em três anos. Trabalhei na indústria do aço, no Barreiro. Terminado esse percurso, entrei em Direito. Mas como a Economia era a minha velha ambição, ainda fui para Económicas.

Terminou o curso de Direito com 31 anos. Foi para Economia logo de seguida?
Não. Primeiro tive de ir ganhar a vida como advogado. Fiz o curso de Direito como empregado de escritório. Quando já tinha alguma tranquilidade, fui para Economia. Foram muitos anos, mas alguns deles foram impostos pelas circunstâncias.

Isso não o revoltou?
Revoltado estou agora com o que se passa. As nossas escolas são fábricas de analfabetos. No meu tempo, os alunos com a quarta classe davam menos erros do que alguns ministros agora. A escola, hoje, é mais uma das falsificações do regime. O ensino é uma farsa para apresentar estatísticas. As pessoas da classe média e alta têm capacidades para se defender. Põem os miúdos em explicadores, escolhem os colégios. Os filhos das classes baixas não sabem coisíssima nenhuma. Isto só promove a desigualdade e não incentiva a mobilidade social.

Disse um dia que gostaria de ser ministro da Educação durante dois anos. O que é que mudava?
O problema da Educação é simples. Primeiro tem de haver ordem nas escolas, programas feitos com gente com cabeça e não por semianalfabetos. Os professores têm de ser avaliados para se saber se sabem do que ensinam. Salazar liquidou duas gerações e a democracia está a liquidar quatro.

Acha que a Revolução de Abril, neste aspecto, fracassou?
Os analfabetos que dirigiram a Educação depois da revolução é que foram os culpados.

(...)

Como é que se podem estabilizar as despesas sociais? Decretando o fim da educação gratuita?
É por isso que devemos ter um ministro do Estado Social. É preciso haver uma meditação política. Para mim não se coloca a questão da gratuitidade da educação, deve haver é exigência e rigor. Mas temos de saber quais são os limites que podemos gastar.

É contra a escola inclusiva. Quer explicar?
A escola inclusiva é uma vigarice. Põem lá a tropa toda. Como todos somos diferentes, há uns que querem estudar e outros não. Há uns que são capazes e outros não. Quem não aprende não faz sentido lá estar.

Era preferível que Portugal tivesse a mesma percentagem de analfabetos que tinha durante o Estado Novo?
A falha do Salazar não foi na qualidade, foi na quantidade. Agora a falha é na qualidade. Deve tentar-se o máximo de quantidade preservando a qualidade. Gostaria de ser ministro da Educação para fazer vingar a ideia de que, sem exigência, não damos a volta à Educação. Não é mantê-los lá fechados a dar coices que se nivelam. Só se nivelam exigindo o máximo. Mas há um ponto em que há uma estratificação. Isto de todos serem iguais é uma trafulhice.

Em matéria de disciplina na escola, o que é que faria?
Nem que tivesse de pôr um polícia em cada sala de aulas, teria de haver respeito pelos professores. Os que não querem fazer nada que saiam.