quinta-feira, 19 de agosto de 2010

As opções dependem da mentalidade dos povos





Durante o período de actividades lectivas, tenho de ir todos os dias à biblioteca da escola e aproveito para ver o que estão a fazer os alunos que aí se encontram.
Quando não há lá nenhuma aula, estão tantos alunos quantos os computadores disponíveis. E a fazer o quê? A jogar. Podem ser simuladores de desportos radicais, combates de naves espaciais, combates de artes marciais ou de guerreiros, ... Mas estão a jogar! Inquiri a funcionária: garantiu-me que é assim todo o dia.
Agora com os Magalhães os miúdos começam a viciar-se no jogo a partir do 1º ano.

Não é a primeira vez na nossa história que nos defrontamos com este fenómeno social. Recordemos que Stanley Ho estudou no Queen's College, Hong Kong e atingiu apenas a Class D porque tinha resultados académicos não satisfatórios. Depois imigrou para Macau onde criou uma rede de casinos, sendo dono de um dos maiores casinos asiáticos, o Hotel e Casino Lisboa de Macau. Alguns políticos portugueses já viram na apetência lusa para o jogo um meio de obter divisas para o país (Santana Lopes pretendia construir um casino no Parque Mayer, a expensas daquela jóia que é o Jardim Botânico da Universidade de Lisboa).

Fui dos que ficaram horrorizados com tal opção. Preferia ver os portugueses a trabalharem no desenvolvimento de produtos (bens alimentares, máquinas, medicamentos, …) que melhorassem a vida das pessoas, não nesta espécie de droga. Mas ei-la que regressa, agora a um nível mais sofisticado: jovens com competências informáticas capazes de produzirem serviços que podem ser comercializados em todo o mundo e puxar pela economia, como a empresa Seed Studios que cria jogos para a consola PlayStation 3, da Sony, com fundos do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) 2007-2013.

Há quem procure curar doenças, há quem crie paliativos para os que estão a morrer… As opções dependem da mentalidade dos povos.





Under Siege, o videojogo da Seed Studios para a PlayStation 3 da Sony.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A noite das Perseidas


Desde há dois mil anos, pelo menos, que as Perseidas suscitam a curiosidade humana.
Todos os anos, em Agosto, a Terra passa através de uma nuvem de detritos perdidos pelo cometa Swift-Tuttle cuja órbita em torno do Sol tem o período de 133 anos.
Esses pedaços de gelo e poeira – a maioria com mais de 1000 anos – inflamam-se na atmosfera da Terra criando uma das melhores chuvas anuais de meteoros. As Perseidas podem ser vistas em quase todo o céu, embora as melhores oportunidades de visualização ocorram no hemisfério norte, e são assim chamadas porque os meteoros parecem irradiar a partir de um ponto na constelação de Perseus.





Na noite de 03 de Agosto, pelas 21:56, um meteoro das Perseidas ─ com cerca de 2,5 cm de diâmetro e deslocando-se a uma velocidade de 216 km/h ─ entrou na atmosfera 113 km acima da cidade de Paint Rock, Alabama. A essa enorme velocidade, o meteoro descreveu uma trajectória com cerca de 105 km de comprimento, incendiando-se, finalmente, 90 km acima de Macay Lake, a nordeste da cidade de Warrior. O meteoro era seis vezes mais brilhante que o planeta Vénus e seria classificado como bola de fogo pelos cientistas.
O radiante das Perseidas estava numa declinação baixa quando o meteoro apareceu ─ apenas 9,5º. Portanto, este meteoro poderia ser considerado um ”raspador terrestre" por causa da sua trajectória longa e de pequeno declive, com um ângulo de entrada na atmosfera de apenas 12º.
Foi considerado um início auspicioso para a chuva das Perseidas de 2010 que atingirá o máximo esta noite de 12 para 13 de Agosto, entre a meia-noite e a madrugada (tempo local).


Vista das Perseidas na noite de 11 de Agosto de 2010, obtida por composição de 39 eventos sobre a estação Chickamauga, da NASA, na Geórgia.



O astrónomo Bill Cooke, do Marshall Space Flight Center, da NASA, responde às questões mais frequentes:


Onde se pode ver as Perseidas?
O fenómeno será visível nos Estados Unidos, na Europa e na maior parte do planeta, excepto na zona do mapa sombreada a vermelho. Claro que é preciso estar longe das luzes da cidade e que o céu esteja limpo.
Quando se pode ver?
A partir das 10 horas, hora local, e até às 3:00 ou 4 00 da madrugada. O número de meteoros vai aumentar durante a noite, atingindo o valor de 80-100 por hora. Os nossos olhos necessitam de 45 minutos para se adaptarem à escuridão.
Como se pode ver?
Deitado de costas sobre um saco de dormir ou uma cadeira de praia e olhando para cima, abrangendo uma área do céu tão extensa quanto possível. Não convém olhar para a constelação de Perseus, onde está localizado o radiante da chuva de meteoros, senão ver-se-ão poucos meteoros. Isso acontece porque a trajectória é tanto mais longa quanto mais longe do radiante o meteoro aparecer. Portanto para ver meteoros brilhantes, é preciso olhar a certa distância de Perseus e, para os observadores no hemisfério norte, para o nordeste. Olhar para cima, para o Zénite, é uma boa escolha e permite abranger uma grande área de céu.
Não usar binóculos ou um telescópio, porque reduzem o campo de visão.


Live TV by Ustream
Um feed vídeo/áudio, ao vivo, das Perseidas. A câmara encontra-se no Marshall Space Flight Center, da NASA, em Huntsville, Alabama, e é activada pela luz: durante o dia está desligada e só acende ao entardecer. Mas continua a ouvir-se o áudio dos blips, pings e assobios de meteoros que passam no céu.

domingo, 8 de agosto de 2010

Longa é a noite dos que esperam a morte


Noite é o testemunho de um historiador e professor universitário inglês a quem foi diagnosticado esclerose lateral amiotrófica, em Março de 2008.
Como se trata da doença que afecta o físico teórico Stephen Hawking, surgiu a curiosidade de ler o seu depoimento:


"Sofro de uma neuropatia motora, no meu caso uma variante de esclerose lateral amiotrófica (ELA): a doença de Lou Gehrig. As neuropatias motoras estão longe de ser raras: a doença de Parkinson, a esclerose múltipla e uma variedade de doenças menores incluem-se todas nessa categoria. O que distingue a ELA — a menos comum nesta família de doenças neuromusculares — é, primeiro, o facto de não haver perda de sensações (o que tem vantagens e inconvenientes) e, segundo, não haver dor. Ao contrário do que sucede em quase todas as outras doenças graves ou mortais, o doente permanece, deste modo, capaz de observar livremente e com um desconforto mínimo o desastroso progresso da sua própria deterioração.

No nível de declínio em que me encontro, estou, assim, efectivamente tetraplégico. Com um esforço extraordinário, consigo mover um pouco a mão direita e consigo levar o braço esquerdo cerca de 15 centímetros pela frente do peito. As minhas pernas, embora permaneçam firmes, se eu estiver em pé, o tempo suficiente para permitir que um enfermeiro me transfira de uma cadeira para outra, não aguentam o meu peso e apenas uma delas ainda mantém algum movimento autónomo.

Deste modo, quando as minhas pernas ou os meus braços estão colocados numa determinada posição, permanecem assim até que alguém os mova por mim. O mesmo acontece com o meu tronco, tendo como resultado dores nas costas, devido à inércia e à pressão, que causam uma inflamação crónica. Como não disponho do uso dos braços, não posso coçar uma comichão, ajustar os óculos, retirar alguma partícula de comida que fique nos dentes ou qualquer outra das coisas que — como podem confirmar se pensarem por um momento — todos fazemos dezenas de vezes ao dia. O mínimo que posso dizer é que estou total e completamente dependente da bondade de estranhos (e de qualquer outra pessoa).

Durante o dia, posso, pelo menos, pedir que me cocem, que ajeitem alguma coisa, que me dêem de beber ou que me mudem simplesmente a posição dos membros dado que a imobilidade forçada durante horas sem fim não só é fisicamente desconfortável, como psicologicamente fica à beira do intolerável. Não é como se perdêssemos o desejo de nos esticarmos, de nos inclinarmos, de nos levantarmos ou deitarmos ou de correr ou mesmo fazer exercício. Mas, quando nos invade uma forte vontade de o fazer, não há nada — nada — que possamos fazer, excepto procurar algum ténue substituto ou, então, encontrar um meio de suprimir esse pensamento e a memória muscular que o acompanha.

Mas, então, chega a noite.
"


O que relata parece a sinopse de um filme de terror. Mas, admiravelmente, consegue descobrir uma saída:


"A minha solução tem sido repassar a minha vida, os meus pensamentos, fantasias, memórias, lapsos de memória e coisas do género, até me deparar com acontecimentos, pessoas ou narrativas que possa utilizar para distrair o meu pensamento do corpo em que está encerrado. Estes exercícios mentais têm de ser suficientemente interessantes para prender a minha atenção e me fazerem aguentar uma comichão exasperante dentro do ouvido ou no fundo das costas; mas também têm de ser suficientemente aborrecidos e previsíveis para servir de prelúdio eficaz e de ajuda para dormir.

Levou-me algum tempo a identificar este processo como alternativa exequível para a insónia e o desconforto físico, e não é de modo nenhum infalível. Mas fico, por vezes, admirado, quando reflicto sobre o assunto, ao ver como pareço pronto a ultrapassar, noite após noite, semana após semana, mês após mês, o que antes era uma provação diária quase insuportável. Acordo exactamente na mesma posição, estado de espírito e sensação de desespero suspenso de quando fui para a cama - o que nas presentes circunstâncias deve ser tido como um feito considerável.
"

Tony Judt, excerto de Noite.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Humor negro


1º lugar ex æquo:

João de Lima. 31.07.2010 14:10
Via Facebook
Viva Isabel
Isabel Alçada é um génio! A solução estava ao virar da esquina. Os alunos não sabem mas, por decreto, não haverá reprovações.
A Ministra da Saúde ouvindo isto, não ficará atrás e decreta: as pessoas estão doentes mas ninguém morre. Os hospitais ficarão vazios e o País poupará uma fortuna.
O Ministro dos Assuntos Sociais não se intimida e, de sopetão, legisla: o cidadão não tem dinheiro, está empenhado até aos ossos, está desempregado mas, por decreto, ninguém é pobre. Fechar-se-ão os IEFP, a taxa de desemprego ficará em 0% e, tudo isto, sem gastar um cêntimo.
Grã-cruz da Ordem do Infante para Isabel Alçada, já! Uma nação reconhecida, homenageia um génio que, por um simples decreto, nos retirou da miséria atávica e nos devolveu a prosperidade.


João de Lima. 01.08.2010 20:14
Via Facebook
Fantástico! Tia Isabel!
A Tia Isabel é fantástica! Mesmo no Algarve, imagine, teve uma ideia fantástica! Deixa de haver chumbos, quer a gente estude quer não! Não acha o máximo? Quem quiser (não vejo de todo o interesse) estuda, quem não quiser, não estuda. No fim, estudando ou não, vamos para a empresa do Pai e assim sempre podemos ter festas sem esta estopada dos exames. Estou siderado! Não é?

João de Lima. 01.08.2010 20:20
Via Facebook
Bueda fixe
Bueda fixe, mano! A cota agora não deixa ninguém chumbar. Baril. Temos que aproveitar esta onda. Para mim na boa, não fazemos puto, andamos por lá, umas ganzas. Não stressem manos. Escola é fixe. Viva a cota!

domingo, 1 de agosto de 2010

A senhora Ministra da Educação está reprovada




Aos comentários arquivados nos artigos "O fim das retenções I" e "O fim das retenções II" gostaria de acrescentar o seguinte:

As crianças e os adolescentes manifestam uma enorme diversidade de características vocacionais e de aptidões que exigem respostas educativas diferenciadas em duas vias de ensino.

Os alunos que reprovam por não terem capacidades para seguir um currículo exigente ou pura e simplesmente por não quererem estudar, nem eles nem a sociedade retira qualquer benefício de repetirem o ano. Devem, antes, enveredar por um ensino profissionalizante, sem reprovações, que os prepare para serem técnicos intermédios, ressalvando sempre o princípio da reversibilidade a um ensino mais rigoroso se mostrarem em exames nacionais que, entretanto, adquiriram conhecimentos e competências. Não há nisto qualquer hipocrisia.
Mas os outros, os que tiveram um problema grave de saúde, foram afectados por questões familiares ou simplesmente preguiçaram durante parte do ano lectivo, e não conseguiram recuperar, será preferível que sejam retidos e repitam o mesmo currículo.
É uma variante do que se propôs há algum tempo porque se chegou à conclusão que uma modificação do rumo logo à primeira reprovação pode ser contraproducente. Vimos mudanças de comportamentos profundas em crianças e adolescentes só porque os docentes e os pais se tornaram um pouco mais exigentes nestes dois últimos anos lectivos. Há, pois, que responsabilizá-los e conceder-lhes o benefício da dúvida antes de os desviar para o ensino profissionalizante que é uma mudança radical de direcção.

No entanto, não tenhamos dúvidas de que vai haver manipulação do sucesso. Aliás isso já acontece: em Português e Matemática-A a diferença entre a média das classificações de frequência (atribuídas pelos professores nas reuniões de avaliação finais) e a registada nos exames foi igual ou superior a três pontos.
E a situação tende a agravar-se porque muitos directores, demasiados mesmo, vão, através dos coordenadores de departamento por eles nomeados, obrigar os docentes a dar elevadas classificações de frequência.
De que modo exercem os coordenadores a sua influência? Através do modelo de avaliação do desempenho: são os avaliadores, ou nomeiam os avaliadores de todos os professores. Com uma avaliação interna, não serão os professores incompetentes os eliminados, mas os raríssimos docentes que não alinharem na subserviência.

Uma chamada de atenção especial para o 2º diálogo de "O fim das retenções I" pois permite-nos recordar algo que está esquecido: o facilitismo, com a concomitante indisciplina, é um cancro em progressão desde o processo revolucionário de 1974 que encerrou as escolas e instituiu as passagens administrativas por dois anos lectivos, sendo responsável pelo afastamento de docentes, nomeadamente, do professor Rómulo de Carvalho.
Todos os sucessivos governos deixaram agravar a doença, não foram apenas os socialistas.
As pessoas só agora se aperceberam que o ensino está gravemente doente porque se acabaram os subsídios da UE, a economia entrou numa crise gravíssima e o país tem escassez de técnicos e políticos qualificados.
E se atacamos mais a política educativa dos últimos governos é porque com José Sócrates os "pedagogos" do "eduquês" conseguiram trepar até ao último piso do edifício da avenida 5 de Outubro. Aliás ele próprio já é uma metástase.

Melhoraram-se as estatísticas, não se tentou curar o cancro do facilitismo e da indisciplina. Pelo contrário, activou-se o agravamento da doença com os modelos de gestão e de avaliação (interna) dos professores e a politização das escolas. O país já está a pagar pelo erro e, com quadros incompetentes e semi-analfabetos, mais pagará no futuro.
Com esta proposta inoportuna, a senhora Ministra da Educação vem mostrar, mais uma vez, que não conhece nem a especificidade do professorado, nem a mentalidade da população estudantil e dos seus progenitores, logo está reprovada.

O fim das retenções II - a reacção dos partidos políticos


A Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE) mostrou-se preocupada com a intenção de acabar com as retenções dos alunos, embora neste momento o que inquieta grande parte dos encarregados de educação é estarem "sem saber em que escola os seus filhos vão estudar em Setembro".
Arquivámos mais alguns comentários instrutivos:


Coisadas, Lisboa, Portugal. 31.07.2010 13:24
Força nisso
Na minha empresa, de dimensão média, não trabalha um único licenciado, porque logo nos primeiros 15 minutos de entrevista espalham-se ao comprido na capacidade de expressão oral. Até hoje tive tanto azar ou tanta sorte, que ainda não encontrei nenhuma excepção.
Em compensação tenho excelentes técnicos informáticos sem grau universitário, que escrevem relatórios com qualidade e sem erros, e conseguem (admiração) ter uma conversa com princípio, meio e fim. Mas é tudo pessoal com mais de 40 anos, vá-se lá saber porquê... Se calhar muitos não entraram na faculdade porque antigamente chumbava-se, mas o que se aprendia, aprendia-se bem. Claro que o desemprego entre licenciados só pode mesmo é aumentar, e tem de se agradecer a ministras como esta esse facto.


F.C, Montemor-o-Novo. 31.07.2010 13:38
Exigência, exigência, exigência
Exigência, exigência, exigência e não facilitismo! Exames a todas as disciplinas no final de cada ciclo!
A retenção/reprovação beneficia alguns alunos, outros não! O aluno, quando retido, deve ter um plano próprio que contemple materiais de trabalho adaptados às suas dificuldades, ser integrado em turmas reduzidas e ser avaliado continuamente pelos professores/director de turma/encarregado de educação, ou seja deve beneficiar de um maior acompanhamento e, naturalmente, trabalhar mais.
Importar modelos do Norte da Europa, onde há uma cultura de trabalho enraizada na sociedade e onde, à noite, há o hábito de ler em família, é uma espécie de pedagogia do adesivo. Exija-se disciplina nas escolas! Exija-se trabalho aos alunos e envolvimento aos encarregados de educação! Exija-se, exija-se, exija-se! Facilitismo, não! Nunca vi alguém vencer na vida (com honestidade) sem esforço, sem sacrifício, sem trabalho!


Anónimo, Lisboa. 31.07.2010 16:50
Mais uma vitória do "eduquês"
As "alegadas" ciências da educação, introduzidas no país há vinte e poucos anos por uma série de "artistas" ambiciosos que não tinham capacidade para fazerem doutoramentos em universidades portuguesas, vieram destruir lentamente o ensino de rigor em Portugal. O sistema de ensino, dominado completamente por estes artistas e já pelos seus discípulos que se encontram no poder, não terá saída e irá agravar-se ainda durante vários anos até que novas gerações despertem para a realidade.


A Fenprof e os partidos políticos também estão a opor-se ao fim das retenções.
O CDS liderado por Paulo Portas pensa que "Portugal precisa de valorizar a exigência e a cultura de mérito na escola é essencial para vencer num mercado de trabalho competitivo".
Afirma o PCP que "aumenta-se o número de certificações, mas diminui-se simultaneamente a qualificação dos alunos".
Para o PSD, a medida "prejudica os alunos em especial num contexto de crise muito séria que Portugal atravessa e em que os alunos têm de ter mais do que nunca competências". E acrescenta que o anúncio não surpreende pois segue "o padrão deste Governo" em que "os ministros mudam, mas mantém-se o sinal de facilitismo".
Nesta notícia, entre mais de uma centena de comentários, recolheram-se os seguintes:


Gomes Ferreira, Queluz, Portugal. 31.07.2010 15:32
O ensino está transformado num charco
O ensino em Portugal está transformado num charco de facilitismo. Será que essa situação interessa apenas ao ministério, ou interessa também a muitos professores que não passam de medíocres sem outras saídas profissionais? Não serão todos, mas pelos resultados que se vêm serão a maioria deles.
Será que querem disfarçar a sua proverbial incapacidade para o ensino com a passagem de ano para todos os alunos, indistintamente de terem ou não aprendido as matérias leccionadas? Ao aceitar uma medida destas que interesses se estarão a servir? O dos alunos não será certamente. Existe qualquer coisa muito estranha nisto tudo, porque essa gente está convencida de estar a agir bem ao apoiar as teorias de esgoto do "eduquês". Lavaram-lhes o cérebro ou será que já não o tinham quando foram para o ensino?


Vera, Lisboa, Portugal. 31.07.2010 17:22
Estado criminoso
O Estado Português está refém de políticas de inspiração comunista, das quais o "eduquês" é apenas uma manifestação com influência visível. Existe um plano bem elaborado no sentido de se destruir toda a cultura de mérito e de esforço a partir da mais tenra infância, a fim de serem subvertidos todos os valores tradicionais acarinhados antigamente pelo nosso povo.
Esta nova instituição do "eduquês" sacrifica a educação das nossas crianças com o objectivo de criar um rebanho igualitário e sem ambições, mas tudo a coberto de boas intenções, com os chavões da igualdade e da justiça social à cabeça da propaganda. É um verdadeiro movimento de neo-comunismo que se anda a compor em certos sectores da sociedade portuguesa.
É a revolta dos medíocres que conseguiram chegar ao poder. Está mais do que visto que têm conseguido levar a ideia deles avante e que os culpados somos nós todos, pais, educadores, que nos calámos e compactuámos com a destruição do sistema de ensino e sua substituição pela cultura da mediocracia. É a chamada vingança dos comunistas. Vejam o currículo da ministra e de outros do género e ficará tudo bem claro.


V, Lisboa, Portugal. 31.07.2010 20:11
É para esconder a realidade
Para esconder que conseguiram construir finalmente uma sociedade nivelada por baixo, onde toda a gente vê lixo em 500 canais de televisão, onde toda a gente faz "post" de fotos da sua vida privada para o Facebook, onde arranjar emprego para a vida se tornou impossível, onde se chama errado ao que é certo, e certo ao que é errado.
É para esconder o facto de que nessa sociedade não interessa que as pessoas pensem e sintam e se esforcem, e sofram com os seus próprios falhanços, que seria a coisa mais natural do mundo. É premiar a ausência de valor, de escrúpulos, de vergonha, até! É hipotecar o futuro de jovens licenciados que não estão dotados de instrumentos mínimos para aumentar as suas capacidades cognitivas para fazer face a um mundo em mudança acelerada.
É o desagregar da velha herança greco-romana que assentava em valores sólidos, para os substituir pelo "fast-food" intelectual. É crime contra os jovens portugueses e as suas famílias.


Vasco, Lisboa, Portugal. 31.07.2010 22:37
Existem duas formas de ver o mundo
Duas formas de estar na vida: A primeira é a do deixa andar, do facilitismo, do atirar as responsabilidades para cima dos ombros dos outros. A segunda é a do esforço, do desempenho, da aposta nas nossas capacidades, do aceitar o julgamento dos outros quando fracassamos seja no que for e depois tentar melhorar e evitar repetir os erros.
Essas suas formas de estar na vida normalmente acabam por se reflectir nas opções políticas. Ou se é tendencialmente de direita ou se é tendencialmente de esquerda. Para bom entendedor meia palavra basta e estas decisões da ministra não são por isso surpreendentes pois a esquerda sempre andou de braço dado com o facilitismo. Só que em vez de ajudar os mais fracos, acaba por os prejudicar!


politico, Alentejo. 31.07.2010 23:05
Acabar com as reprovações não é facilitismo
As vítimas do sistema actual são as crianças que por motivos vários não têm acesso aos mesmos recursos que outras têm. Quando falo em recursos refiro-me a equipamentos escolares, a apoios familiares, a ambientes sociais. Essas crianças são as candidatas à reprovação. O papel da escola nestes casos é, principalmente, o apoio pedagógico, apoio alimentar, e até apoio às famílias. Se esse apoio for bem orientado e bem gerido a reprovação é, de facto, combatida.
Nos últimos anos tem havido, por parte do Ministério da Educação algumas medidas de melhoria do apoio a crianças com ambientes sócio/familiares problemáticos, mas devemos fazer mais e melhor. É desta forma que se combate a reprovação endémica, que tanto penaliza as crianças desprotegidas, como acaba por prejudicar toda a sociedade. Quando se diz que se quer acabar com as reprovações é disto que estamos a falar. Acabar com as reprovações não é facilitismo, como diz o PSD, pelo contrário é rigor e trabalho de recuperação e apoio intensivo a essas crianças vítimas dos ambientes adversos em que vivem.

VRF, Lisboa, Portugal. 31.07.2010
RE: Acabar com as reprovações não é facilitismo
Você está a confundir duas coisas muito diferentes. Uma coisa é o apoio social aos mais desfavorecidos, que penso que qualquer pessoa bem formada apoiará. Outra coisa é afirmar que passando os cábulas está a contribuir para diminuir o problema dos mais desfavorecidos, coisa que não faz sentido nenhum.
Um aluno por mais desfavorecido que seja tem sempre de ser responsabilizado pelos seus actos. Se não estuda, tem de interiorizar que não passa de ano e deverá assumir isso como uma vergonha.
Bem, negar isso é negar todos os fundamentos que permitem o funcionamento de uma sociedade civilizada e a partir daí africanizar completamente o ensino em Portugal.
Você fala com os actuais alunos do 12º ano? Olhe que até envergonha! Imagine quando tudo passar! Será o bom e o bonito: todos protegidos socialmente mas socialmente incapazes. É esse o futuro que quer para o seu país? Tem filhos? Olhe que eu sempre ouvi dizer que por detrás da cruz se esconde o diabo, ou seja, que de boas intenções está o inferno cheio. Não vê para onde caminhamos?

politico, Alentejo. 31.07.2010
RE: RE: Acabar com as reprovações não é facilitismo
Nações mais desenvolvidas do que a nossa praticamente baniram as reprovações do ensino básico. Isso não significa facilitismo nem recuo civilizacional, pelo contrário, significa trabalho e empenho por parte das instituições e um efectivo apoio às famílias desses alunos. Nalguns casos esses apoios prolongam-se pelas férias, dando a esses alunos possibilidades para recuperar. Pensa que os povos nórdicos, e não só, vão ceder ao facilitismo? Pelo contrário, acabar com os chumbos significa trabalho acrescido.
VRF, Lisboa, Portugal. 31.07.2010
RE: RE: Acabar com as reprovações não é facilitismo
Ó meu Deus, mas nesse caso é dar o apoio que for preciso! Devia até ser obrigatório! Mas não os passem de ano, percebe? Acaba-se com a hipótese de reter um mau aluno e permite-se que ele conclua o ensino obrigatório sem ter aprendido o mínimo exigível.
Não podemos comparar-nos com a Finlândia nem com países do norte da Europa, com uma cultura de exigência fortemente enraizada. Acha que vivemos num país onde lhe dizem para ir levantar o cartão X às 14:47 e você é mesmo atendido às 14:47?
Apoiem mas não passem sem que ele seja aprovado em exame. Não existe nenhuma métrica de avaliação de alunos que justifique a passagem de ano dos calaceiros. Isso é rebentar com todo o objectivo do sistema de ensino. Afinal como se separam os bons dos maus? Acha que não existem bons e maus? O prémio deve ser o mesmo para todos
?

Miguel Dias, Coimbra. 31.07.2010 23:09
Lata ou chumbo?
Efectivamente a minha experiência de professor diz-me que para a esmagadora maioria dos alunos o "chumbo" não se traduz em melhorias de aprendizagem nos anos seguintes. É uma constatação que parece chocar o senso comum das pessoas, mas a realidade é mesmo esta (é óbvio que há excepções). Os piores alunos que tenho ano após ano são sistematicamente os alunos repetentes...
No entanto, instituir uma espécie de sistema em que os alunos sabem antecipadamente que não reprovam seria completamente contraproducente ─ é a mensagem errada para os alunos e nova desautorização dos professores.
Quanto às alternativas da ministra ─ aulas de apoio, estudo acompanhado ─ não foi este o governo que retirou a milhares de alunos o estatuto de alunos com necessidades educativas especiais e logo todos os apoios que usufruíam? É preciso ter lata... (ou será chumbo?)


Anónimo, Portugal. 01.08.2010 03:28
Chumbos
O sistema onde não há chumbos é mais injusto que o nosso antigo, onde os alunos reprovavam e eram obrigados a repetir o ano.
Nesses países, quando um aluno não atinge os objectivos mínimos, para poder progredir para o nível seguinte, não é retido, mas muda de direcção. Isto é, é convidado a seguir um curso para burros. E se nesse curso voltar a não ter aproveitamento, segue para um curso para alunos ainda mais burros. E assim por diante. Nunca chumbou mas ficou com o destino traçado.
Onde está a injustiça do sistema? No facto de ser irreversível. Um aluno pode ter um ano mau com problemas de saúde, pode não ter a maturidade de acordo com a idade, pode ter um ano em que simplesmente não lhe apeteceu estudar. E o sistema não permite voltar atrás. Depois de se entrar no carril dos burros, é-se burro até ao fim.
Veja-se o que acontece com os portugueses na Suíça. Com o sistema das reprovações qualquer um pode recuperar. Desde que queira, e desde que trabalhe a sério. Um ou dois anos em oitenta é muito pouco.
No nosso sistema actual toda a gente passa sem saber nada. A maioria dos alunos a partir do quarto ano já não tem recuperação possível e lá segue alegremente até ao 12º ano.


sábado, 31 de julho de 2010

O fim das retenções I


Afirma a senhora Ministra da Educação, em entrevista ao semanário Expresso, que "[o método da retenção] não tem contribuído para a qualidade do sistema. (…) A alternativa é ter outras formas de apoio, que devem ser potenciadas para ajudar os que têm um ritmo diferenciado." E acrescenta que tenciona alterar as regras de avaliação durante o seu mandato, apesar de pretender um consenso e um debate alargado na comunidade educativa.

No fim da notícia refere-se que as estimativas apontam para um gasto de 600 milhões de euros por ano com as retenções no ensino em Portugal. Para bom entendedor meia palavra basta: a medida tem um objectivo de eficiência económica.

Ora vamos lá começar o debate:


Luís, Portugal. 31.07.2010 16:16
Acabaram as reprovações. Acho bem, mas...
Eu acho bem que toda a gente deve passar de ano e assim acabar com as reprovações. No final de cada ciclo seria entregue ao aluno um diploma com a média do curso. Teríamos assim alunos que acabavam, por exemplo, o 12º ano com média de 6, outros com média de 8, outros com média de 15, outros com média de 17, etc. Depois, no mercado de trabalho, seria feita a pergunta obrigatória. "Qual é a média do curso?" As conclusões para o empregador seriam óbvias! Não é isto que querem? Analfabetos de diploma na mão, mas a média não engana!
Rocha, Coimbra. 31.07.2010
RE: Acabaram as reprovações. Acho bem, mas...
Meu caro, não seja ingénuo, o passo seguinte é manipular a qualidade do sucesso.
Sousa da Ponte, UK. 01.08.2010
RE: RE: Acabaram as reprovações. Acho bem, mas...
Ingénuo é o Rocha, Coimbra. O que Luís, Portugal descreve é aproximadamente o que acontece com países onde não há chumbo (ex. UK). Os alunos não chumbam mas os conteúdos ensinados variam em função do sucesso do aluno, com turmas diferenciadas em função do nível dos alunos. (pode chamar-lhe segregação social na escola). No fim da escolaridade obrigatória os níveis vão de A*, A, B ou C (os melhores) até G, H ou I (não me lembro bem). Para os piores casos de insucesso há o N (quer dizer que os valores são tão baixos que não foi atribuída nota). Os alunos podem não chumbar, mas essas marcas marcam-nos para toda a vida. Comparado com os chumbos portugueses esse sistema sem chumbos é mais cínico e hipócrita.

Anónimo, porto. 31.07.2010 16:21
O País das idiotices
Será que de repente este País passou a ser o país dos idiotas? Será que o bom senso desapareceu? Fazer isto é muito bom para quem não gosta de trabalhar, quer sejam alunos ou professores. Se a associação de pais está de acordo é tão inconsciente como quem se lembrou de uma burrice destas. Qualquer dia nem vale a pena ir à escola, os alunos matriculam-se e sabem que podem dormir descansados pois no fim do ano aparecerá na pauta aprovado.
Anónimo, Portugal. 31.07.2010
RE: O País das idiotices
Há muitos anos que não se chumba em Portugal. E não é só do primeiro para o segundo ano. A generalidade das pessoas não sabe ao que chegou o ensino em Portugal. Sabia que em 1993 entraram, no Instituto Superior Técnico de Lisboa, 35 alunos com 0 (zero) a Matemática? E que foi o ministro Marçal Grilo, no 1º governo do eng. Guterres, que impôs o 10 como nota mínima para entrar na Universidade? Antes entrava-se no Técnico com 6. E nas ESE's ainda com menos. Como vê o problema é velho.

Luís Câmara Leme, Corroios. 31.07.2010 16:40
O eterno problema
Só posso estar de acordo com esta medida, desde que a Escola passe a dar igual tratamento a todos os alunos. Por outras palavras, o apoio deve ser dado aos alunos que mais precisam de acompanhamento diário, mas não podem esquecer os alunos que demonstram mais capacidades, de forma a potenciar-lhes essas mesmas potencialidades. Só assim haverá uma melhoria acentuada na qualidade do ensino em Portugal. A Ministra já fala em alterar a avaliação. Temo que se caminhe, invariavelmente, para o facilitismo. Seria mais uma machadada no futuro de Portugal e dos portugueses.
Francisco, Coimbra. 31.07.2010
RE: O eterno problema
Neste momento, no ensino básico, só chumba quem não faz absolutamente nada. Esta medida parte do principio de que os alunos que chumbam são esforçados e que chumbam por falta de capacidade/ajuda. Porém esta premissa é completamente errada, 99% dos alunos que chumbam não sabem o que significa estudar, estar com atenção nas aulas, etc. Caro Luís, acha que se tivermos que apoiar ainda mais alunos que não fazem rigorosamente nada e que ainda por cima prejudicam gravemente as aulas, teremos tempo para nos preocuparmos com os bons alunos? 60% do tempo lectivo dos professores é desperdiçado com alunos que não querem saber nada de nada.

Francisco Silva, Beja. 31.07.2010 18:44
Uma Aventura na Educação: Episódio 10 'Finlândia'
É verdade que os alunos que reprovam perdem a auto-estima e, em regra, as suas prestações escolares em anos posteriores voltam a decair bastante. Também é verdade que alunos que transitam de ano mal preparados acabam por fracassar pouco tempo depois e com estrondo. O problema existe.
No entanto, a solução não pode ser o facilitismo e a motivação para a sua resolução não deve ser nunca a boa prestação estatística. A senhora ministra devia sabê-lo.
Por outro lado, não nos faz adivinhar nada de bom o facto de o Ministério da Educação ter abandonado o PISA, o facto de haver uma confederação de pais que fala sempre com a voz do governo e que é sempre da cor de quem governa e que ninguém sabe como é que é eleita, o facto de haver na 24 de Julho e na 5 de Outubro toda uma 'entourage' de pedagogos (o nosso país em termos de nº de pedagogos é cá uma potência...) que ninguém responsabiliza, o facto de os partidos políticos falarem da Educação de uma forma superficial e populista.
Enfim! A Educação deveria ser um dos pilares da nossa Democracia, os democratas do pós-25/A transformaram a Educação numa aventura: Uma Aventura na Educação.

Anónimo, Portugal. 31.07.2010
RE: Uma Aventura na Educação: Episódio 10 'Finlândia’
O Sr. Silva já reparou no currículo da Sra. ministra? Desde o 25 de Abril trabalhou ou no ministério da educação ou numa escola superior de educação. O que é que se pode esperar de um ministro com esta preparação?

joão pereira, Lisboa. 31.07.2010 23:29
Política
Claro que para os pais esta é uma óptima medida. Afinal agora já não era preciso encerrar a Independente, era uma «Universidade» com todas as condições para formar «doutores» sem estudar e sem chumbos. Estes políticos do pós-25 de Abril de 74 estragaram o ensino, estragaram a classe média. Esta é a democracia do safe-se quem poder. Atenção que com esta afirmação não quero dizer que no antes do 25 de Abril era bom, pelo contrário, era uma ditadura cheia de bandidos da PIDE, eu sei o que digo, ao contrário de muitos democratas de aviário, pois fui lixado por esse banditismo, mas o ensino era bom. Hoje o ensino é o que se vê. Todos passam ninguém chumba? Óptimo, começou o circo, ou melhor dizendo, o circo continua.

Kinhomeister. 31.07.2010 22:30
Via Twitter
Não é assim
Acabar pura e simplesmente com os chumbos não é, de todo, uma solução. A solução passa por reestruturar o sistema educativo.
Acabar com as disciplinas que não interessam, tipo estudo acompanhado, que não é mais que fazer jogos na sala de aula, ou área de projecto. Os alunos deveriam ter Formação Cívica a sério, inclusive com palestras por parte das forças de segurança, para terem uma noção do que se passa lá fora. Apoiar os alunos com mais dificuldades, com tutoria, com sessões de estudo acompanhado, mas sério, na escola.
Encaminhem os alunos que não terão grande futuro académico para cursos profissionais válidos, de forma a termos profissionais competentes nas mais várias áreas. O país precisa de bons mecânicos, electricistas, etc., não só de "Doutores" e "Engenheiros".
Coloquem bons professores nas escolas. Com bons professores e boas condições de aprendizagem e de estudo para os alunos, os chumbos reduzem-se ou desaparecem sem terem que ser eliminados por imposição do Ministério e deste acidente que demonstra ser a ministra da Educação.


As metas de aprendizagem do ME


As metas de aprendizagem que os alunos do ensino básico devem atingir no final de cada ciclo serão divulgadas em Setembro, anunciou, em conferência de imprensa, a ministra da Educação, Isabel Alçada.
São "um instrumento de utilização voluntária" com o objectivo de fornecer aos professores, pais e alunos um referencial sobre as aprendizagens que são consideradas essenciais em cada nível de ensino.

As metas foram definidas por equipas de peritos contratados pelo Ministério da Educação, de cujo trabalho resultou um conjunto de nove documentos correspondendo a cada uma das disciplinas ou áreas disciplinares do ensino básico.
Estão agora a ser recolhidas as opiniões das associações de professores e sociedades científicas, um processo que deverá estar concluído até Setembro.
A Sociedade Portuguesa de Matemática já divulgou no início do mês um parecer onde se afirma que o documento respeitante a esta disciplina "tem limitações muito graves" e "não nos parecer que possa sequer constituir um elemento de partida para a elaboração das metas".

Ontem, o Ministério disponibilizou uma meta de Matemática: "usar o sistema de numeração decimal, incluindo o valor posicional de um algarismo". Fantástico! Estas sumidades acabam de enunciar uma meta que todos os docentes têm em mente quando elaboram as suas preparações de aulas.
Há programas no ensino básico, não há? Os bons professores sabem muito bem quais os conteúdos programáticos que são essenciais.

E se as metas de aprendizagem não resultarem, o que fará o ME? Duplica o número de elementos da equipa de “peritos” que ficarão mais um par de anos a elaborar mais uma dezena de documentos.
Que desperdício criar equipas com o objectivo de arranjar pluriemprego para boys e girls do partido no poder.
Há 36 anos que andamos nestas artimanhas e a situação vai manter-se até os professores repetirem o que fizeram a respeito do ECD, i.e. descerem a avenida da Liberdade exigindo o fim do facilitismo e da indisciplina.
Mas a exigência também terá de se estender aos próprios docentes obviamente. Pergunto: se houvesse exigência todos os docentes que entraram para os quadros após o 25 Abril estariam na carreira?

Comenta uma colega: "Só fazemos papéis e não temos tempo para ensinar nem preparar as aulas como deve ser". É absolutamente verdade. Mas não vejo 120 000 docentes a reivindicar que a burocracia seja substituída por avaliação de aulas por docentes universitários da área de leccionação (não por peritos do "Eduquês", obviamente).

sexta-feira, 30 de julho de 2010

In Memoriam A.F.



Na peça Arte, de Yasmina Reza, com Miguel Guilherme e José Pedro Gomes

quinta-feira, 29 de julho de 2010

A Nebulosa de Carina — a estrela WR 22


Nova imagem espectacular criada a partir de imagens obtidas, através de filtros vermelhos, verdes e azuis, com a câmara Wide Field Imager do telescópio MPG / ESO de 2,2 m do observatório La Silla, no Chile, e publicada hoje pelo ESO.
Mostra a brilhante e invulgar estrela WR 22 (no centro), que se encontra na parte exterior da dramática Nebulosa de Carina a partir da qual se formou, e a sua colorida vizinhança.



As estrelas maciças vivem rapidamente e morrem jovens. Alguns destes faróis estelares emitem radiação tão intensa, através de sua espessa atmosfera, no final da vida, que derramam matéria no espaço a uma taxa milhões de vezes maior que a das estrelas relativamente calmas como o Sol.
Estes objectos raros, muito quentes e maciços são conhecidos como estrelas Wolf-Rayet, a partir dos nomes dos dois astrónomos franceses que as identificaram em meados do século XIX.

Uma das estrelas mais maciças descobertas até agora chama-se WR 22, pertence a um sistema de estrelas duplas e a sua massa é, pelo menos, 70 vezes maior que a do Sol.
A estrela WR 22 está na constelação Quilha, no hemisfério celeste sul (a quilha do navio Argo de Jasão na mitologia grega). Apesar de a estrela se encontrar a mais de 5000 anos-luz da Terra é tão brilhante que pode ser vista a olho nu, sob boas condições de visibilidade.

É uma das muitas estrelas excepcionalmente brilhantes associadas à bela Nebulosa de Carina e a parte exterior desta vasta região de formação de estrelas, a sul da Via Láctea, é o fundo colorido desta imagem.
As cores subtis da rica tapeçaria de fundo resultam da interacção da intensa radiação ultravioleta emitida por estrelas quentes e maciças, incluindo a WR 22, com as imensas nuvens de gás, principalmente hidrogénio, a partir da qual se formaram.
A parte central deste enorme complexo de gás e poeira, onde se encontra a notável estrela Eta Carinae, está fora desta imagem mas pode ser vista na imagem abaixo:


Esta visão panorâmica da Nebulosa de Carina combina a nova imagem do campo em torno da estrela WR 22 (à direita) com a imagem anterior da região em torno da estrela Eta Carinae, no coração da nebulosa (à esquerda).

quarta-feira, 28 de julho de 2010

A Nebulosa de Carina — a estrela Eta Carinae


Esta imagem revela detalhes surpreendentes de uma das maiores e mais brilhantes nebulosas do céu, a Nebulosa de Carina (NGC 3372), onde ventos fortes e poderosas radiações emitidos por uma armada de estrelas maciças estão a criar o caos na enorme nuvem de gás e poeira a partir do qual nasceram as estrelas.
Foi produzida compondo imagens obtidas, através de seis filtros diferentes, pela câmara Wide Field Imager (WFI), ligada ao telescópio MPG / ESO (Max Planck Institute, ou Max Planck Gesellschaft em alemão / European Southern Observatory) do obervatório La Silla do ESO, no Chile, e publicada em Fevereiro de 2009.



A Nebulosa de Carina fica a cerca de 7500 anos-luz de distância, na constelação Quilha (latim Carina). Abrangendo cerca de 100 anos-luz, é quatro vezes maior do que a famosa Nebulosa de Orion e muito mais brilhante.
É uma região de intensa formação de estrelas com faixas escuras de poeira fria a manchar o gás brilhante da nebulosa que rodeia os numerosos agrupamentos de estrelas (em cima, à direita vê-se o Trumpler 14 e em baixo, à esquerda, o Collinder 228).
O seu brilho deve-se, principalmente, ao hidrogénio aquecido pela radiação intensa emitida pelas descomunais estrelas bebé. Quando a radiação ultravioleta interage com o hidrogénio produz-se radiação de cor vermelha e púrpura característica.
Contém mais de uma dezena de estrelas com, pelo menos, 50 a 100 vezes a massa do nosso Sol. Essas estrelas têm um tempo de vida muito curto, alguns milhões de anos, no máximo, um piscar de olhos se compararmos com os dez milhares de milhões de anos de tempo de vida do Sol.

Uma das mais impressionantes estrelas do Universo, a Eta Carinae, encontra-se nesta nebulosa (em baixo, à esquerda). É uma das estrelas mais maciças da nossa Via Láctea, acima de 100 vezes a massa do Sol e aproximadamente quatro milhões de vezes mais brilhante, sendo a estrela mais luminosa que se conhece.
Eta Carinae é altamente instável e propensa a explosões violentas, nomeadamente o falso evento super nova de 1842. Em apenas poucos anos, tornou-se a segunda estrela mais brilhante do céu nocturno e produziu quase tanta luz visível como uma explosão de super nova (a agonia usual de uma estrela maciça), mas sobreviveu.
É uma estrela binária: tem uma companheira que orbita em torno dela numa órbita elíptica, com um período de 5,5 anos. Ambas as estrelas produzem ventos fortes, que chocam, provocando fenómenos interessantes. Em meados de Janeiro de 2009, a companheira encontrava-se o mais próximo possível de Eta Carinae. Este evento, que pode fornecer uma visão única sobre a estrutura do vento das estrelas maciças, foi seguido por uma flotilha de instrumentos de vários telescópios do ESO.


Este mapa celeste mostra a localização da Nebulosa de Carina na constelação Quilha (é o quadrado verde no círculo vermelho à esquerda). Como é muito brilhante pode observar-se com pequenos telescópios e até a olho nu.

A destruição do ensino técnico profissional II


É com tristeza que se nota a ausência de cidadãos a comentar uma notícia onde mestre Américo Henriques, um especialista em relojoaria, alerta para a falta de qualidade do ensino técnico profissional, um tipo de ensino essencial, pois tem como objectivo a formação de técnicos intermédios qualificados que são indispensáveis para o crescimento da economia do país.
Mais uma vez fica claro que, se os políticos medíocres só defendem os seus interesses mesquinhos e nada se preocupam com o interesse do país, parece que a generalidade dos portugueses e o professorado, em particular, se regem pela mesma cartilha.
A única esperança é que entre a escassa meia dúzia de comentários, que uma notícia tão grave para a economia nacional suscitou, surge um de elevado nível que registamos:


Fernando Mora Ramos, Restelo/Lisboa. 28.07.2010 15:27
Mestre Américo


Felizmente nem todos neste país se passaram para o lado do conformismo e se venderam a interesses manipuladores. As declarações deste cidadão, cidadão por coragem cívica, lúcidas como são, deveriam provocar um sobressalto ético nos que nos governam e no próprio Presidente.
Quando da lógica de separação de poderes não resultam decisões justas e informadas, é porque ela não existe e, nos bastidores, poderes ocultos se sobrepõem aos democráticos. É o que estas declarações vêm de novo explicitar.
Infelizmente é uma voz a clamar no deserto, deserto que a bagunça portuguesa fertiliza. Quanto mais contradições informativas e ideológicas menos possível é escrutinar a verdade, são os tais muros, muros erguidos. E clamar no deserto acontece aos justos no meio de tanto imbróglio armado e da submissão dos poderes legais aos poderes fácticos.
Democracia? Qual? A da injustiça, a do compadrio, a da ignomínia, a dos poderosos donos dos meios mediáticos e da estratégia constante de simulação das condições de existência da própria democracia? Apesar de tudo a palavra do cidadão Américo é, no meio desta trampa geral, uma esperança e prova de que nem todos se venderam.


A destruição do ensino técnico profissional I


Américo Henriques, o casapiano que se tornou mestre de relojoaria e durante anos denunciou os abusos do ex-motorista Carlos Silvino sobre as crianças da instituição, já não trabalha na Casa Pia. Reformou-se.

"Um dos maiores baluartes da Casa Pia – que era o seu ensino técnico profissional – foi arrasado", disse, em entrevista à agência Lusa, mestre Américo Henriques, durante décadas responsável pelo ensino da relojoaria no Colégio Pina Manique, em Lisboa.
Esta especialidade foi uma das mais reconhecidas e os seus formandos constantemente solicitados por grandes empresas estrangeiras, sobretudo suíças.

A mudança chegou após o escândalo de pedofilia na Casa Pia. "Ao abdicar de uma portaria própria que regulamentava os seus cursos, e ao seguir um modelo do Ministério da Educação, a Casa Pia nivelou os seus cursos – que eram reconhecidamente melhores que a grande maioria dos cursos que se ministram neste país – por baixo", acrescentou.
Actualmente a Casa Pia segue o modelo geral (Decreto-lei 74/2004) que, para o mestre Américo, é "um plano de estudos muito incipiente, do ponto de vista da valia das competências técnicas e profissionais, que os alunos da Casa Pia podiam antes adquirir e agora não podem, até porque não têm tempo para isso".

O especialista em relojoaria explica:
"O plano de estudos de um curso técnico profissional prevê hoje, para a componente de formação técnica, 1600 horas no total, das quais 420 para formação em contexto de trabalho. (…) Isso quer dizer que os alunos de relojoaria vão trabalhar com uma formação de 1180 horas, o que é ridículo."
"Isto não é ensino, é quase uma brincadeira", afirmou, acrescentando que esta foi a principal razão para ter abandonado a instituição onde se formou e formou milhares de alunos: "Foi por isso que, depois de explicar às instâncias superiores que aquele esquema não servia as necessidades de formação de relojoaria, e não só, me aposentei, pois vi que não conseguia ajudar a dar a volta. Se ficasse, tornava-me conivente com um processo que condeno em absoluto."

Mestre Américo lembra que, antes desta reestruturação, os formandos recebiam mais do dobro do tempo: "O número de horas com que hoje atribuem o título de técnico de relojoaria é o que, há uns anos, dava um título de aprendiz de relojoeiro".
"Não se podem fazer milagres (...) a relojoaria implica um processo de aquisição de competências ao nível da micromotricidade que é lento, moroso, tem de ser progressivo e para o qual hoje não há tempo que chegue, de maneira nenhuma."

Lamenta que "as maiores vítimas" desta reestruturação no ensino técnico profissional da Casa Pia sejam os formandos: "Eles são os primeiros enganados, mas o mercado do trabalho não se consegue enganar por muito tempo."
E mestre Américo Henriques termina exprimindo os seus receios de que os alunos da Casa Pia, que "hoje já não têm de maneira nenhuma a formação técnica que antes tinham", comecem a não ser aceites no mercado de trabalho.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

O encerramento das escolas II - EB1 Várzea de Abrunhais


Diz a Resolução do Conselho de Ministros 44/2010:

"Serão encerradas aquelas escolas em que um só professor ensina, ao mesmo tempo, um número reduzido de alunos do 1.º ao 4.º ano e em que não existem as infra-estruturas adequadas, como cantina, biblioteca, ou equipamentos informáticos."

Ora a EB1 Várzea de Abrunhais tem um refeitório e, como está inserida numa freguesia rural, algumas crianças podem almoçar com as suas famílias. Não tem biblioteca, mas dispõe de um sistema de projecção constituído por quadro interactivo, videoprojector e computador e todas as crianças possuem computador com ligação à Net.

As actividades dos alunos desta escola estão documentadas na Net.
Comecemos pelos vídeos do ano lectivo 2008/2009, duas photostories, uma dos onze alunos dos 1º e 2º anos e outra dos treze alunos dos 3º e 4º anos:







Seguem-se as actividades relativas ao ano lectivo findo.
A primeira, uma visita ao campo no início do Outono é, de longe, a melhor de todas. No estado miserável em que se encontra o ensino, duvida-se que haja muitas escolas do 1º ciclo que tenham realizado uma actividade de nível similar. Segue-se uma actividade de Geometria, a única no domínio da Matemática, e depois uma peça de teatro:









Agora temos uma actividade sobre Alimentação e depois duas sobre o Ambiente com a particularidade da última introduzir a língua inglesa:









Os dois vídeos finais documentam uma visita das três melhores alunas à Microsoft, onde se vê as miúdas a brincar com um ecrã interactivo (touchscreen) e a fazerem de conta que são oradoras:







O que é que estas crianças aprenderam? Aprenderam a construir uma photostory: fazem um desenho, digitam pequenas frases, com alguns erros, no computador ou num cartaz, lêem-nas e depois tudo isto é gravado em vídeo e carregado no Youtube.
Estão muito avançadas no uso das Tecnologias da Informação e Comunicação, mesmo muito mais que as crianças de freguesias situadas nas grandes cidades.
Mas é aflitivo o vazio no domínio da Matemática: uma única (fraca) actividade de Geometria e nenhuma de Aritmética.


Se um docente adoptar sistematicamente pedagogias directivas, i. e. se for para o quadro debitar uma aula com os alunos do outro lado a ouvir, vai haver, sobretudo nesta idade, casos de abandono escolar. Mas os alunos que resistirem vão apreender a ler e a escrever correctamente, vão aprender as tabuadas das quatro operações elementares, a usá-las e a desenvolver o cálculo mental.
Se, no outro extremo, o docente enveredar completamente pelas pedagogias activas, ou seja, se distribuir os alunos por grupos dando-lhes computadores, ou jogos didácticos, para aprenderem brincando, no final do ano lectivo os alunos não adquiriram nem um décimo dos conteúdos programáticos do seu ano curricular.

Então qual é a solução?
Começar por cumprir a legislação que já exige, mesmo em regime de monodocência, o respeito por um horário com tempos lectivos para Português, Matemática, …
Em segundo lugar dosear os dois tipos de pedagogia dando 60% à primeira, ou seja, dentro de cada disciplina reservar 3 em cada 5 tempos para aula directiva, o que não é de modo algum excessivo quando se dispõe de um quadro interactivo: o docente, num minuto, pode gravar no seu computador o trabalho que os alunos façam no quadro e enviá-lo por correio electrónico para todos os alunos da turma, de modo a criar alguma interactividade.

Podia a docente escolher esta solução? Não, porque nenhum docente pode dar ao mesmo tempo, e na mesma sala, os conteúdos dos vários anos curriculares do primeiro ciclo.
Daí a exigência do número mínimo de 21 alunos que serão distribuídos por dois docentes, um ficando com alunos do 1º e 2º anos e o outro com o 3º e 4º anos.

Mas a docente executou o melhor que lhe era possível a política educativa de José Sócrates e Lurdes Rodrigues e ajudou a Microsoft a atingir os seus objectivos comerciais.
Tornou conhecida a escola de Várzea de Abrunhais, até fora de Portugal, e agora decidem fechá-la. Será que lhe vão dar um emprego na Microsoft, no ME, na FLAD ou, pelo menos, no novo centro escolar? Usaram um ser humano e agora descartam-no?

O encerramento das escolas I - EB1 Várzea de Abrunhais


Em 24 de Janeiro de 2010 anuncia-se ao país que uma escola portuguesa fora considerada pela Microsoft uma das escolas tecnologicamente mais Inovadoras do Mundo:





E no sítio da Microsoft - Destaques anteriores - pormenoriza-se:

"Programa Mundial Microsoft Escolas Inovadoras distingue EB1 Várzea de Abrunhais

Na sequência das candidaturas das Escolas EB1 Várzea de Abrunhais (Lamego) e da EB2,3 Nevogilde (Lousada) ao Programa Internacional Escolas Inovadoras, a Microsoft seleccionou a Escola EB1 Várzea de Abrunhais para fazer parte da rede Pathfinder

A Equipa de avaliadores, que incluiu membros do Conselho Consultivo do programa, Líderes Regionais Parceiros da Educação e colaboradores da Microsoft, começou por analisar 104 candidaturas de 41 países do Mundo e seleccionou 31 escolas para participar no nível Pathfinder do Programa Escolas Inovadoras.

A EB1 Várzea de Abrunhais irá, a partir de agora, fazer parte de uma comunidade de elite de escolas inovadoras de todo o Mundo, onde a Microsoft irá trabalhar em conjunto para contribuir para a transformação da visão de ensino.

Apesar da candidatura da Escola EB2,3 de Nevogilde não ter sido seleccionada, a equipa de avaliadores reconhece o seu mérito e o programa Escolas Inovadoras irá convidá-la a participar noutros desafios.
"


A docente e coordenadora da escola, Maria do Carmo Leitão colaborou, em 26 de Maio de 2009, num Workshop da 5ª Conferência Professores Inovadores promovida pela Microsoft e que decorreu no ISCTE, onde as Conclusões e Encerramento estiveram a cargo de João Trocado da Mata (licenciado em Sociologia pelo ISCTE) então coordenador do Plano Tecnológico da Educação (PTE) e Director-Geral do Gabinete de Estatísticas e Planeamento da Educação (GEPE) e actualmente Secretário de Estado da Educação.

Recentemente, em 18 de Maio de 2010, a docente participou, novamente no auditório do ISCTE, na 6ª Conferência Professores Inovadores bem documentada na Net:




Vista do auditório do ISCTE, com Carmo Leitão em primeiro plano.





Fazendo a sua exposição.

Com Alexandre Ventura, Secretário de Estado Adjunto e da Educação







Exibindo a placa de vencedora do Concurso Mundial de Escolas Inovadoras







Dois meses depois, inesperadamente, surge a notícia do encerramento da escola:





Um reparo para a atitude da aluna que se manifestou contra a ida para o centro de escolas, em contraste com a firmeza da que concorda e que realça a sua insatisfação com o tamanho da sala de trabalho. A primeira poderá ser um caso futuro de insucesso escolar pois vai emocionalmente fragilizada.
Repare-se também na maneira como a docente se exprime.
E que fique muito claro: só são encerradas as escolas cujo fecho obteve a concordância do presidente da câmara municipal.

O encerramento da escola básica do 1º ciclo e jardim-de-infância de Várzea de Abrunhais merece, portanto, uma reflexão especial.

sábado, 24 de julho de 2010

Criação dos agrupamentos verticais VI


Por detrás de muitos comentários desfavoráveis à notícia Governo encerra 701 escolas e transfere 10 mil alunos estão duas questões que não se podem escamotear.

A primeira diz respeito aos 701 professores do 1º ciclo do ensino básico, e mais alguns educadores da educação pré-escolar, que vão ser empurrados para o desemprego pela resolução 44/2010.
Com a constituição dos agrupamentos de escolas básicas passámos a contactar com estes professores e sabemos que, se alguns são muito competentes, outros há que não têm conhecimentos científicos para a docência.
Infelizmente a avaliação do desempenho foi uma farsa e não distinguiu o trigo do joio. Trata-se de um problema de mentalidade dos portugueses que, naturalmente, se transfere para os políticos que elegemos: avalia-se por compadrio, muito raramente por mérito.
Por isso acreditamos que o fecho destas escolas vai atirar muito bons profissionais para caixas de hipermercado. É um crime contra as pessoas e a economia.
Uma palavra para os incompetentes, porque foram enganados. Os políticos criaram Escolas Superiores de Educação, no ensino superior politécnico, a torto e a direito, sem qualidade, para aí se poderem empregar quando os respectivos partidos estão na oposição. E atraíram alunos para elas abrindo vagas que, dada a contínua diminuição da taxa de natalidade, excediam as necessidades do país. Foi outro crime.

A segunda questão diz respeito às direcções dos agrupamentos que foram afastadas. Ao contrário do que a resolução 44/2010 parece sugerir, não é escolhido para director da Comissão Administrativa Provisória o director da escola secundária, mas quem tiver cartão do partido socialista.
Serão trágicas as consequências que daí advirão para o ensino porque ninguém gosta de ser ultrapassado por incompetentes. A guerra surda que se avizinha no ano escolar 2010/2011 vai destronar a guerra do ano 2008/2009.



Declaração de interesses: docente há mais de três décadas, actualmente quadro de agrupamento de escolas básicas, não pertence à direcção, nem sequer ao grupo de compadrio do agrupamento, bem pelo contrário.

1984 - nova versão




Mais uma pausa nos agrupamentos verticais. Desta vez para dar lugar a um comentário humorístico que nos recorda a faceta orweliana dos políticos que elegemos e o seu apego à mediocridade



João de Lima . 24.07.2010 11:41
Via Facebook
Ainda os tera-agrupamentos

Nos tera-agrupamentos poderão existir, dadas as economias feitas com este sistema, quadros interactivos em todas as salas, cada aluno poderá ter um terminal e uma máquina que faz "pim" e que ninguém sabe para que serve.
Haverá um software especializado que detectará o enfado nas aulas; quando este exceder a metade dos alunos, ligar-se-á automaticamente ao MTV.
Os alunos não terão que escrever, só terão que carregar em botões. Periodicamente este software fará testes de múltipla escolha aos alunos e, com esta informação, irá seleccionando os alunos distribuindo-os por salas de atrasados, normais e muito bons (estes são os que acertam alguma coisa). As salas não terão estes títulos antes se chamando sala azul, verde e amarela.
Todos os acontecimentos referentes ao comportamentos dos alunos na aula e aos seus movimentos serão transmitidos por RSS para que os Pais possam saber com todo o detalhe a vida íntima dos seus filhos.
No final da escolaridade este software enviará para as universidades os normais e os muito bons, inscreverá no desemprego os atrasados e dar-lhes-á um diploma.


sexta-feira, 23 de julho de 2010

Criação de agrupamentos verticais V


Noticia o Público, em Mais de 700 escolas do primeiro ciclo já não abrem em Setembro, que o processo de agregação de unidades orgânicas teve como resultado a criação de 84 novas unidades, com uma média de 1700 estudantes cada.
Na Direcção Regional de Educação do Centro são criados 28 novos agrupamentos, 24 na de Lisboa e Vale do Tejo, 19 no Norte, 10 no Algarve e 3 no Alentejo.

"A agregação de unidades de gestão não implica o encerramento de escolas nem o encaminhamento de alunos para outros estabelecimentos de ensino. Antes pretende adequar a rede aos 12 anos de escolaridade, para que numa unidade de gestão estejam integrados todos os níveis de ensino, sem fracturas no momento em que as crianças e jovens transitam de ciclo de ensino ou de escola", justifica o ME. E acrescenta que outro objectivo desta medida é centralizar "num único pólo" a gestão "administrativa e financeira e o próprio projecto educativo".

Esquece-se o ME de acrescentar que aproveitou o ensejo para politizar completamente as escolas, tendo eliminado os directores que não pertenciam ao rebanho socialista e enfiado nas Comissões Administrativas Provisórias mais alguns boys e girls rosas.

Seguem-se dois comentários à notícia que focam problemas ligados à reestruturação em curso da rede escolar:


Joaquim Ferreira, Braga. 23.07.2010 11:44
Incrível...
Vivemos no tempo da politização das Escolas. Domesticar os alunos. Retirar as crianças do enquadramento familiar, do sítio onde criam laços é meio caminho para a anomia, para a destruição dos laços familiares e imposição do socialismo.
Só com o combate aos incêndios, a desertificação do interior já custa muito cara ao país. Mas o Governo lá sabe de quem são os helicópteros... Os amigos do partido têm que ter uma nova oportunidade...
Temos o dever de denunciar... Por isso visite o blogue "Não Calarei A Minha Voz... Até Que O Teclado Se Rompa!" e os textos que nele se inscrevem. Em "Autonomia Conquistada Vs Autonomia Enquistada" temos o processo de destruição das Escolas Portuguesas... Toda a evolução que se passou desde 2003 estava prevista.
Pouco a pouco se foram destruindo as unidades orgânicas até se chegar ao que se pretende: nomear os directores entre os caciques do partido. Já faltou mais. Os MEGA-agrupamentos que prevíamos estão agora transformados em HIPER-Agrupamentos. Os salários dos seus gestores começam a ser cobiçados. E lá se foi a gestão democrática inventada pelos Socialistas para eliminar as Delegações Escolares...



Rui Carlos, Castelo Branco. 23.07.2010 12:51
ERRADO!
Caros comentadores, experimentem saber a opinião de quem já sofreu com o fechar da escola e a concentração dos alunos todos numa escola mais distante. Não tem nada de negativo, passa-se de uma escola sem condições com 3 a 10 alunos para escolas modernas, com cantina, ATL, transporte. Isto é muito importante para a interacção e crescimento das crianças. Não fogem dos laços familiares porque os pais estão no trabalho, ganham sim mais contacto com outras crianças, ajudando ao desenvolvimento das mesmas. Não vejam só pontos negativos no país onde vivem.
Aprendam com os espanhóis. Quem já lá viveu pode dizer que são um país bem mais atrasado que o nosso, só que têm uma grande diferença: têm um ego do tamanho do mundo, acham-se os maiores e os melhores. Pesquisem na Internet pelas localidades que já tiveram esta reeestruturação na educação e vejam a opinião deles.



(Este comentário contém um lapso: as escolas encerradas podem ter 20 alunos)

Suite sinfónica Lord of the Rings - Hobbits shire



O tema Hobbits shire da suite sinfónica (e filme) Lord of the Rings estava no youtube, mas descobri-o em visita ao Zénite.

Trouxe-o para aqui para limpar do espírito a porcaria que o ME está a fazer com os agrupamentos verticais: afinal o objectivo não é melhorar a gestão dos agrupamentos de escolas básicas mas, antes, passar a direcção das escolas secundárias para o quintal do ps.



quinta-feira, 22 de julho de 2010

Criação de agrupamentos verticais IV


Lê-se na resolução 44/2010:

"(…) a presente resolução estabelece orientações para o reordenamento da rede escolar, com vista a garantir três objectivos. Em primeiro lugar, visa -se adaptar a rede escolar ao objectivo de uma escolaridade de 12 anos para todos os alunos. Em segundo lugar, pretende -se adequar a dimensão e as condições das escolas à promoção do sucesso escolar e ao combate ao abandono. E, finalmente, em terceiro lugar, promover a racionalização dos agrupamentos de escolas, de modo a favorecer o desenvolvimento de um projecto educativo comum, articulando níveis e ciclos de ensino distintos.
(…) Assim, determina -se que as escolas do 1.º ciclo do ensino básico devem funcionar com, pelo menos, 21 alunos.
(…) Deste modo, serão encerradas aquelas escolas em que um só professor ensina, ao mesmo tempo, um número reduzido de alunos do 1.º ao 4.º ano e em que não existem as infra-estruturas adequadas, como cantina, biblioteca, ou equipamentos informáticos.
"

Em princípio nada a contrapor.
E diz-se, em princípio, porque não se pode confiar em políticos e afins, gente interesseira que disfarça a sua cupidez por detrás de enunciados de bons objectivos.
E a resolução prossegue com a criação dos agrupamentos verticais de escolas:

"Estabelecer que a sede do agrupamento de escolas deve funcionar num estabelecimento público de ensino em que se leccione o ensino secundário ou, em alternativa, noutro que não leccione o ensino secundário, sempre que tal permita assegurar:
a) Que o agrupamento não exceda a dimensão adequada ao desenvolvimento do projecto educativo;
b) Uma gestão mais eficaz do agrupamento de escolas; ou
c) Uma melhor integração das escolas nas comunidades que servem ou na interligação do ensino e das actividades económicas, sociais, culturais e científicas.
"

Novamente parece que estamos perante uma medida a aplaudir porque os quadros das escolas secundárias foram preenchidos, em geral, com licenciados pelo ensino universitário público enquanto os das escolas básicas têm licenciados pelo ensino politécnico e até pessoas com diplomas sem equivalência a licenciatura.

Parece, mas não é.
Começam a chegar ao conhecimento dos docentes novas de que, afinal, o objectivo não é melhorar a gestão dos agrupamentos de escolas básicas mas, antes, passar a direcção das escolas secundárias para o quintal socialista.

Um dos casos, já confirmado por colegas, está a passar-se no concelho do Barreiro com o agrupamento vertical, decidido pela tutela, entre a escola secundária Augusto Cabrita e o agrupamento de escolas Padre Abílio Mendes (AEPAM). Acaba de ser nomeada como directora da Comissão Administrativa Provisória do agrupamento vertical a directora do AEPAM cujo único mérito conhecido é pertencer à agência local do PS.
Já foram abertas as hostilidades entre os docentes de ambas as escolas e adivinha-se o clima bélico em que irá decorrer o ano escolar 2010/2011.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Plano inclinado XXXV - Convulsões recentes nas escolas públicas nos últimos três anos. Professora Rosário Gama






A escola pública pode ser de boa qualidade se os intervenientes assim o quiserem e se a tutela deixar.

Rosário Gama, directora da Escola Secundária Infanta D. Maria (ESIDM), em Coimbra.



[A ESIDM] é uma escola em que uma pessoa entra e vê que há ali uma direcção. As coisas não estão ao acaso, os miúdos não estão a correr pelos corredores durante as horas de aulas, as pessoas respondem às perguntas. (...) e existe um nível de exigência dos professores que é muito grande. (...)
A direcção da escola é uma coisa fundamental. (...)

O professor tem de ser exigente à revelia do ministério. (...)

Todas as contribuições da Sociedade Portuguesa de Matemática são liminarmente rejeitadas [pelo ME].

Nuno Crato

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Criação de agrupamentos verticais III


Com a unificação entre os agrupamentos de escolas básicas e de escolas secundárias já aprovada pelo Governo, as comissões administrativas que vão gerir estes agrupamentos globais (chamados verticais) entram em funções no próximo dia 1 de Agosto.

Esta união de escolas procura assegurar que os alunos façam o seu percurso escolar sem sofrerem descontinuidades, pelo que não se compreende a hostilidade das associações de pais.
Certamente estão a ser manipulados por quem não só vai perder suplementos remuneratórios mas também regressar à condição de professores, i.e. as direcções dos agrupamentos de escolas básicas.

Também o Conselho das Escolas já disse discordar dos agrupamentos verticais, à semelhança da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas.
Tal discordância é que não surpreende. Como a escolaridade obrigatória se restringia a 9 anos há, obviamente, mais agrupamentos de escolas básicas do que de escolas secundárias.

Contra esta avalanche de críticas destrutivas, a saudável ironia de um colega docente do 1º ciclo:


José Ferreira, Portugal. 09.07.2010 18:44
Confap e os directores


Vai diminuir o número de agrupamentos? Cada agrupamento tem uma associação de pais? Vai diminuir a comparticipação a directores e às respectivas associações de pais? Os professores vão continuar a leccionar? Os alunos vão continuar a ir às escolas? Vai existir um único projecto educativo?
As EB2,3 vão perder o seu quintal? Os professores das EB2,3 vão vivenciar o que já vivenciaram os professores do 1º CEB e educadores?
As escolas vão ficar desumanizadas porque os directores vão deixar de dedicar tempo aos alunos? Os departamentos vão começar a tratar unicamente do que devem? Os conselhos de disciplina também? Os professores que estão nos conselhos gerais vão ficar sem poderem reunir 3 vezes por ano? Os professores de um agrupamento alteram as suas práticas pedagógicas porque conhecem os Projectos Educativos?
Há professores que têm horas para projectos que ninguém conhece? As reuniões de pais têm uma grande afluência? A maioria dos pais que pertencem a essas associações estão somente preocupados com os seus filhos e, desta forma, podem chegar mais facilmente a quem desejam? Expliquem-me, não estou a perceber nada...