Na sua análise, o Ministério da Educação apenas reflecte sobre os resultados dos exames realizados pelos alunos internos, ou seja, os que frequentam as aulas o ano lectivo inteiro e obtêm aproveitamento para ir a exame.
Ora há um significativo número de alunos que anulam a matrícula por terem baixo aproveitamento, ou frequentam cursos profissionais, ou estudam por sua conta e risco. Todos estes alunos são externos ao sistema de ensino e autopropõem-se a exame.
Encontrámos um interessante estudo da distribuição das classificações de exame por disciplina onde se pode comparar os resultados dos examinandos internos e externos. Conclui-se que em línguas, ao nível do aprofundamento, estes examinandos autopropostos apresentam muito melhores resultados que os examinandos internos mas em Matemática e Ciências Experimentais passa-se justamente o oposto.
Uma cabal demonstração de que o ensino da Matemática e das disciplinas do domínio das Ciências Experimentais exige o trabalho de professores e equipamento só acessível em escolas e, portanto, o empenhamento dos governos para se obter bons resultados.
Regressemos à análise do Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE). Na prova de Matemática A, realizada no 12.º ano, a média dos alunos internos desceu, em relação a 2010, de 12,2 para 10,6. No exame de Português a descida ficou pelos 14 pontos, mas para uma média negativa: 9,6.
O director do GAVE, Hélder de Sousa, supõe que a variação registada na disciplina de Português "possa reflectir uma alteração da tipologia de itens introduzida no Grupo II da prova, relativo ao Funcionamento da Língua, que traduz um acréscimo de exigência neste domínio particular da aprendizagem da língua materna".
A presidente da Associação de Professores de Português (APP), Edviges Ferreira, que foi correctora de provas, explica que neste grupo, a partir de um texto de José Saramago, pedia-se aos alunos que identificassem classes de palavras, funções sintácticas e classificassem orações. Nos exames dos anos anteriores não foram abordados estes conteúdos. E conclui: "Pelos vistos, os alunos estavam um bocado esquecidos. Já não sabiam identificar um complemento directo ou um sujeito."
Quanto aos resultados do exame de Matemática A, Miguel Abreu, presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, afirmou: "Ninguém gosta de ver aumentar o número de notas negativas, mas pior seria continuar a ter dados enganadores. A descida era previsível tendo em conta que houve um aumento no grau de exigência da prova. Os resultados traduzem de maneira muito mais fiável o nível de conhecimentos dos alunos."
A presidente da Associação de Professores de Matemática, Elsa Barbosa, realçou que a média dos alunos internos é a que espelha o trabalho que é desenvolvido nas aulas e esta foi positiva. Considera que a descida relativamente ao ano passado "não é significativa" porque pode reflectir uma novidade introduzida no exame deste ano: "Existe um item que foi elaborado com o objectivo de conseguir estratificar melhor os alunos, de modo a permitir distinguir os alunos de excelência."
Efectivamente o grupo II-1 com duas questões sobre os números complexos tinha um nível de exigência superior e só alunos excelentes teriam competência para abordar a segunda questão. Mas o objectivo dos exames é justamente fazer uma distribuição dos alunos por grau de desenvolvimento de competências.
Uma nota final. Os exames têm apenas um peso de 30% na classificação final dos alunos mas, mesmo assim, 20% dos alunos ficaram reprovados nesta disciplina, a maior das percentagens de reprovações. É óbvio que os docentes de Matemática têm de rever os seus critérios de avaliação e ser mais rigorosos nas área de aquisição de conhecimentos.
O quadro seguinte (clique para aumentar) foi elaborado a partir do Relatório dos exames nacionais de 2010, publicado há uma semana pelo GAVE, e dos resultados dos exames do Ensino Secundário de 2011 hoje publicados pelo DN.
Remetemos os encarregados de educação que desejam conhecer os resultados dos seus educandos para o website do respectivo agrupamento de escolas ou escola não agrupada.
O leitor que deseje conhecer os enunciados e os critérios de classificação dos exames dos ensinos básico e secundário de 2011, pode consultar esta página.
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