O governo de José Sócrates perdeu as eleições em 5 de Junho mas nestes quatro meses, apesar do empenho do ministro Nuno Crato, o ensino pouco mudou.
O Ministério da Educação fez uma rápida reorganização curricular em que
- eliminou a Área de projecto, uma área curricular não disciplinar que mantinha dois professores na sala de aula para vigiar uma turma de alunos que se dedicava a fazer trabalhos sobre temas gerais — alimentação, droga, futebol, moda, ... — pelo método de navegação na Internet seguida de ‘copiar&colar’ e impressão a cores na fotocopiadora da Biblioteca/Centro de recursos;
- diminuiu o número de tempos lectivos reservados às outras áreas não disciplinares;
- aumentou o número de tempos lectivos em Português e Matemática;
- substituiu as provas de aferição do 6º ano por provas de exames nacionais.
No 3º ciclo desapareceram 2 tempos lectivos de 45 minutos, um no 7º e outro no 8º ano, tanto nos horários dos alunos como dos docentes.
Se reduziu em alguns milhares o número de contratos docentes, foi porque
- acabou com a redução de horário dos avaliadores internos no modelo de avaliação docente;
- acabou com a redução de horário dos professores que prestavam serviço nas cinco Direcções Regionais de Educação no âmbito da avaliação docente;
- não autorizou a criação de novas turmas no Novas Oportunidades (NO), um curso que diplomava mas não qualificava os alunos adultos.
Não deve surpreender, portanto, que o ministro Nuno Crato tencione fazer agora uma reorganização curricular mais profunda que leve a uma diminuição dos tempos lectivos dos alunos.
A separação de Educação Visual e Tecnológica (EVT) em duas componentes — Educação Visual e Educação Tecnológica — é bem-vinda porque não é mais difícil leccionar EVT que qualquer outra disciplina, não se justificando a existência do par pedagógico.
Os alunos só têm Introdução às Tecnologias de Informação e Comunicação no 9º ano. Começam, porém, a usar o computador como brinquedo durante a infância, demonstrando uma invejável velocidade de digitação quando chegam ao 5º ano. Nessa altura, o uso dos processadores de texto é estimulado pelos professores de Línguas e Humanidades e a folha de cálculo pelos docentes de Matemática. Se ITIC desaparecer, nem se vai notar.
Entretanto os directores das escolas continuam a defender a ideologia socialista, a impor a elaboração de documentos burocráticos que afasta os professores da preparação das aulas e a atrofiar os alunos entretendo-os com actividades de animação cultural, em geral exteriores à escola e com custos financeiros significativos para as famílias, que se mantêm no modelo de avaliação docente apesar do ministro Nuno Crato querer os professores concentrados nas aprendizagens dos alunos.
Mas na última reunião do departamento de Matemática e Ciências Experimentais vimos os docentes do quadro que se encontram nos primeiros escalões criticar o facto do coordenador do departamento e dos docentes de escalões mais elevados só se terem debruçado sobre as metas da ex-ministra Isabel Alçada, as actividades do projecto de escola e a criação de novas turmas do curso NO, em vez de se preocuparem com o ensino dos alunos.
Foram eles que propuseram a organização do espaço esola, com a criação de um ambiente de trabalho dentro do edifício da escola, sem correrias nos corredores e ruído durante o período das aulas, em oposição ao ambiente de brincadeira, natural e bem-vindo durante os intervalos, nos pátios de recreio.
Foram eles que salientaram a importância das aprendizagens em Português na interpretação dos textos usados em todas as disciplinas e da Matemática no desenvolvimento da capacidade de abstracção.
Foram eles que alertaram para o facto de a economia só principiar a crescer quando as escolas começarem a lançar no mercado do trabalho alunos que desenvolveram hábitos de trabalho e que conseguem ler, escrever e interpretar textos, possuem conhecimentos de História e Geografia, sabem matematizar problemas da vida quotidiana e assimilaram noções elementares de Biologia, Química e Física.
Como se pode resolver este antagonismo?
Criando provas de avaliação de conhecimentos científicos e pedagógicos não só no acesso à carreira docente, mas também no acesso às carreiras de director de agrupamento de escolas, de inspector com funções administrativas e de avaliador externo.
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